segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A intimidade das ideias, por Filipa Melo



Um artista plástico e dois psicanalistas conversam sobre a arte, a memória e a vida. Um testemunho raro.

Vasco Araújo diz: «O mundo é feito de coisas invisíveis que quando se mostram são extraordinárias. A arte é como se fosse uma flecha que nos atiram, para nos provocar uma direcção, no sentido da observação excessiva de um objecto». A prova da afirmação é feita com sucesso em Para Grandes Solidões, Magníficos Espelhos, livro que documenta uma série de conversas entre o artista plástico e a psicanalista Carmo Sousa Lima (com vasta prática clínica, e como formadora tem orientado seminários sobre arte e psicanálise), também com a participação do psicanalista João Sousa Monteiro (co-autor de programas de rdio j﷽﷽﷽﷽﷽nteiro (co-autor de programas de rm vasta prvocar uma direç aqui no Royal, na minha frente. Passou! Ia estender a ma cádio de referência sobre psicologia e educação). Numa permuta muito pouco comum entre artistas ou intelectuais portugueses, porque delicada e generosa e não competitiva ou exibicionista, duas (depois três) sensibilidades agudíssimas e muito bem apetrechadas partilham experiências e memórias pessoais e perspectivas sobre a arte e a vida.
Através da proximidade conquistada entre os autores, abre-se também para o leitor uma janela imediata e original sobre a prática clínica e a criação artística. Vasco Araújo, na sua consistente carreira internacional tem usado diversos dispositivos e suportes (escultura, instalação, fotografia, performance, sobretudo vídeo) para desenvolver um discurso e uma poética muito singulares. A reflexão conjunta sobre algumas das suas obras ocupa uma boa parte do diálogo com Carmo Sousa Lima, mas também nestes casos o atractivo maior é o fluxo muito livre de ideias, impressões, memórias e associações.
Acompanhamos de uma hipótese teórica inovadora e das histórias, quase contos, da infância ou da experiência clínica da psicanalista às reflexões conceptuais do artista e ao posicionamento dos três intervenientes perante a estética. Para Grandes Solidões, Magníficos Espelhos desenvolve-se como um espaço de fluente observação e conhecimento dos seres e das coisas. Coisa rara hoje em dia, mostra-nos a possibilidade do encontro e da intimidade no espaço das ideias. 

Filipa Melo, Sol, 20-XII-2013

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