quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023
O Plantador de Malata
O Plantador de Malata
Mulheres na Vida (Contos e Novelas)
«Só existe um modo de exprimir uma coisa, uma só palavra para dizê-la, um só adjectivo para qualificá-la e um só verbo para animá-la» — disse Flaubert a Maupassant, e ele cumpriu-o bem melhor do que o seu mestre.
É fácil, num escritor que deixou publicadas três centenas de contos e narrativas breves, organizar grupos dominados por um tema específico, um género literário, uma qualquer maneira de compreender os homens que ele mais de perto conheceu. E se a escolha preferiu aqui seis histórias onde a prostituição feminina intervém com decisivo papel, deve-se ao facto de pertencerem a este «grupo» três textos entre os mais prestigiados do autor: Mademoiselle Fifi, A Casa Tellier, Bola de Sebo; e deve-se ainda à circunstância, não menos importante, de o próprio autor durante a sua vida adulta ter sido um exacerbado sensual, um coleccionador de trezentas amantes — como ele se classificou — de ter morrido precocemente, vitimado por um mal adquirido em noites de delírio, entregue sem temores à promiscuidade dos bordéis de Paris.
[…]
Guy de Maupassant, com uma vida de apenas quarenta e três anos, ficou com representação larga na literatura francesa. As suas três centenas de contos e novelas são hoje constantemente reeditadas, bem mais do que os livros de outros contemporâneos seus que tantos defeitos lhe encontraram, que ao sabor de uma tão persistente má vontade o censuraram; e têm a companhia de seis romances, dois deles — Une vie (1883) e Bel-Ami (1885) — que podem considerar-se de uma essencial representação entre os exemplos mais marcantes do naturalismo então liderado pela altiva superioridade do «mestre» Émile Zola.
Alberto Savinio, autor de um nada benevolente e muito injusto Maupassant e «l’Altro», faz na sua diatribe uma descoberta inquestionável: «A vida de Maupassant parece-se, ela própria, com uma novela à Maupassant.»
[Aníbal Fernandes]
Et sic in infinitum
Através destas três práticas o artista tem produzido conglomerados de obras em que explora inúmeras variações a partir de formas básicas e arquetípicas, que são submetidas a experiências de derivação e reconversão que inevitavelmente debilitam os seus princípios estáveis e lógicos e testam a nossa perceptibilidade relativamente ao que nos rodeia e nos habita enquanto seres impregnados de visualidade. Por outras palavras, somos frequentemente conduzidos por um eixo de disquisições estéticas e conceptuais, para níveis propensos à aporia, à oscilação, ao paradoxo, que desaconselham o estreitamento perceptivo suscitado pela clareza e objectividade genericamente associadas à geometria.
É igualmente manifesto o interesse de José Pedro Croft pelos aspectos generativos da criação artística, ou seja, pelas potencialidades imanentes a cada meio, material ou forma, enquanto faculdades que contribuem para a singularidade de cada obra, mas também como remissões para a complexidade de que se reveste a experiência do mundo e a vasteza de coisas e dinâmicas espaciais e temporais que o constituem.
Este livro foi publicado por ocasião da exposição Et sic in infinitum, de José Pedro Croft, com curadoria de Sérgio Mah, realizada na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, com o apoio da Fundação Carmona e Costa, de 26 de Janeiro a 28 de Maio de 2023.
Antropologia da Vida Material – Escritos sobre Espaços, Coisas e Pessoas
Antropologia da Vida Material – Escritos sobre
Espaços, Coisas e Pessoas
Filomena Silvano
Alexandre Melo: «O mal ou o bem que as coisas nos podem fazer e podemos fazer com as coisas não é redutível a simplismos binários.»
Pars Orientalis – Estudos sobre Escrita e Viagem
Em que termos nos habituámos a distinguir o Oriente do Ocidente? Quais os critérios que nos impelem a compor instantaneamente estas duas ideias? É natural que nos satisfaça, numa primeira tentativa de classificação, o critério geográfico — no fundo, parte da nossa formação está filiada na ideia de que Ocidente e Oriente constituem dois espaços físicos distintos. Mas a simples separação entre Europa e Ásia (como sendo o Ocidente e o Oriente, respectivamente) fica desde logo condenada ao fracasso: cabem na nossa ideia de Ocidente vários espaços geográficos que se encontram fora da Europa (como os Estados Unidos, o Canadá ou a Austrália) e, por sua vez, a nossa ideia de Oriente não exclui países legitimamente europeus (como a Turquia) ou norte-africanos (como a Tunísia, a Líbia ou Marrocos).
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023
Apresentação de «Demandas de Manchas», de Carlos Corais
A Sequência dos Dias – Escultura
Júlio Pomar – Pintura de Histórias
Júlio Pomar – Pintura de Histórias
Júlio Pomar
Por volta de 1982-85 (tempo dos azulejos para o Metro de Lisboa e das variações sobre Edgar Allan Poe e a Mensagem de Fernando Pessoa) começou, de facto, um novo capítulo da obra de Júlio Pomar, em que se acentua ainda mais a importância dos temas literários e aparecem as figuras da mitologia clássica, com séries dedicadas ao Rapto de Europa, a Adão e Eva, Diana e Acteon, Salomé, Ulisses e as Sereias, etc. É um grande «período tardio», como disse Hellmut Wohl na exposição «A Comédia Humana», em 2004, no CCB, no qual Pomar volta a uma pintura gestual, em obras de grande formato, onde estão presentes o humor, a alegria e a liberdade, de viver e de pintar, a intenção crítica e a invenção narrativa e pictural. A pintura de Pomar torna-se ficção pictural, teatro, comédia e drama, transformando as histórias tradicionais em versões próprias, onde se exploram a constante metamorfose das figuras e a aceitação do acaso. O «estilo tardio» é de facto uma nova maturidade (e poder-se-ia também dizer uma nova juventude, pela sua energia e irreverência). Abordando os mitos históricos e outras narrativas, Pomar reencontra-se com a Pintura de História e cria uma original e poderosa PINTURA DE HISTÓRIAS, repensando o estatuto da figura e da narração, à distância da ilustração que tantas vezes o ocupou. Assim, o título da exposição [e deste livro] remete quer para a revisitação da História da Arte e dos seus mestres (Rubens, Poussin, Vermeer), quer para histórias inventadas e/ou recriadas pelo pintor, podendo dizer-se que aí reside uma das componentes conceptuais desta produção. A invenção de histórias faz parte da recriação e continuidade da História e a sua reescrita de um alargamento necessário à actualização histórica. Por outras palavras, os mitos sobrevivem ao tempo através do recontar de histórias, e Pomar, não pretendendo descartar-se do passado, parece apropriar-se dele para o apresentar em novas versões ou possibilidades pictóricas, potenciando a ambiguidade e o enigma inerente à figura, através do gesto e da abordagem abstracta.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023
O Hóspede da Casa do Infinito
O Hóspede da Casa do Infinito
Avelino Sá
João Barrento: «No universo de Avelino Sá, enveredamos sempre por caminhos que nos levam para espaços culturais distantes daqueles que nos são mais familiares, mas que são terreno fértil para interrogações e para o autoconhecimento.»
Avelino Sá define o seu universo conceptual, os seus sujeitos/objectos de relação através de uma «comunidade de vagabundos», como gosta de lhes chamar, que partilham entre si características como a humildade ou a generosidade: Friedrich Hölderlin, Robert Walser, Matsuo Bashō, Álvaro Lapa, personagens da sombra, da meia-luz, com os quais partilha afinidades electivas e que voluntariamente se arredaram do espectáculo luminoso da arte e da cultura, «porque a luz intensa às vezes também cega».
[Carlos Antunes]
O trabalho de criação de Avelino Sá elabora-se, desde há longos e produtivos anos, a partir de um intenso e profícuo diálogo com a Poesia. Não se trata, ainda assim, e neste aspecto todo o rigor é sempre pouco, de proceder ao que seria um exercício mais no âmbito daquilo a que a teoria da literatura designa como centrando-se numa relação de ekphrasis, ou ecfrástica, nem, muito menos, de restabelecer os termos da famosa máxima horaciana da Ut pictura poesis, longamente comentada ao longo dos séculos.
Bem pelo contrário, na pintura do artista, aquilo de que se trata é justamente de procurar perceber, através das formas, gestos e matéria próprios da pintura, de que modo se pode reconstituir um espaço e um tempo que antes se deram a compreender pela poesia. Não se trata, portanto, de traduzir uma expressão na outra, ou de a comentar, como é próprio da ekphrasis, mas, ao contrário, de simplesmente transferir um certo sentimento, colhido numa expressão fechada e com leis próprias como a poesia, para uma outra expressão, igualmente fechada e com as suas próprias e distintas leis como a pintura.
[Bernardo Pinto de Almeida]
Demandas de Manchas
Demandas de Manchas
Carlos Corais
(Novos) Media (Novas) Feminilidades – Blogosfera Feminina Portuguesa
(Novos) Media (Novas) Feminilidades
– Blogosfera Feminina Portuguesa
Susana Wichels
Duffy: «As carreiras nas redes sociais prometem autonomia criativa, horário flexível e a ideia glamorosa de fama e fortuna. […] Hoje, as aspirantes criativas acreditam estar apenas a um post de distância do seu #dreamjob.»
Retórica Mediatizada – A Comunicação Persuasiva através dos Media
Retórica Mediatizada – A Comunicação
Persuasiva através dos Media
Beatriz Gil, Enio Soares, Fabrizio Macagno, Francisca Amorim, Giovanni Damele, Ivone Ferreira,
Jorge Veríssimo, Maria Luísa Malato, Rosalice Pinto, Samuel Mateus, Teresa Mendes Flores
Organização de Samuel Mateus e Ivone Ferreira
Este livro apresenta diferentes manifestações retóricas contemporâneas que ocorrem em sociedades amplamente mediatizadas. E demonstra que a retórica — enquanto técnica de comunicação persuasiva — persiste nos dias de hoje como uma referência incontornável dos media.
O que têm em comum o anúncio de publicidade, o soundbite político, as redes sociais ou a comunicação organizacional? Em qualquer dos casos, estamos perante fenómenos que envolvem processos persuasivos. Por outras palavras, são ações retóricas que visam convencer-nos a respeito de alguma coisa acerca do mundo.
[…] tal como persuadimos através do discurso verbal (este é o sentido da retórica antiga), também persuadimos por intermédio de processos discursivos não-verbais, que incluem frequentemente os dispositivos tecnológicos de mediação simbólica (os media, no sentido anglo-saxónico da palavra). Se pretendemos compreender, na íntegra, como discutimos, convencemos e argumentamos as nossas visões do mundo, ideias ou opiniões, temos necessariamente de incluir como o fazemos através dos media, dada a sua centralidade e omnipresença nas sociedades.
[…] assumir a mediatização da retórica significa não apenas que os media alteram os seus alicerces, introduzindo alterações na valorização dos diferentes cânones, […] como implica considerar que os media representam um potencial persuasivo radicalmente singular quando comparado com a palavra falada na assembleia. […] A extensão espacial e temporal permitida pelos dispositivos tecnológicos de mediação simbólica introduz mutações críticas nos processos de persuasão nas sociedades de massas de que é apenas um exemplo a constante repetição de anúncios de publicidade, várias vezes por dia, em diferentes meios de comunicação social e ao longo de semanas.
[Samuel Mateus e Ivone Ferreira]