quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Not Yet


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Pedro S. Lobo

Textos de Christian Carvalho Cruz e Rosely Nakagawa
Tradução de Ricardo Sternberg
Design de Gabriel Zellmeister

ISBN 978-989-9006-47-8 | EAN 9789899006478

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 30,19 euros | PVP: 32 euros 
Formato: 21 × 29 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 144 (a cores) 
Edição bilingue: português-inglês 

Pedro S. Lobo: «Eu não consigo não fazer essas fotos. Amanhã isso pode ter sumido. 
E a minha percepção é que tudo o que eu admiro desaparece.»

Pedro admira as ferrugens, os podres, os descascados. Dos objetos, dos lugares e das pessoas. Fotografa-os com a intensidade brutal e delicada de sua personalidade. Por isso estávamos ali. Durante três dias rodamos setecentos quilômetros pela região portuguesa onde ele tinha fotografado seu trabalho mais recente: os incêndios florestais de 2017 e 2018. Melhor dizendo, o rastro de destruição e tragédia deixado por eles. […] Nestes tempos em que a memória virou bugiganga chinesa comprada em loja de suvenir, a fotografia do Pedro é um grito inconveniente. Há anos o seu percurso artístico está assentado sobre ruínas, catástrofes, desmoronamentos e decrepitude. Começou nos anos 2000 com uma série de imagens em grande formato feita sem favelas. Passou por cadeias, prostíbulos, igrejas, pedreiras, o Alentejo, símbolo do Portugal arcaico que se vai perdendo, e agora o fogo. Tudo fotografado com reverência de arquiteto, mergulho de etnólogo e certa aflição de quem, na beira do precipício, encara a finitude. 
[Christian Carvalho Cruz] 

O Apocalipse não é uma violência de Deus como querem fazer crer os fundamentalistas. É, antes, a ascensão da violência humana a extremos, de acordo com as anotações do pensador francês René Girard, referindo-se ao último livro da Bíblia, O Livro de Apocalipse (O Livro da Revelação), também chamado de Apocalipse de João. É desse apocalipse de Girard que trata o fotógrafo Pedro Lobo. […] O trabalho do Pedro procura o entendimento dessa morte contemporânea, da perda e da violência. Simultaneamente representadas nas camadas sobrepostas de suas imagens, o que Pedro fotografa é o apocalipse quese dá como descoberta ou revelação ao registrar a vida nas paredes mortas. Ou quando olha para trás e encontra a luz na cor rasgada. Quando se vira e sente o frio do fogo nas cinzas. 
[Rosely Nakagawa] 

Pedro S. Lobo, fotógrafo carioca formado na School of the Museum of Fine Arts (Boston)e no International Center of Photography (Nova Iorque), reside e trabalha entre o Rio de Janeiro (Brasil)e Borba (Portugal). Dedica-se prioritariamente a projetos que combinam expressão pessoal e conteúdo social.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Meu Irmão Feminino e «Noites Florentinas»


Meu Irmão Feminino e «Noites Florentinas» 
Marina Tsvietaieva 


Tradução dos originais franceses e apresentação de Aníbal Fernandes 

ISBN 978-989-8833-36-5 | EAN 9789898833365 

Edição: Novembro de 2020 
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 112

«O meu leitor nascerá daqui a cem anos» — disse Tsvietaieva 
na década de trinta. Só errou em cinquenta. 

Rejeitada pelos Russos, Tsvietaieva tentava penetrar no meio literário de Paris. Escrevia poemasem francês; traduzia-se para francês, escolhendo um dos seus longos poemas russos e chamando-lhe Le Gars; compunha duas prosas singulares: Meu Irmão Feminino e «Noites Florentinas» (nenhuma delas publicada durante o seu tempo de vida). São prosas escritas entre 1932 e 1934, a primeira dirigida a Natalie Barney («a amazona» que transtornava cabeças de homens e mulheres pelos salões da cidade, pretexto para reflexões sobre a grande fatalidade do amor lésbico), inspirada a segunda pelo belo Abraham Vichniak (que lhe desencantava mais fatalidades, agora do amor heterossexual), ambas sob a forma epistolar, ambas dirigidas a interlocutores «ausentes». Com um núcleo escrito originalmente em russo, o texto essencial de «Noites Florentinas» foi traduzido (melhor dizendo, recriado) em francês pela autora, segundo nos diz numa carta a Anna Teskova. Tsvietaieva fala do seu trabalho durante o Inverno de 1932-33 e destaca a tradução de nove cartas acrescentadas por outra, que lhes dá resposta, e ainda por um Posfácio ou A Face Póstuma das Coisas e o relato do último encontro com o destinatário cinco anos depois, na noite de passagem do ano. Diz também que de tudo isto resulta uma obra completa, redigida pela própria vida. 
[Aníbal Fernandes]

«Marina Tsvietaieva toda a vida se defendeu da banalidade quotidiana, graças ao trabalho, e no dia em que isto lhe pareceu um luxo inadmissível, e teve temporariamente, por causa do filho, que sacrificar uma agradável paixão e lançar à sua roda um olhar sensato, descobriu o caos imóvel, insólito, entorpecido que a sua criação repelira e, afastando-se assustada e sem saber onde meter-se, cheia de horror, foi esconder-se apressadamente na morte, pousando a cabeça numa corda como se fosse uma almofada.» 
[Boris Pasternak] 

Marina Ivanovna Tsvietaieva nasce em Moscovo, em Setembro de 1892, filha de um filólogo e historiador de artee de uma pianista de origem polaca. Regressa à Rússia em 1906, depois de estudarem colégios internos, em Lausana e em Friburgo. Casa-se com Serguei Efron, em 1912. […] Em 1940 Marina Tsvietaieva vive numa casa de repouso dos escritores, em Golicyno. Subsiste como tradutora literária de textos que lhe são propostos por Pasternak. Efron morre no cárcere em 1941. A guerra com a Alemanha é pretexto para a enviarem, com um grupo de «trabalhadores da literatura», para Ielabuga, na República Tártara. Enforca-se a 11 de Agosto de 1941.

Jean-Luc Perseguido


Jean-Luc Perseguido 
Charles Ferdinand Ramuz 


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes 

ISBN 978-989-8833-56-3 | EAN 9789898833563 

Edição: Novembro de 2020 
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 144

Toda a força da arte está no que recordamos; é feita de memória e imaginação. 

Charles Ferdinand Ramuz, já romancista assumido, olhava com desagrado para o mais vulgar sentido da palavra «romance»: «— A palavra romance é mal empregue; e neste momento feia; por aí se arrasta em todo o lado […] e melhor seria encontrar-lhe outro nome […]. O romance deve ser um poema», escreveu no Journal de Genève em Setembro de 1905, na altura em que tinha publicado Aline, essa primeira ficção que surgia ao público mudada desde a poesia-verso até à poesia-prosa, conciliando-a assim com o que era exigido pela fórmula-romance. Não foi, no entanto, este ambíguo pé em dois mundos da forma escrita que soltou todas as vozes suíças de uma incomodada oposição; foram, sobretudo, um desprezo sintáctico que hostilizava os bons comportamentos da literatura; uma invenção de frases com ritmos que atropelavam regras do bem-escrever, mal aceites pelo orgulho literário de um país «menorizado» por um seu escritor tão avesso à correcção formal dos maiores escritores da língua francesa. Ramuz não se furtava a sacrifícios gramaticais para salvar verdades da linguagem oral dos «seus» aldeões, para dar à sua prosa o andar lento e pesado dos que voltam a casa fatigados pelos trabalhos do campo. 
[Aníbal Fernandes] 

Charles Ferdinand Ramuz nasceu em Lausanne no dia 24 de Setembro de 1878. Licenciado em letras clássicas pela Universidade de Lausanne, foi professore preceptor. Era um solitário e, como nos diz Aníbal Fernandes na «Apresentação» de Derborence (o primeiro título do autor publicado pela Sistema Solar), «arrastava-se, entediado, porestas ocupações, sentindo quesó havia em si um escritor literário».Viveu entre Parise a sua terra natal. Em 1914, com o início da Grande Guerra, regressou à Suíça, onde continuou a dedicar-se à escrita. A sua obra trata essencialmente da relação Homem-Natureza e da impotência humana relativamente às forças naturais. A sua escrita dividiu e extremou opiniões, acabando por ser reconhecida de forma mais generalizada e consensual. Entre os seus defensores, encontramos Cocteau, Rolland, Céline, Claudel. Morreu em Lausanne no dia 23 de Maio de 1974.

Uma Última Pergunta — Entrevistas com Mário Cesariny (1952-2006)


Uma Última Pergunta 
Entrevistas com Mário Cesariny (1952-2006) 
Vários Autores* 


Organização e introdução de Laura Mateus Fonseca
Prefácio de Bernardo Pinto de Almeida 
Posfácio de Perfecto E. Cuadrado 
Mário Cesariny entrevista Carlos Botelho 
Ana Marques Gastão entrevista Cruzeiro Seixas 

ISBN 978-989-9006-58-4 | EAN 9789899006584 

Edição: Novembro de 2020 
Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros 
Formato: 14,5 × 22,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 432 

Com a Fundação Cupertino de Miranda

Uma última pergunta, que a série já vai longa: Botelho, se algum leitor 
destas linhas quisesse começar a pintar e lhe pedisse conselho, que faria? 
[Mário Cesariny entrevista Carlos Botelho, O Rossio, n.º 1, 1952]. 

* Entrevistas de A. Sérgio S. Silva, Afonso Cautela, Álvaro Guerra, Ana Marques Gastão [a Cruzeiro Seixas], António Cândido Franco, António Duarte, António Guerreiro, Bernardo Pinto de Almeida, Bruno da Ponte, Bruno Horta, César Antonio Molina, Claudia Galhós, Elisabete França, Francisco Belard, Francisco Vale, Maria Bochicchio, Maria Leonor Nunes, Maria Teresa Horta, Mário Cesariny [a Carlos Botelho], Mário Galego, Ricardo Duarte, Torcato Sepúlveda, Vladimiro Nunes. 

Esta antologia de entrevistas surgiu como forma de dar a conhecer, ou melhor, trazer para o corpo visível do livro entrevistas que pela proximidade fácil com o entrevistado (o Mário, por ele mesmo) se transformaram em «conversas» abertas, onde os temas, os nomes, as palavras surgem de um sopro de liberdade. 
[Laura Mateus Fonseca] 

Conheci Mário Cesariny em 1981. Tinha-lhe enviado o primeiro livro de poemas, edição de autor, ele escreveu-me de volta, sugerindo que o visitasse, o que fiz, movido pelo entusiasmo de ir ao encontro do Poeta que fora, no fim da adolescência, descoberta maior, nunca traída até hoje. O homem que encontrei, por uma tarde chuvosa, no modesto estúdio e refúgio, à Graça, chegava então aos 60 anos, mais trinta que os meus, o que, todavia, deixava de se fazer sentir assim que começava a falar,em digressões que passavam, sem descontinuidade, das memórias de vida a reflexões sobre Llull, Breton, Artaud.Tudo tinha a mesma origem. […] Homem só, sereno, capaz de uma gargalhada formidável, era soberano nessa solidão, indiferente a agradar, incapaz do que fosse para ir ao encontro de qualquer aplauso, de que desconfiava. 
[Bernardo Pinto de Almeida] 

Traquinas como é, brincalhão e travesso e feliz como uma criança num dia sem escola, apenas me disse ao telefone o seu penúltimo desejo e vontade: 
Sabe, ó Prefeito, o que eu tenho pensado é vender parte da minha obra, comprar um carro enorme, contratar um chauffeur e viajar até ao dia da viagem definitiva. 
Viajar, talvez, em busca daquele gato que um dia Risques Pereira viu como partia para a aventura com o arelegante, distantee ausente que caracteriza e define aquele animal sagrado, dandy dos telhados, das açoteias e de lugares ainda mais altos, que, como diria Cesariny, os lepidópteros burgueses nunca conseguirão domar. 
[Perfecto E. Cuadrado]

A Torção dos Sentidos — Pandemia e remediação digital


 A Torção dos Sentidos — Pandemia e remediação digital

João Pedro Cachopo 


ISBN 978-989-9006-61-4 | EAN 9789899006614 

Edição: Novembro de 2020 
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 112

O que revela a pandemia sobre o mundo em que vivemos? De que modo está a transformar as nossas vidas? Como podemos e devemos posicionar-nos em termos éticos, políticos e artísticos perante estas transformações? 

Paulatinamente, sem que disso nos apercebamos, a pandemia e as medidas tomadas para contê-la estão a transformar as nossas vidas. Não me refiro às belas mascarilhas. Nem às restrições à mobilidade. Nem sequer às angústias com as vagas de contágio. Ou refiro-me a tudo isto, tomando-o pelo que é: um conjunto de epifenómenos. Pois o acontecimento — sobre o qual poderíamos dizer, recordando uma expressão de Nietzsche, que nos deixa atónitos, a contar «as doze badaladas vibrantes daquela nossa vivência, da nossa vida, do nosso ser» — tem outra fundura: é um abalo dos alicerces que sustentam a imaginação do próximo e do distante que revolve o sentido de tudo o que sabemos, podemos e desejamos. É este revolvimento que designo por «torção dos sentidos». O acontecimento, por outras palavras, consiste no impacto crescente que o cruzamento entre isolamento profiláctico e uso exacerbado de tecnologias de remediação exerce sobre os sentidos que dão sentido à nossa existência no mundo. 
São cinco os sentidos abordados neste ensaio: o amor, a viagem, o estudo, a comunidade e a arte. Dir-se-ia uma lista sem nexo, quase apetecendo compará-la com a taxinomia de animais, recolhida por Jorge Luis Borges numa «certa enciclopédia chinesa», que Foucault recorda à entrada de As Palavras e as Coisas. O que justifica a sua reunião? Como é óbvio, não se trata de sugerir que só estes sentidos conferem sentido à existência humana. O que justifica esta constelação, que não é nem pretende ser exaustiva, é o facto de todos eles dependerem, em virtude não só do que significam para nós mas também de como significam para nós, do reconhecimento do próximo e do distante e se configurarem como exercícios de aproximação e distanciamento. 
[João Pedro Cachopo] 

João Pedro Cachopo é musicólogo e filósofo. Lecciona na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde integra o Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. É o autor de Verdade e Enigma: Ensaio sobre o Pensamento Estético de Adorno (Vendaval, 2013), que recebeu o Prémio Primeira Obra do PEN Clube Português em 2014, e co-editou Rancière and Music (Edinburgh University Press, 2020), Estética e Política entre as Artes (Edições 70, 2017) e Pensamento Crítico Contemporâneo (Edições 70, 2014).

Grand herbier d’ombres


Grand herbier d’ombres

Lourdes Castro 


ISBN 978-989-9006-54-6 | EAN 9789899006546 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 36,79 euros | PVP: 39 euros 
Formato: 22 × 28 cm (encadernado) 
Número de páginas: 224 (a cores) 

Com a Fundação EDP – MAAT 

Edição bilingue: português-inglês

É por isso que agora aproximei do nariz as sombras de Lourdes 
Castro que possuem uma presença viva e misteriosa capaz de fazer 
crescer mágicos pensamentos a quem as olha. 
[Tonino Guerra] 

Começava a nevarem Pennabilli e eu detinha o olhar na neve que caía sobre as amendoeiras, em redor da casa, quando me chegou o Grand herbier d’ombres. É um livro com as sombras de muitas ervas do campo, da pintora Lourdes Castro, grande artista portuguesa que reproduz sombras de pessoas ou de outras formas de vida. Olhava eu, assim, os bordados da neve e logo depois as páginas do livro. 
Num determinado momento, no branco do vale, vi manchas escuras que subiam da minha memória. Eram as sombras que passavam pelo tecto do meu quarto no dia do regresso da prisão, na Alemanha, e eu, naqueles reflexos, procurava reconhecer os meus conterrâneos. Depois vi o vale, além da janela, atravessado pela grande sombra do obelisco da Praça de S. Pedro, num dia de Agosto, quando Roma me apareceu deserta. E no entanto, os turistas estavam à fresca, na sombra daquele obelisco se apinhavam. 
De repente, pensei nos belos dias de Agosto com Andrei Tarkovski quando trabalhávamos no filme Nostalgia, em Bagno Vignoni. A pequena aldeia toscana tem, na praça, um lago de água quente criando nuvens de vapor que enevoam, qual mundo medieval. É nestas águas que Catarina de Siena banhava seu corpo e as palavras desua oração. Uma manhã entrámos na pequena igreja, na margem da rua que contorna o grande lago. Sentámo-nos sobre um banco de madeira para gozar aquele silêncio abandonado. Descobrimos que o feixe de luz matutina proveniente de uma janela alta estampava sobre a parede interior, junto de nós, uma pequena planta selvática crescida sobre o terriço trazido pelo vento, sob o pequeno vitral. Uma sarça de sombras incertas que se tornava decoração naquele reboco gessoso e humilde. Eu e Andrei permanecemos por algum tempo contemplando estas imagens trémulas que nos traziam reflexões profundas. A um certo ponto pareceu-nos sentir no ar um perfume de menta. Levantámo-nos de imediato para descobrir aquela imagem sobre o muro e perceber se a fragrância vinha daquela sombra. Assim era. 
É por isso que agora aproximei do nariz as sombras de Lourdes Castro que possuem uma presença viva e misteriosa capaz de fazer crescer mágicos pensamentos a quem as olha. 
[Tonino Guerra – tradução de Mário Rui de Oliveira]

Calendário Perpétuo

Calendário Perpétuo
Cabrita, João Pinharanda


ISBN 978-989-9006-56-0 | EAN 9789899006560

Edição: Novembro de 2020
Preço: 23,58 euros | PVP: 25 euros
Formato: 12 × 17 cm (encadernado)
Número de páginas: 752

Com a Fundação Carmona e Costa

… escreveria um aforismo para cada dia do ano — obteria assim um calendário. […] um calendário sem marcação de ano, reunindo o fim e o princípio, permitindo um eterno retorno. 

01.01 não é necessário sobrepores vida e arte — a arte e a vida disso se encarregarão.

Em Maio de 2018 escrevi, para uma vasta exposição comissariada por Pedro Cabrita Reis na Associação 289, em Faro, oitenta textos onde utilizei de forma sistemática a fórmula do aforismo. Uma solução que sempre me interessou (de alguns dos Antigos a Pascal, Nietzsche, de Kraus a Wilde, Cioran ou Almada) e que, muitas vezes, se intromete em alguns dos meus escritos. A capacidade de síntese que comportam, o modo como possibilitam o uso de oximoros ou como neles se pode sugerir uma voz profética teve como pretexto temático a Arte, procurando nela caminhos para pensar na Vida, na Política, no Amor, no Sexo, na Morte… […] 
A dupla necessidade de criar uma meta e de me impor um limite, dando assim sentido ao processo de trabalho que se iria seguir, levou-me a estabelecer que escreveria um aforismo para cada dia do ano — obteria assim um calendário. E foi seguindo as experiências dos dias, colhendo as suas alegrias e desgostos, reflectindo sobre o mundo que corria junto a mim, que os escrevi. Mas, reforçando a ideia de que uma sentença não deve ser gasta pela usura do tempo, pensei imediatamente em aplicá-los aos dias de um calendário sem marcação de ano, reunindo o fim e o princípio, permitindo um eterno retorno — em criar um calendário perpétuo. 
[…] Cabrita colocou um desenho seu ao lado de cada um desses aforismos, um desenho feito no mesmo espírito de síntese e de velocidade, de abstracção e de súbitas chamadas ao real. 
[João Pinharanda] 

Os 366 desenhos que constituem esta suite calendário perpétuo foram por mim realizados com o específico propósito de acompanhar os textos de João Pinharanda agrupados sob uma designação similar, e que aqui também se publicam. 
[Cabrita]

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

«é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano»

 

EXERCÍCIO ESPIRITUAL

É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora

Mário Cesariny, 9/8/1923 – 26/11/2006 I Manuel António Pina, 18/11/1943 – 19/10/2012

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Mário Cesariny - Encontros XIV


 

Lançamento «Calendário Perpétuo»

 


Os meus Oscar Wilde


Os meus Oscar Wilde 

André Gide 


Tradução (com «pré, inter e pós-fácios») de Aníbal Fernandes 

ISBN 978-989-8833-54-9 | EAN 9789898833549

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 152

«Toda a verdade deixa de sê-lo, desde que haja mais do que 
uma pessoa a acreditar nela.» 

Uma das companhias preferidas de Oscar Wilde era lorde Alfred Douglas (que viria a ser Bosie na linguagem do seu afecto), rapaz de vinte e um anos, estudante no Magdalen College de Oxford com uma qualidade poética que os elogios de Wilde sobrevalorizavam, terceiro filho de um marquês grosseiro e brutamontes, de seu nome Queensberry. Wilde conheceu esse jovem na sua própria casa de Tite Street, apresentado por Lionel Johnson, um amigo que o trazia, encantado com uma recente leitura de Dorian Gray
«Depois de trocadas as habituais cortesias», veio Alfred Douglas a escrever, «Wilde mostrou-se muito amável e falou imenso. Antes de eu me retirar convidou-me para almoçar ou jantar com ele no seu clube — convite que aceitei.» 
Esta amizade intensificou-se. Wildee Bosie começaram por fazer duas viagens juntos (uma a Florença, outra a Brighton) e partilharam depois um apartamento comum no Hotel Savoy de Londres; mas, se acreditarmos nas palavras de Bosie, foram precisos seis meses de intensas intimidades e leitos separados por curta vizinhança para ele não resistir às suas propostas sexuais. 
Em 1895, pouco depois do imenso êxito da peça An Ideal Husband, Wildee Bosie decidiram ver de perto a beleza morena e compreensiva, nesses tempos fácil de encontrar entre os jovens árabes de Argel. 
Ora, André Gide também gostava da Argélia, colónia do seu país com um forte exotismo visual e sensorial, próxima na sua distância, bastante em conta para as folgas da sua bolsa. Por acidente, juntaram-se os três na Argélia. Mas já tinha havido outros encontros. 
Gide vai lembrar-se aqui da sua vistosa presença em Paris, dos seus ditos, dos seus paradoxos, de um teatro de salão onde Oscar Wilde fazia incansavelmente a representação da sua própria personagem. Lembrar-se-á do Oscar Wilde na Argélia, do Oscar Wilde numa fria aldeia da França, abrigado sob o pseudónimo Sébastien Melmoth, derrotado e ferido depois de dois anos de cárcere na Inglaterra. E, para além dos textos de Gide, ler-se-á também uma selecção dos mais significativos momentos dos seus processos. 
[Aníbal Fernandes]

As Aventuras de Uma Negrinha à Procura de Deus


As Aventuras de Uma Negrinha à Procura de Deus
George Bernard Shaw 


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes 

ISBN 978-989-8833-55-6 | EAN 9789898833556 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 112

O amor não basta… A negrinha descobre que é mais sensato seguir o
 conselho de Voltaire… E não obter a explicação total do universo. 

Em 1925, George Bernard Shaw ganhou o Prémio Nobel da Literatura, o que ainda mais relevo conferiu à sua obra reformista, corajosamente defensora da revolução soviética numa Inglaterra democrática e com forte solidez monárquica, incansável argumentadora dos malefícios da ordem capitalista. A sua sátira, que já tinha escolhido por duas vezes a perversão das religiões cristãs — em 1897 com a peça The Devil’s Disciple, em 1909 com a peça The Shewing-up of Blanco Posnet — em 1932 acrescentou-se na mesma onda com um regresso à novela — chamemos-lhe assim — As Aventuras de uma Negrinha à Procura de Deus (com o texto revisto em 1946), uma forma literária híbrida e, ao que parece, constantemente arrependida de ser uma prosa ficcionada e não ter um palco onde pudesse mostrar a sua despida jovem negra à procura de um Deus na selva da União Sul Africana; comandada neste inquérito por uma inspiração que muito deve ao Candide de Voltaire (e até sucede — nesta filiação que não quer de forma alguma esconder-se — que o principal protagonista conclui nos dois textos que para ele melhor será limitar-se a «cultivar o seu jardim».) 
O Prémio Nobel da Literatura, o grande prestígio britânico, dava agora pretexto a uma ampliada indignação dos religiosamente feridos perante este tom agnóstico que espalhava o seu zumbido sobre as versões de Deus coleccionadas nas páginas da Bíblia e do Corão, sobre o ateísmo de intelectuais que as consideravam ultrapassadas por inquestionáveis certezas da Ciência. E a incomodidade desta negrinha ainda era maior por se atrever a um casamento inter-racial num cenário que indiscutivelmente sugere o da União Sul Africana (feroz no seu apartheid) — provocação aos olhares democráticos e só teoricamente anti-racistas dos Ingleses. 
[…] 
Esta novela voltaireana, escrita com oitenta e dois anos de idade, é o último e já desgarrado grande êxito de George Bernard Shaw, nessa época mais preocupado em organizar os definitivos dezasseis volumes da sua obra escrita, em surgir fotograficamente nos jornais sob os traços de uma velhice por todos admirada na sua lucidez, e a todos comunicada que era um milagre vegetariano. 
[Aníbal Fernandes]

Doze Fronteiras — A raia luso-espanhola percorrida em toda a sua extensão


Doze Fronteiras — A raia luso-espanhola percorrida em toda a sua extensão 

Joaquim M. Palma 


Fotografias e mapas do autor

ISBN 978-989-9006-46-1 | EAN 9789899006461 

Edição: Novembro de 2020 
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros 
Formato: 15,5 × 21,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 320 (fotografias a preto e branco)

Ecoando na esteira de todos os passos do 
viajante fronteiriço, um verso do poeta José Tolentino Mendonça: 

«Não ames viagens que reduzam a estranheza». 

Realidades humanas e paisagísticas emudecedoras existentes nos confins dos dois países ibéricos, culturas ancestrais remotas engolidas pelos buracos negros da desolação e abandono numa galáxia rural já nos umbrais do não-retorno, beleza intemporal frágil, marcas predatórias ferozes — eis algumas das faces de uma geografia precária e em fuga encontrada durante uma sentida viagem ao longo da fronteira entre Portugal e Espanha. Ecoando na esteira de todos os passos do viajante fronteiriço, um verso do poeta José Tolentino Mendonça: «Não ames viagens que reduzam a estranheza». E estranheza houve. Ou não fosse a linha de fronteira ela própria já uma coisa estranha. 
O livro que o leitor tem neste momento entre mãos não foi concebido para uso turístico. Não tem mapas com a indicação de pontos de interesse buscados pelas massas, nem de onde ficar ou comer, nem de contactos locais, nem é adornado com fotografias de postal ilustrado. Também não é nenhum estudo académico de natureza sociológica, etnográfica ou outra; por isso, no final, não está lá nenhuma secção de notas nem a clássica e habitualmente extensa lista bibliográfica. É, sim, a reprodução de um simples caderno de viagem redigido sem pretensões de convencer quem quer que seja e cujos conteúdos surgiram da interacção do olhar com o coração e da predisposição de um ser humano para ir à procura do genuíno, onde o belo (e o feio) têm sempre algo a dizer. Os registos, por separado e por junto, nada exigem e nada prometem; são a folha caída de uma árvore que não está perto e que o vento trouxe inesperadamente — uns dão por ela, pegam-lhe, olham-na com curiosidade, e vão à procura da árvore, outros não. 

Joaquim M. Palma (Vila Viçosa, 1952) foi professor do ensino primário durante trinta e dois anos. Publicou duas obras sobre educação ambiental. Faz viagens a sítios onde os turistas não chegam e escreve sobre a beleza e o abandono que atingem pessoas e territórios remotos. Tem alguma poesia publicada em editoras independentes. Nos últimos dez anos, publicou os textos fundacionais do taoismo. Presentemente, está a traduzir para português a poesia haiku japonesa. Vive no campo, perto da cidade de Évora.

Antes do Início e Depois do Fim: Júlio Pomar e Hugo Canoilas


Antes do Início e Depois do Fim: Júlio Pomar e Hugo Canoilas 

Júlio Pomar, Hugo Canoilas 


Textos de Sara Antónia Matos, Chus Martínez, Hugo Canoilas 
Design de Ilhas Estúdio 

ISBN 978-989-9006-33-1 | EAN 9789899006331 
 
Edição: Junho de 2020 
Preço: 20,76 euros | PVP: 22 euros
Formato: 17 × 21 cm (brochado) 
Número de páginas: 204 (a cores) ´
Com o Atelier-Museu Júlio Pomar

As obras destes dois pintores configuram um campo híbrido, um território 
que leva a repensar a natureza das coisas, dos objectos, dos fenómenos da 
natureza, da arte, das suas matérias, exercícios e metodologias.

Combinando arte, investigação e documentação, o trabalho de Júlio Pomar é enformado por um património crítico que lhe permite abordar a natureza descontraidamente, sem pretensões de apresentar um conhecimento moldado pelos pressupostos da ciência. Natureza, olhar científico e olhar artístico conjugam-se num discurso que ultrapassa as determinações disciplinares e garante um resultado final revelável em diferentes camadas de informação. 
Em diálogo com a obra de Júlio Pomar, de Hugo Canoilas mostra-se um extenso corpo de trabalho que o artista tem desenvolvido nos últimos anos em torno de uma figuração por vezes pré-histórica ou pré-apocalíptica, e por vezes pós- -apocalíptica, numa espectacular tentativa crítica de pensar sobre a sociedade, sobre a relação com a arte e com a natureza através da arte. 
O que implica a criação? E a percepção? Qual é a verdade da natureza e quais são as origens do fazer artístico? No diálogo O Declínio da Mentira, Oscar Wilde sublinhava que «quanto mais estudamos a Arte, menos nos interessamos pela Natureza». […] 
As obras destes dois pintores configuram um campo híbrido, um território que leva a repensar a natureza das coisas, dos objectos, dos fenómenos da natureza, da arte, das suas matérias, exercícios e metodologias. A arte em geral faz equacionar os modos de ver e percepcionar a realidade, implicando o observador numa participação construtiva. A relação entre arte e natureza, entre forma viva e forma artística, revela-se então num espaço de inteligibilidade capaz de esclarecer, heuristicamente, a própria forma do pensamento. 
Foi neste âmbito lato que a exposição ultrapassou a temática explícita nas obras — animais selvagens e domésticos, existentes e extintos — para permitir um outro domínio de reflexões mais abrangentes, particularmente associado às questões da sustentabilidade, da tecnologia, das possibilidades da vida na Terra e, não menos importante, do tempo.
[Sara Antónia Matos]

O Corpo, a Sexualidade e o Erótico na Obra de Júlio Pomar

 

O Corpo, a Sexualidade e o Erótico na Obra de Júlio Pomar

Júlio Pomar, Salomé Lamas


Textos de Roger Munier, Sara Antónia Matos e Pedro Faro, Ilhas Estúdio, Isabel Ramos, Miguel Martins 
Design de Ilhas Estúdio 

ISBN 978-989-9006-49-2 | EAN 9789899006492 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros 
Formato: 17 × 21 cm (brochado) 
Número de páginas: 112 (a cores) 

Com o Atelier-Museu Júlio Pomar

Em seus momentos de desespero, ele afirma que o desenho não existe e que 
não é possível obter com traços senão figuras geométricas; [...] o desenho dá o 
esqueleto, a cor é a vida, mas a vida sem o esqueleto é uma coisa mais incompleta 
que o esqueleto sem a vida. 
(Honoré de Balzac, Le Chef-d’oeuvre inconnu)

O corpo, a sexualidade e o erótico na obra de Júlio Pomar (2019) é uma instalação concebida por Salomé Lamas, que a artista e cineasta realizou a convite do Atelier-Museu, para mostrar na sequência da exposição «Júlio Pomar: Formas que se tornam outras», sobre a dimensão erótica no percurso deste artista. A peça estabelece correspondências livres entre os escritos do pintor e o seu trabalho pictórico, concentrando-se principalmente nas explorações e preocupações de Júlio Pomar em torno do corpo, da sexualidade e do erótico. […] 
Numa instalação feita com projectores de slides e som, a cineasta usa imagens de arquivo, por vezes mostrando fragmentos de obras, outras vezes a sua totalidade. Estas imagens são retrabalhadas, ligeiramente alteradas, sublinhando algum elemento (um traço, uma mancha) ou reforçando aquilo que pretende ser comunicado (processos, matérias, metodologias, referências), questionando aquilo que é tradicionalmente considerado o conteúdo de uma obra. O que é o conteúdo de uma pintura? De um desenho? De uma imagem? O que está figurativamente representado, ou também a sua dimensão matérica e formal? Na realização da obra, Salomé Lamas, partindo da consulta de livros publicados sobre o artista, de vários ficheiros digitais e outras informações, na impossibilidade mas ambição de tudo ver, problematiza também a ideia de «arquivo». Ao fazê-lo, questiona o modo como a História da Arte, com os seus critérios científicos, e por vezes alguma moralidade, arruma, categoriza e fixa modos de ver. Nesta obra, pondo em jogo uma dimensão autoral, a sua, a cineasta reorganiza e edita fragmentos de um património cultural comum, fazendo lembrar Godard no Livro da Imagem
«Ainda te lembras de como antes exercitávamos o pensamento? Costumávamos partir de um sonho. Perguntávamo-nos como era possível que, na obscuridade total, em nós surgissem cores de tal intensidade. Diziam-se grandes coisas, coisas importantes, espantosas, profundas e justas, num tom de voz doce e baixo. Imagem e palavra.» 
[Sara Antónia Matos / Pedro Faro]

Esferas da Insurreição — Notas para uma vida não chulada


Esferas da Insurreição — Notas para uma vida não chulada

Suely Rolnik


Prólogo de Paulo B. Preciado
Design de Horácio Frutuoso 

ISBN 978-989-9006-51-5 | EAN 9789899006515 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros 
Formato: 17 × 24 cm (brochado) 
Número de páginas: 162 (a cores) 

Com o Teatro Praga (colecção «Sequência»)

Paul B. Preciado: «Estes ensaios de Suely Rolnik chegam-
-nos em plena névoa tóxica que os nossos modos coletivos
 de vida produzem sobre o planeta. 
Vivemos um momento contrarrevolucionário.» 

Estes textos são como um oráculo que nos fala do nosso próprio futuro mutilado. Vêm recordar que o que estamos a viver não é um processo natural, mas uma fase a mais de uma guerra que não cessou: a mesma guerra que levou à capitalização das áreas de preservação de terras indígenas, ao confinamento e ao extermínio de todos os corpos cujos modos de conhecimento ou afeção desafiavam a ordem disciplinar, à destruição dos saberes populares em benefício da capitalização científica, à caça às bruxas, à captura de corpos humanos para serem convertidos em máquinas vivas da plantação colonial; a mesma guerra na qual lutaram os revolucionários do Haiti, as cidadãs da França, os proletários da Comuna, aquela guerra que fez surgir a praia sob os paralelepípedos das ruas de Paris em 1968, a guerra dos soropositivos, das profissionais do sexo e das trans no final do século XX, a guerra do exílio e da migração… 
Suely Rolnik reuniu aqui três textos elaborados durante os últimos anos que poderiam funcionar como um guia de resistência micropolítica em tempos de contrarrevolução. Tive a sorte de escutar e ler muitas versões destes textos, como quem assiste à germinação de um ser vivo. O pensamento de Suely, como a sua própria prática analítica, tem a qualidade de estar sempre em movimento. O que os leitores têm agora nas suas mãos é uma fotografia da tarefa crítica de Suely tirada num momento preciso. Trata-se de um trabalho aberto, de um arquivo em beta, em constante modificação. O livro, extremamente rico e cuja leitura levará a múltiplas intervenções críticas e clínicas, poderia ser lido tanto como um diagnóstico micropolítico da atual mutação neoconservadora e nacionalista do regime financeiro neoliberal quanto como uma hipótese acerca da derrota da esquerda, no contexto não só latino-americano, mas também global. Mas esse réquiem por uma esquerda macropolítica é acompanhado em Suely pelo desenho de uma nova esquerda radical: Esferas da Insurreição é uma cartografia das práticas micropolíticas de desestabilização das formas dominantes desubjetivação, um diagrama da esquerda por vir. 
[Paul B. Preciado]

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A Vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá) I Kees van Dongen

A Vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá)

Kees van Dongen

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-8833-51-8 | EAN 9789898833518 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 128


Plana muito alto; 
domina a multidão, 
vê as estrelas e quer ir ter com elas.


Van Dongen foi,ele próprio, um pintor; vemo-lo hojeem museus detodo o mundo, mas bastante mais no Hermitage de São Petersburgo e no Púskine de Moscovo, e com uma permanente e generosa presença no Novo Museu de Belas Artes do Mónaco. Associamo-lo sobretudo a retratos de mulheres com olhos que um traço carbonoso sublinha na sua sensualidade insolente, e que imaginamos saídas de uma noite mal dormida em lençóis amarrotados.
[…] 
Em 1927, exteriormente a esta profusão de retratos publicou uma Vida de Rembrandt; um texto quase sempre sedutor e formalmente desarrumado (como nos é pedido enfaticamente para notarmos), confronto entre dois holandeses que pintaram até um limite de forças e em muitos dos seus passos — os que falam de mulheres, dinheiro, da encomenda de retratos, da inveja maledicente dos colegas do ofício — não ilude o impulso de Van Dongen se rever no biografado. Não é uma biografia, se lhe pedirmos quese ajuste às exigências da mais ortodoxa acepção desta palavra; Van Dongen entrega-se aqui à construção de uma imagem predominante sobre todas as outras que encontramos nas complexidades de um pintore de um homem. Como Suetónio quando retratou os seus doze Césares, como os autores dos Evangelhos, detidos em episódios demonstrativos de um deus-profeta e muito menos no que foi o Cristo histórico, este é um «Rembrandt de Van Dongen» — retrato de um homem que pintou até à exaustão e com uma liberdade que apenas soube colar-lhe um rótulo — um pejorativo rótulo de extravagância — e nunca no seu tempo compreendido como anunciador do que viriam a ser consideradas importantes conquistas formais da pintura. 
[Aníbal Fernandes]

Contos Bravios | Emilia Pardo Bazán

 

Contos Bravios 

Emilia Pardo Bazán 


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes 

ISBN 978-989-8833-52-5 | EAN 9789898833525 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 160


Uma insolente presença feminina 
nas letras espanholas do século XIX. 
Uma herdeira das lições do contista Guy de Maupassant.


A condessa de Pardo Bazán foi uma incansável contista, lembrada muitas vezes como o Guy de Maupassant espanhol — de quem colheu, por certo, uma proveitosa lição oficinal. Não pelo estilo, que é exemplo forte de uma vocação castiça, mas pela «velocidade» e pela arte de saber transformar singelas anedotas da vida realem factos literários. O número dos seus contos ainda hoje não é dado como certo, e a sua biógrafa Eva Acosta chega a supor que, reunidos os ainda dispersos por jornais sul-americanos, poderão chegar a seiscentos. 
[…] 
Hoje deixou de ser controversa. É considerada uma importante e singular figura das letras espanholas, a dominar a sua corrente realista e no fim da vida a temperá-la com diferenças sopradas pelo modernismo. E se a Corunha lhe fez um monumento vistoso no jardim de Méndez Núñez, em Madrid podemos vê-la ali no centro, na Rua Princesa (aquele prolongamento mais estreito da Gran Vía, a partir da Praça de Espanha), sentada muito branca numa cadeira erguida até ao alto de um pedestal, como a imaginou Rafael Vela del Castillo para a deixar solidamente celebrada no pequeno jardim chamado… claro está… Das Feministas. 
Emilia Pardo Bazán, la fea, la gorda, que publicou dois livros — La Cocina Española Antigua e La Cocina Española Moderna — sobre aquilo que a tradição gastronómica do seu país mais valorizava — gostava de comer. Fez-se uma obesa de bom garfo, diabética, e o excesso de glicose no sangue causou-lhe úlceras oculares que complicavam com difíceis contratempos os seus momentos de escrita e de leitura. No dia 12 de Maio de 1921 morreu. Nessa manhã tinha começado a escrever mais uma novela: La Esfinge.
[Aníbal Fernandes]

Linha Funda / Deep Line | Nuno Sousa Vieira

 

Linha Funda / Deep Line 

Nuno Sousa Vieira 

Textos de Sérgio Fazenda Rodrigues e Nuno Sousa Vieira 
Traduções de José Gabriel Flores 
Design de Vera Velez 

ISBN 978-989-9006-48-5 | EAN 9789899006485 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 20,75 euros | PVP: 22 euros 
Formato: 20,5 × 26,3 cm (encadernado, com tecido) 
Número de páginas: 144 (a cores) 

Com o apoio da Fundação Carmona e Costa 

Edição bilingue: português-inglês


Nuno Sousa Vieira: 
«Não me lembro da primeira vez que olhei para o céu e muito provavelmente não me irei lembrar da última. Estarei, nesta altura, algures no intervalo entre ambas, procurando encontrar uma nova postura para inscrever uma outra tomada de vista.»


Nuno Sousa Vieira desenvolve o seu trabalho em torno da presença e da percepção do objecto artístico, ancorando-se nas práticas do desenho, da escultura e da instalação. Numa lógica que inclui registo gráfico, objecto e espaço, o artista questiona a natureza e a leitura da obra para reflectir sobre os lugares da sua produção e legitimação. Debatendo a importância do estúdio, a noção de site-specific e a expressão do local de exposição, Sousa Vieira indaga modelos e formatos de trabalho, focando-se nos modos de funcionamento do sistema que os enquadra. 
A importância do que motiva a produção e a relevância do contexto ou dos locais onde esta ocorre, se apreende e valida, informam uma reflexão sobre o modo como a obra surge, se activa e manifesta. Esta reflexão aparece frequentemente associada a uma dimensão performativa que é dada pela acção do artista, quando este manipula e altera os objectos e a exposição, mas também pela posição do espectador que a isso reage. 
[Sérgio Fazenda Rodrigues] 

Tenho vindo a aperceber-me de que para o meu trabalho «ver» é sempre extremamente importante. Interessa-me ir percebendo e entendendo as implicações do ver, ou melhor, ir tomando consciência das deformações inerentes ao acto de ver. Ver é uma acção que, por princípio, «desfigura». E se, por um lado, a nossa visão em perspectiva é prova cabal dessa circunstância, por outro esse acontecimento é corroborado pela física quântica, que comprova que as partículas de um objecto são estimuladas pelas ondas que os movimentos oculares produzem. 
[Nuno Sousa Vieira] 

Nuno Sousa Vieira (Leiria, 1971), doutorado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, é docente no Instituto Politécnico de Tomar desde 2004 e professor convidado na área da Instalação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa desde 2010.

Vaivém | Bruno Pacheco

 


Vaivém 

Bruno Pacheco


Texto de Bruno Marchand 
Design de Maria João Macedo 
Traduções de José Gabriel Flores 

ISBN 978-989-9006-17-1 | EAN 9789899006171 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros 
Formato: 16,5 × 24 cm (encadernado, com tecido) 
Número de páginas: 124 (a cores) 

Com a EGEAC e a Fundação Carmona e Costa 

Edição bilingue: português-inglês



Apresentar pinturas dispostas e sequenciadas nas páginas de livros significa aproximar deliberadamente a experiência pictórica da experiência da leitura.



Contas feitas ao conjunto de obras presentes em Vaivém, o número de combinatórias que esta profusão de relações e de vizinhanças viabilizava situava-se na ordem dos largos milhares. Tal dado não é de somenos importância: de entre todas as suas exposições, esta é aquela em que Bruno Pacheco mais explora o potencial narrativo que a maioria das apresentações públicas (suas ou de outros artistas, em pintura ou noutros media) contém. A presença do livro e a sua íntima relação com a experiência da narrativa, a possibilidade de folhear os volumes e alterar a face visível da exposição, a multiplicidade de obras em presença no mesmo plano e abarcáveis pelo mesmo golpe de olhar, os títulos de cada volume e até a recorrência de algumas imagens (que apareciam em versões distintas em mais do que um livro) eram todos eles elementos que concorriam para o estabelecimento de um contexto posto ao serviço, não propriamente da desorganização da experiência expositiva, mas da sua autonomização. E embora Bruno Pacheco não tenha abdicado de exercer a sua influência através das escolhas que plasmou na organização interna de cada livro, é indiscutível que tudo o que daí em diante projectou teve como objectivo criar condições para reduzir ao mínimo a incidência de qualquer operação de ordem curatorial ou institucional, deixando nas mãos do espectador todos os instrumentos necessários à condução, livre e irrestrita, da sua experiência. Uma outra forma de leitura; o vislumbre de uma partilha radical que faz do espectador um cúmplice, muito mais do que um corpo testemunhal. 
[Bruno Marchand] 

The Return | Bruno Pacheco


The Return 

Bruno Pacheco 


Design de Maria João Macedo 

ISBN 978-989-9006-18-8 | EAN 9789899006188 

Edição: Outubro de 2020 
Preço: 18,87 euros | PVP: 20 euros 
Formato: 24 × 31,5 cm (encadernado, com tecido) 
Número de páginas: 16 (a cores) 

Com a EGEAC e a Fundação Carmona e Costa



Apresentar pinturas dispostas e sequenciadas nas 
páginas de livros significa aproximar 
deliberadamente a experiência pictórica da 
experiência da leitura.

Esta publicação surgiu na sequência da exposição Vaivém, que Bruno Pacheco apresentou na Galeria Quadrum, em Lisboa, entre 11 de Outubro de 2018 e 13 de Janeiro de 2019, e reproduz, na íntegra e à escala, um dos trinta e cinco livros aí expostos. 
A par deste fac-símile foi produzido um catálogo contendo ilustrações de obras, vistas de instalação e um texto de Bruno Marchand, comissário da exposição. Ambas as publicações têm a chancela Documenta, foram desenhadas no Studio Maria João Macedo, e delas foram impressos 300 exemplares na Maiadouro.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Cadernos | Cuadernos 1964-2020 I Jorge Martins

 


Cadernos | Cuadernos 1964-2020 

Jorge Martins 


Edição de Óscar Alonso Molina
 Textos de Óscar Alonso Molina, Joana Baião, Miguel Fernández-Cid, José Gil, Jorge Martins 

ISBN 978-989-9006-36-2 | EAN 9789899006362 

Edição: Julho de 2020 
Preço: 35,85 euros | PVP: 38 euros 
Formato: 17 × 24 cm (brochado) 
Número de páginas: 704 (a cores) 

Com o MARCO – Museo de Arte Contemporánea de Vigo 
Apoio da Fundação Carmona e Costa 

Edição bilingue: português-espanhol



José Gil: «Não formam um diário pessoal ou artístico, nem um livro de confissões ou um conjunto de ensaios sobre a pintura e a arte. Não sendo nada disso, de tudo isso estes Cadernos têm um pouco.»



Tenho de dizer que acho verdadeiramente irónico, e até cómico, ver publicados estes textos que fui escrevendo ao longo dos anos, no meio dos desenhos, esboços e rabiscos, despreocupadamente e quase sem dar por isso.
É claro que alguém acabaria por lê-los, mais cedo ou mais tarde, se os cadernos entretanto não tivessem desaparecido também. 
Assim, aqui ficam tal e qual foram escritos, ao acaso, sem ordem nem nexo, como convém. Apenas eliminei uma dúzia de «desabafos» demasiado pessoais, íntimos, e alguns outros quiçá injustos ou impróprios para consumo.
  [Jorge Martins] 

Jorge Martins mantém nestes escritos uma assombrosa continuidade com o que o seu próprio desenho expressa. As mesmas preocupações, uma lógica semelhante de abordá-las, e um resultado igualmente limpo, despojado e elegante. 
[Óscar Alonso Molina] 

Os escritos reunidos neste livro não nasceram como textos soltos, individuais, pensados para publicar sob pretexto de um evento ou por uma necessidade estética concreta: nasceram acompanhando esboços, apontamentos e essas revelações que fazem dos cadernos dos artistas um desses tesouros em que apetece entrar, passear à maneira de Robert Walser e entreter-nos.
 [Miguel Fernández-Cid]

Assim que vi as dezenas de cadernos e blocos que Jorge Martins reuniu no seu atelier, e os comecei a folhear, tive noção do maravilhoso mundo em que iria mergulhar.
[Joana Baião]