quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

A Mulher 100 Cabeças

A Mulher 100 Cabeças 
Max Ernst


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes 

ISBN 978-989-8902-60-3 | EAN 9789898902603 

Edição: Janeiro de 2022 
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 188

Robert Desnos: «Sujeito ao destino próprio de todo o poeta, Max Ernst arranca assim um pedaço ao maravilhoso e restitui-o à veste despedaçada do real.» 

O poeta é um lobo para a poesia. Combate-a, tira-lhe o valor e destrói-a à dentada e com garras longas. Alimenta-se dela. Tal como na luta eterna, a do combate sem tréguas dos amantes, uma paixão forte como o ódio e a morte une e opõe ao mesmo tempo o poeta e o seu superior ideal. Sem este gosto pelo crime e pelo sangue, não há neste domínio obra válida. 
É este gosto do crime, este sabor a sangue, que caracterizam a obra de Max Ernst, e em particular A Mulher 100 Cabeças; que é, de algum modo, a soma das suas buscas. 
Para o poeta não há alucinações. Há o real. E é ao espectáculo de uma realidade mais extensa do que a vulgarmente conhecida, que o inventor destas colagens nos convida. 
É um novo domínio adquirido à memória pela imaginação, uma colónia conquistada à liberdade do sonho, em proveito do imperialismo do «Já Visto». 
Porque vai ser-nos hoje mostrado um panorama suficientemente grande de todo um desconhecido de pesadelos e visões, para nos ser possível identificar de ora em diante as outras vistas que poderão ser-nos submetidas e nos autorizam a dizer: «isto faz parte do país de A Mulher 100 Cabeças, onde Max Ernst foi o primeiro a penetrar; está situado a uma enorme distância do ponto de chegada dos titãs, à sombra da escada que viu a fuga do Eterno, não longe da estranha gruta onde ratos insólitos se divertem, no território de apanágio dos tremores de terra e das flexíveis subidas de balões, a meio caminho do despertar e do crepúsculo, no país dos sonhos, das luxúrias, dos tenebrosos horrores e das auroras artificiais.» 
Ao longo de toda esta narrativa de viagem, deste diário de exploração, surge a imagem indecisa que nos habita os cérebros no momento preciso onde deixamos, durante um tempo muito curto, de ser homens, e pela graça erótica dos sentidos penetramos num universo de delírio, gemidos e beijos. 
Trata-se, a bem dizer, do conhecimento adquirido de um novo olimpo. (E bem podemos passar a empregar esta palavra, porque está despojada de todo o significado religioso.) 
Os deuses privados de prerrogativas injustas e arbitrárias não são, diga-se de passagem, seres muito humanos (mas nós sê-lo-emos mais?)etemos uma forma de entender-nos perfeitamente com eles e lutar.
[Robert Desnos]

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