Os Ombros da Marquesa – e outras ironias
Émile Zola
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN: 978-989-99307-0-4
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 160
Um Zola irónico, um Zola-outro, excêntrico à grave dureza do mundo
dos seus Rougon-Macquart.
O Émile Zola contista — os seus momentos do romancista em férias — mostra-se exímio a garantir, entre as balizas do espaço que os jornais lhe determinavam, e com grande eficácia, todos os efeitos que imaginou para uma história. Fê-lo sob diferentes humores. Encontramo-lo romântico, dramático, cómico, fantástico, afastado do naturalismo das suas obras centrais e muitas vezes a solicitar-nos aquela «voluntária suspensão da incredulidade» que Coleridge citou como essencial à fruição máxima de certas obras literárias. [Aníbal Fernandes]
«Desde há quinze meses a marquesa está desolada, desesperada, aniquilada. Tem pavorosas enxaquecas, maus humores terríveis. Bate com impaciência nas suas criadas de quarto; e a si mesma bateria, se não tivesse respeito pela sua encantadora pessoa. Ai de mim! Desde há quinze meses a marquesa não frequentou o mais insignificante baile, não teve uma única ocasião para mostrar os ombros.
Já vos falei do bom tempo destes ombros famosos, os mais sólidos sustentáculos do Segundo Império. Ela mostrava-os até aos rins, até ao bico dos seios, e convertia os mais austeros às maravilhas do regime. Foram esses ombros que fizeram, junto dos ministros, nas embaixadas, aplaudir a guerra do México e as outras tolices de Bonaparte. M. Rouher nunca teria consentido no segundo plebiscito se esses ombros lhe não tivessem garantido a vitória.
Estaria a carreira destes ombros terminada? Ela teria de reformar-se, seguindo o exemplo de certos marechais do Império? Já tinham deixado de combater! Ficariam metidos no estojo, quero eu dizer na blusa, como velhas armas enferrujadas com um interesse que só era arqueológico!» [Émile Zola]
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