quarta-feira, 31 de julho de 2013

«Um amigo alemão»

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Em Abril de 2013 foi em Lisboa apresentado o seu livro Diários Portugueses (Portughiesishe Tagebucher), traduzido e anotado exemplarmente por João Barrento e publicado pela Documenta com apoio do Goethe-Institut, numa homenagem em que se associaram o Tatro Nacional D. Maria II e o Goethe, com o director deste, Joachim Bernauer, reunindo a viúva do autor, Christiane (disse esta em depoimento para a RTP que o Instituto fora "uma área extraterritorial"), e intelectuais que testemunharam a actividade de Meyer-Clason entre nós.
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Em Portugal é lembrado pela acção num instituto que, sob a tutela da República Federal da Alemanha, dirigiu com independência, desenvoltura e brilho, menosprezando reparos oficiais e oficiosos do lado alemão ou do português. Avesso à mentalidade de funcionário (que não era), foi no melhor sentido um agente duplo no intercâmbio cultural entre os dois países - e arredores.
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O retrato do País é condescendente e crítico, apaixonado e rigoroso, terno e severo (leia-se, entre exemplos inúmeros, o que em 1971 o autor diz do urbanismo na Caparica, sua praia de refúgio). O seu olhar minucioso e penetrante vê coisas que não vemos por serem corriqueiras, mas igualmente os traços fundos, estáveis e detestáveis. Nada lhe escapa; dos sentimentos velados às intrigas, da burocracia (que abomina) à indiferença, ao deixa-andar, à incapacidade de agir, ao desperdício, ao idealismo.
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Ao retratar-nos, também se auto-retrata como agente cultural cioso de autonomia, adversário de todos os conformismos, que recusa separar a vida pesoal do trabalho profissional, incansável e calmo. Meyer-Clason (n. 1910), faleceu em Munique a 12-2-2012, com 101 anos. Foi pelos seus diários que tardiamente o conheci.»

Francisco Belard, «Um amigo alemão», LER, Julho-Agosto 2013, p.61.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

«"Porgy": a penosa história de um negro na Carolina do Sul» (Mário Rufino)

DuBose Heyward, escritor nascido nos Estados Unidos da América (Carolina do Sul), em 1885, é autor de um dos livros mais representativos das condições sociais do Sul, tanto materiais como psicológicas, do período pós-Secessão: «Porgy», editado agora entre nós pela Sistema Solar.


A história do negro Porgy, pedinte de “profissão” e com deficiência física (pernas) na Carolina do Sul, faz com que DuBose Heyward pertença a uma plêiade de autores, com temática pós-Secessão e/ou de características sulistas, como Margaret Mitchell, Erskine Caldwell, Carson McCullers, Truman Capote, Robert Penn Warren, Flannery O´Connor e William Faulkner.

O autor e Dorothy Heyward, sua esposa, adaptaram o livro para um musical intitulado “Porgy and Bess”. Devido ao enorme sucesso da peça encenada por Gershwin, o próprio livro tem vindo a ser traduzido como “Porgy e Bess”.

Aníbal Fernandes, com o seu texto nesta edição da Sistema Solar, fornece importante contextualização para a construção do sentido da obra.

Com um enredo simples, que se concentra no essencial, “Porgy e Bess” é, além de um romance que se apoia nestas duas personagens, um retrato sociológico pós-libertação dos escravos negros nos EUA. DuBose Heyward não resiste à adopção de um certo romantismo e paternalismo, quando analisa as condições psicológicas e sociais dos negros.

A pobreza honrada e a moralidade da microssociedade representada aproximam-se da postura de, por exemplo, Kipling (n. Índia, 1865-1936) em relação à dialéctica colonizador-colonizado/dominador-dominado, que, por sua vez, viria a ser satirizada por Coetzee (n. África do Sul, 1940- ) em “Foe”.

“Porgy”, publicado em 1925, mantém a contemporaneidade e a relevância presente em obras mais recentes como as de Coetzee, de Naipaul ou dos ensaios de Fannon e Said, entre outras obras e autores.       

A construção sintáctica e a utilização lexical nos diálogos da comunidade atribuem ao texto propriedades do realismo.

“fiquei a saber quem você és... um porco danado, vendilhão das droga que dá cabo do lar dos preto feliz.” (pág. 115)

A imagética da comunidade negra é composta por uma complexa coexistência entre o cristianismo e o paganismo. Os seus hábitos são influenciados pela estrutura moral que advém dessa combinação. A canção, laudatória a Deus (Gospel) ou não, é um recurso muito utilizado, seja no lamento ou na alegria. Espelha, também, as condições sociais e evolução histórica da comunidade negra.

«Ai é mesmo duro ser preto
Ai é mesmo duro ser preto
Ai é mesmo duro ser preto
Onde tu meteu
os direito que te deram?
No colchão de pau dormi
sem melhor para desejar;
mas veio um branco dizer:
agora és livre; vai trabalhar, vai trabalhar!»
Depois, todos se lhe juntaram em coro
«Ai é mesmo duro ser preto...» (pág. 74/75)

“Porgy e Bess”, extraordinária viagem de 170 páginas pela Carolina do Sul, é habitado por personagens com capacidade para criar empatia com o leitor. Porgy é um personagem belo e invulgar.

Mário Rufino, Diário Digital

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Luís Pinheiro de Almeida [Coimbra, 1947]


Parabéns, Luís Pinheiro de Almeida!

Caricaturas do Metro Aeroporto

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A estação do Metro Aeroporto foi inaugurada faz hoje um ano. Um bom pretexto para voltarmos às caricaturas de António Antunes, especialmente criadas para esta nova estação.