sexta-feira, 14 de julho de 2023

Salomé, Salomés…

Salomé, Salomés… 
Gustave Flaubert, Oscar Wilde, Guillaume Apollinaire e ainda Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Castro, Fernando Pessoa 

Tradução, organização e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-568-055-9 | EAN 9789895680559

Edição: Junho de 2023
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 168


A esterilidade do desejo; a neta de Herodes o Grande que Mateus pôs a dançar no seu capítulo 14 e uma imaginativa tradição enfeitou até à deusa da histeria e ao superlativo exemplo da sedução sangrenta.

 



Esta edição reúne textos em prosa de Gustave Flaubert, Oscar Wilde e Guillaume Apollinaire que cumprem, ao serem postos por esta ordem, uma aceitável sucessão cronológica nas suas narrativas. Flaubert demora-se nas horas que precedem o festim onde Salomé executa a dança premiada com a decapitação do Baptista, escolhendo embora como centro da intriga a sua mãe Herodíade, e fazendo de Salomé não mais do que o seu prolongamento físico, capaz de reacender no decrépito Herodes Antipas a maléfica memória da sua já morta paixão; Oscar Wilde escolhe para o seu texto teatral esse mesmo festim, fazendo Salomé perecer por decisão de um Herodes profundamente chocado com o acto que a palavra de tetrarca obrigou a consumar; Apollinaire imagina Salomé depois da sua dança, imagina-a levada para fora da Judeia por um procônsul romano, e destina-a a um final irónico onde a sua cabeça morta parece repetir visualmente o que ela própria impôs ao profeta que a não quis amar.

[…]

A este conjunto foram ainda associados três textos portugueses, de Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Castro e Fernando Pessoa, que em tempos muito impressionados por orientalismos trouxeram às letras portuguesas a perversa bailarina dos Evangelhos. Nem o soneto de Sá-Carneiro nem o poema de Eugénio de Castro podem considerar-se momentos altos entre os que tiveram a figura de Salomé como centro; e os fragmentos de Fernando Pessoa deixam em aberto todas as hipóteses sobre a qualidade do texto como matéria verbal destinada a uma representação dramática.

[Aníbal Fernandes]

Battling Malone, Pugilista

Battling Malone, Pugilista
Louis Hémon

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-568-094-8 | EAN 9789895680948

Edição: Junho de 2023
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 160


O pugilismo a olhar do alto para os outros romances com o mesmo tema. Battling Malone — o jovem, o selvagem, o ingénuo — a identidade conflituosa que Louis Hémon espalhou — espalhando-se a si próprio — por todos os seus romances.

 



Com uma qualidade que surpreendeu, Battling Malone, pugilista escolhia o tema do boxe fazendo-o subir bastante acima do tom que costumava condená-lo a formas literárias que entretinham, em jornais e revistas, leitores pouco exigentes; escolhia o tema do boxe e dos seus jogadores num ambiente inglês tutelado pela aristocracia e por homens de dinheiro, muito povoado por gentlemen. Houve para isto uma decisiva vontade de escritor, expressa num artigo seu de 1905 com o título «Anglomanie»: «Desde há uns nove a doze anos, vemos aparecer periodicamente nas revistas [inglesas] uma mesma história sempre popular. Há nela a rapariga, o herói e o francês. A rapariga é encantadora, o francês atiradiço e o herói um indignado. Ele atira-se ao francês — que as gravuras, como é natural, representam como um homem pequeno, franzino e amaneirado — e administra-lhe uma fenomenal bordoada que deixa todos contentes. Por vezes os dados variam, mas o desfecho é sempre o mesmo. E todas as vezes que eu encontro sob uma nova forma este quadro britânico, fico obcecado pelo desejo de escrever a contrapartida desta mesma história.»

Vários indícios, que encontramos em cartas e artigos de Hémon, fazem crer que ele criou «o desvio da norma» a que chamou Battling Malone em 1909, levando a cabo a sua projectada subversão da história do jogador de boxe inglês e da rapariga que oscila entre o prestígio físico e desportivo do seu compatriota e a menoridade pouco viril de um belo francês.

«Louis Hémon proíbe a si próprio o uso da primeira pessoa do singular», disse Jacques Ferron quando prefaciou Colin-Maillard, «embora nos faça estar sempre na presença de um herói da sua idade, vindo não se sabe de onde, que parece não ter família e nunca, em qualquer caso, se volta para trás quando luta com as necessidades da vida, e nunca lhes tenta escapar de outro modo que não seja pelo sono e pelo amor.»

Battling Malone — o jovem, o selvagem, o ingénuo — personagem que executa uma das variações sobre a identidade conflituosa que Hémon obsessivamente espalhou — espalhando-se a si próprio — por todos os seus romances.

[Aníbal Fernandes]

quinta-feira, 13 de julho de 2023

A Grande Guerra do Modernismo Português

A Grande Guerra do Modernismo Português
Manuela Parreira da Silva

ISBN 978-989-568-024-5 | EAN 9789895680245

Edição: Abril de 2023
Preço: 20,75 euros | PVP: 22 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 344



Manuela Parreira da Silva: «Arte e Guerra poderia mesmo ser um título alternativo. Contudo, o facto de o tempo do conflito mundial coincidir com o da emergência e da consolidação, entre nós, do chamado primeiro Modernismo, levou-me a colocar o foco de análise no campo mais estrito da arte (literatura, pintura, música) da geração de Orpheu




Constitui objectivo primeiro desta obra analisar e discutir a forma como os modernistas portugueses — poetas, prosadores, pintores, músicos — incorporaram a experiência da Primeira Guerra Mundial; como se posicionaram — cada um à sua maneira: fugindo do perigo e refugiando-se em Portugal ou voluntariando-se para a frente de combate; tomando partido por um ou por outro lado das forças em conflito; reflectindo, pintando ou escrevendo sobre o tema —, face à devastação e morte nas trincheiras e cidades da Europa, mas também ao aceso debate político interno e às manobras de bastidores. Em contraponto, procura ainda esta obra mostrar como o chamado movimento modernista, amplo movimento de ruptura, nascido de um mesmo impulso bélico para o confronto e para a edificação de um mundo novo, se envolveu, contra conservadores e detractores, numa outra guerra, metafórica, igualmente violenta e, acima de tudo, transformadora, no campo das artes, da literatura em particular.

 

O primeiro ensaio, «As faces da guerra», apresenta um carácter introdutório, procurando fazer um levantamento das principais facetas que a Guerra de 14-18 tomou, vistas na sua relação biunívoca com as correntes de pensamento e de praxis literário-artística. Os dois seguintes, «Fogo cruzado» e «O olhar d’A Águia», procuram reflectir sobre o combate globalmente travado entre os «orfeicos» e os seus antagonistas (do ponto de vista ideológico e literário), configurando, por assim dizer, uma outra guerra (metafórica). Os restantes sete ensaios centram-se particularmente nos principais modernistas, cujas obras de alguma maneira expressam opiniões sobre a guerra, denunciam e espelham a sua influência, ou simplesmente aparentam ignorá-la.

[Manuela Parreira da Silva]

Miguel Branco: Terra — Ou os Quarenta e Nove Degraus

Miguel Branco: Terra — Ou os Quarenta e Nove Degraus
Miguel Branco
Textos de Bernardo Pinto de Almeida e Emanuele Coccia

ISBN 978-989-568-104-4 | EAN 9789895681044

Edição: Abril de 2023
Preço: 23,58 euros | PVP: 25 euros
Formato: 20,5 × 26 cm (encadernado, com sobrecapa)
Número de páginas: 148 (a cores)

Com a Fundação Carmona e Costa
Edição bilingue: português-inglês


Emanuele Coccia: «A arte, nas mãos de Branco, torna-se o Atlas do novo mundo: um meio para nos orientarmos dentro dos sonhos que as espécies têm entre si.»

 



Toda a nossa realidade experimentada é atravessada por uma cisão original. Não se trata de uma divisão conceptual, mas sim de uma estrutura física e arquitectónica que atribuímos ao espaço, continuamente e sempre que nele nos estabelecemos. Assim que chegamos a um local, separamos a urbe — o espaço que ocupamos, nós, os humanos, composto por vida semelhante à nossa e feito de pedra e de metais, e a floresta, — do latim foris, lá fora, o exterior, onde na nossa imaginação vive tudo o que não partilha as nossas formas e costumes. Esta divisão está na origem de todas as outras: entre a cultura e a natureza, entre a civilização e a barbárie, entre a linguagem ou a razão e a irracionalidade, e se não conseguirmos libertar-nos dela não seremos capazes de ultrapassar todas as outras.

A obra de Miguel Branco é uma das mais poéticas e radicais reflexões acerca de um mundo liberto desta divisão, algo difícil de atingir.

[Emanuele Coccia]

 

[…] o trabalho de Miguel Branco, recuperando para a sua concretização imagens encontradas em obras esquecidas de artistas ditos menores — que permaneceram num limbo de obscuridade relativamente aos cultores da grande forma, como sejam os vários miniaturistas e animalistas dos séculos XVII e XVIII — caminha, de vários modos, para o domínio do que poderemos designar como o campo de uma arte pós-conceptual. Aquela que, inscrevendo embora as lições trazidas e observadas pelos modelos conceptuais anteriores, se afasta no entanto destes para cingir outra realidade que, muito mais do que a de procurar uma relação com a linguagem se situa antes, e propriamente, nesse plano abertamente novo (e em si mesmo ainda inapreensível) que é o de uma pura relação com a imagem.

[Bernardo Pinto de Almeida]

De Natura

De Natura
Cristina Ataíde

Textos de Doris von Drathen, Maria Filomena Molder e Rui Chafes
Design gráfico de Beatriz Horta Correia

ISBN 978-989-568-102-0 | EAN 9789895681020

Edição: Junho de 2023
Preço: 20,75 euros | PVP: 22 euros
Formato: 17 × 24 cm (brochado)
Número de páginas: 176 (a cores)

Com o apoio da DGArtes e da Fundação Carmona e Costa

Edição bilingue: português-inglês


Doris von Drathen: «Ataíde conhece várias formas de jogar com a sua arte e a natureza: por um lado, encontra na natureza pedras, paus, torrões de argila onde reconhece esculturas a que dá visibilidade; por outro, pode pintar com o Riotinto, depois de lhe misturar pigmentos na sua corrente.»

 



Imaginei um encontro entre Bill Viola e Cristina Ataíde (inesperado será só para aqueles que não sabem esperar).

Primeira cena. Ele falaria daquilo que tem aprendido com os seus vídeos. «E o que é?» pergunta ela. Responde ele, «Que ultrapassa aquilo que é suficiente para continuar a fazê-los.» «E, então?» insiste ela. «É que o vídeo é só um instrumento...» Ela interrompe: «Para ver qualquer coisa sobre a vida e sobre ti próprio?» «É isso.»

Segunda cena. É ainda ele que começa: «Imagina o que descobri nas minhas leituras sobre o funcionamento do cérebro.» «Sim, é apaixonante e surpreendente», concorda ela, adiantando-se-lhe já. «É que,» continua ele, «todos os neurónios estão desligados uns dos outros, começando e terminando com um pequeníssimo quiasma de espaço vazio.» E ela comenta: «Qualquer coisa de imprevisível, não é? O nosso cérebro a ajudar-nos a abrir finíssimas brechas entre as nossas convicções, que se costumam agarrar umas às outras, formando uma pasta agreste.» «Sim», concorda ele, acrescentando: «Todos os nossos pensamentos têm no seu cerne esta pequena estampagem de nada.» Ela promete entusiasmada: «Vou já oferecer-te o meu óculo.»

[Maria Filomena Molder]

 

Querida Cristina

Os meses passaram, o sol brilhou e a chuva deixou-nos em silêncio, as viagens sucederam-se, também os trabalhos e as alegrias e as dores e as imagens que se evaporam no ar, à nossa frente… em todo este tempo o maravilhoso livrinho que me ofereceste não parou de me observar, de me esperar, de me acompanhar (sempre dentro de mim). O teu gesto, tão bonito e tão cheio de significado, deixou-me sem palavras, surpreso por existirem pessoas como tu que, neste mundo já tão pouco rigoroso, seguem o rigor cristalino do seu coração, assim, sem medo nem inquietação. Encontramo-nos poucas vezes mas tenho sempre a impressão de que nos acompanhamos há anos, na distância. Essa beleza não a quero perder! […]

Tens razão, tudo são trocas, entre nós, os homens que pensamos com a alma.

[Rui Chafes]