segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Jésus-la-Caille

 

Jésus-la-Caille
Francis Carco

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-568-071-9 | EAN 9789895680719

Edição: Outubro de 2023
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 184

O controverso aparecimento de Carco como romancista. A homossexualidade masculina com uma audácia então desconhecida na literatura francesa. E o nome Jesus a baptizar… inocentemente… um gigolô.



 

Em 1914, o ano em que foi publicado pela primeira vez Jésus-la-Caille, Francis Carco só tinha como antecedentes literários uns quantos versos a que o autor chamava canções agridoces e podiam ser lidos em edições pobres, com reduzida circulação nas livrarias. Viviam-se dias de guerra, mas com uma presença editorial marcada por alguns sobressaltos. Poucos meses antes, os leitores franceses tinham sido surpreendidos com os versos de Alcools de Apollinaire e os de La Prose du Transsibérien de Blaise Cendrars; Barrès publicava o seu melhor livro, La Colline inspirée, e Martin du Gard provocava amenamente os católicos com Jean Barois; Proust dava a conhecer uma primeira amostra do seu enorme romance, e chamava-lhe Du Côté de chez Swann; Alain-Fournier, a poucos meses da bala alemã que o ia matar, mostrava-se com todas as seduções do seu Le Grand Meaulnes; Gide supunha-se impertinente com Les Caves du Vatican e Raymond Roussel fora de todas as regras com Locus Solus; o Jean-Christophe de Romain Rolland recebia o Grande Prémio da Academia Francesa.

No meio desta efervescente convivência criativa Jésus-la-Caille, a primeira obra em prosa de Francis Carco (que viria a ter a sua versão definitiva em 1917), levantava hesitações conservadoras aos editores de Paris. Era a primeira vez que a homossexualidade masculina da prostituição de engate surgia com tanta audácia num romance da literatura francesa. Ainda por cima, com um título que se atrevia a dar o nome de Jésus a um gigolô e a acrescentar-lhe na alcunha um La Caille, que embora significasse na linguagem vulgar uma inocente codorniz, tinha no calão da época o sentido de «a trampa». O som destas palavras, que num inevitável desvio de significação poderia sugerir Jesus a Trampa, era um mau gosto que roçava o sacrilégio. (Registe-se que muitos anos depois, em 1955, o banal filme de André Pergament baseado neste romance — com um dos primeiros papéis no cinema de Jeanne Moreau — achou que devia adoçar o seu título para um bem comportado M’sieur La Caille).

[Aníbal Fernandes]

Carmen seguido de Lokis

 

Carmen seguido de Lokis
Prosper Mérimée

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-568-112-9 | EAN 9789895681129

Edição: Outubro de 2023
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 160


Dois pontos altos nas novelas de Mérimée. «Carmen», a oportunidade de uma dissertação sobre o mundo dos ciganos ibéricos. «Lokis», um fantástico de escabroso subentendido que recupera e transtorna uma lenda da tradição eslava.




Um livro onde Carmen e Lokis surgem reunidos pode não ser mais do que a associação de dois pontos altos na série de contos e curtas novelas que se fizeram o essencial na obra literária de Prosper Mérimée; mas reúne, além disto, duas histórias--pretexto; ou seja, em Carmen a oportunidade de uma dissertação sobre o mundo e os hábitos dos ciganos ibéricos; em Lokis um fantástico de escabroso subentendido que recupera e transtorna uma lenda da tradição eslava, aqui deslocada até à Lituânia como pretexto para uma reflexão sobre a estranha língua samogítica que Mérimée designa no texto com a forma popular jmud.

Mérimée nasceu em Paris no mês de Setembro do ano 1803; o seu pai, pintor de quadros banais, tinha o curioso nome de Léonor Mérimée; a sua mãe anglófila, culta e autoritária, dominou o filho com uma possessiva relação edipiana e durante toda a vida incitou-o à prudência de um celibato que ele temperou com relações cuidadosamente desviadas da vigilância materna. «Não podes confiar nas mulheres» — dizia ela, cautelosa ao ponto de mandar gravar-lhe num anel uma variante mais vaga do mesmo conselho: «Lembra-te de que deves desconfiar», uma frase que surgia no aro de ouro em minúsculas letras gregas e se reduzia, na gramática pessoal de Madame Mérimée, aos perigos de convivências mais íntimas com o elemento feminino.

[…]

Mérimée, um dos românticos mais corajosos e marcantes da sua geração, teve de J. Barbey d’Aurevilly esta curiosa frase: «Talento brilhante e negro como a Espanha que ele pintou, e com um refinamento que chega à malvadez. Há Goya em Mérimée.»

[Aníbal Fernandes]

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Callas e os Seus Duplos — Metamorfoses da Aura na Era Digital

 

Callas e os Seus Duplos — Metamorfoses da Aura na Era Digital
João Pedro Cachopo


ISBN 978-989-568-114-3 | EAN 9789895681143

Edição: Outubro de 2023
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 232 (a cores)


«Quase meio século após a morte de Maria Callas (1923-1977), o mito da cantora persiste. Somando-se a exposições, documentários e biografias, multiplicam-se os projectos em que os novos meios desempenham um papel decisivo: um dueto virtual, um espectáculo holográfico, uma ópera multimédia.

Callas e os Seus Duplos examina o paradoxo que atravessa estes projectos. Por um lado, o fascínio pela disseminação de imagens, cópias e duplos é manifesto, e é com entusiasmo que se recorre a meios digitais para reanimar a memória e o legado da intérprete. Por outro lado, mantém-se a obsessão pelos valores do original: a autenticidade, a presença, a imediatez. Afinal, numa era marcada pelo triunfo da reprodutibilidade técnica, a aura sofre um declínio ou uma metamorfose? E o que nos diz a aceleração do mito de Callas, não apenas sobre a artista, mas também sobre nós e sobre o nosso tempo?»

[João Pedro Cachopo]

As 4 Idades da Filosofia — E Outros Textos

 

As 4 Idades da Filosofia — E Outros Textos
Sousa Dias


ISBN 978-989-568-113-6 | EAN 9789895681136

Edição: Outubro de 2023
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 172

As grandes épocas históricas da filosofia: sua distinção do ponto de vista da concepção predominante em cada uma delas do pensamento e da própria filosofia — De que falamos quando falamos de arte contemporânea? — Poesia, ofício e não epifania: captura do inefável na linguagem — Cinema e literatura, condições e limites da traduzibilidade entre si das artes — Manuel Rosa, ou a essência desnudada da escultura — Empédocles, a sua actualidade, e as duas imagens dos filósofos: a imagem histórica-filosófica e a imagem extra-histórica, intemporal.




O título deste texto [«As 4 Idades da Filosofia»] repete o de outro, publicado num livro anterior. Tratava-se aí de diferenciar as idades históricas da filosofia na óptica das categorias finito/infinito. Aqui, trata-se de diferenciar essas mesmas idades mas em função das concepções do pensamento mais características de cada uma delas. Inspira-nos, neste desígnio, a distinção introduzida por Deleuze entre ideologia e noologia e as teses noológicas por ele expostas no seu ensaio sobre a filosofia. Ideologia, no sentido dessa distinção, remete para o estudo das doutrinas dos filósofos, dos seus sistemas de ideias, das suas constelações de conceitos. Em contrapartida, a noologia tem por objecto o estudo daquilo a que aquele filósofo chama as «imagens do pensamento», quer dizer, das respostas, tantas vezes implícitas, dos filósofos à questão «o que é pensar?», «o que é filosofar?». A noologia (de nous, palavra grega para espírito, ou pensamento) consiste, pois, na tematização das formas filosóficas de pensar tomadas em si mesmas, do pensamento do pensamento, da auto-imagem do filosofar pressuposta por cada filosofia, por toda a ideação conceptual, pela criação de ideologias filosóficas.

[Sousa Dias]

1983

 

1983
João Pedro Vale, Nuno Alexandre Ferreira

Textos de Maria e Armando Cabral, Alexandre Melo, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, Mário Cesariny, André Tecedeiro
Tradução de Colin Ginks
Design gráfico de vivóeusébio

ISBN 978-989-568-109-9 | EAN 9789895681099

Edição: Outubro de 2023
Preço: 26,42 euros | PVP: 28 euros
Formato: 15 × 24 cm (brochado)
Número de páginas: 332 (a cores)

Edição bilingue: português-inglês
Com a Rialto6


«Uma cama de alarme antes da eternidade» Mário Cesariny, «O Navio de Espelhos», in Titânia e a Cidade Queimada, 1977

 



1983 é título de uma instalação e performance evocando uma cena de rua, em noite chuvosa, numa zona de Lisboa por vezes chamada marginal no que a sexo diz respeito. Uma paragem de autocarro, dois homens sentados.

1983 é também o ano das primeiras notícias sobre SIDA em Portugal. Uma crise global revelou então — como hoje a emergência climática, a COVID ou o terrorismo de Putin — a eminente vulnerabilidade da vida e liberdade humanas.

A SIDA revelou também a homofobia estrutural que atrasou de modo criminoso as decisões políticas necessárias para a enfrentar e desencadeou uma vaga de militâncias que hoje, quarenta anos depois, manifestam evoluções significativas nas lutas anti-racistas, feministas e contra o totalitarismo heteronormativo, constituindo decisiva parte integrante da luta contra as novas vagas com vocação neofascista (de Trump a Bolsonaro).

Em Portugal, por razões históricas que se podem considerar evidentes (o longo período de ditadura política e a hegemonia das versões mais conservadoras da religião católica), não há uma linhagem explícita de «arte gay» (nem mesmo nos anos 60) e muito menos uma presença significativa das temáticas e debates queer na área das artes plásticas. O trabalho de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, além da relevância no campo específico da escultura/instalação e dos «filmes de artista» — nomeadamente variações queer, ou camp, a partir de Moby Dick e Werther —, tem uma relevância política e ideológica que em Portugal podemos considerar excepcional.

[Alexandre Melo]

O Armário – 40 Modos de Usar


O Armário – 40 Modos de Usar
Mariana Gomes, Armanda Duarte, António Caramelo, Bárbara Assis Pacheco, Carlos Correia, Pedro Vaz, Marta Caldas, Thierry Simões, Ana Vidigal, Rui Horta Pereira, Hugo Barata, António Olaio, Catarina Leitão, Felipe Arturo, Tomás Cunha Ferreira, André Alves, Jaime Welsh e Manuel Tainha, Jérémy Pajeanc, Raquel Melgue e Sónia Baptista, Cecília Costa, Sara & André, João Jacinto, Ana Jotta, Gonçalo Barreiros, Rita GT, Nuno Henrique, Bruno Cidra, Constança Arouca, Alice Geirinhas, Diogo Evangelista, João Marçal, Sara Mealha, Francisca Aires Mateus, Andreia Santana, André Romão, Martinha Maia, João Fonte Santa, Musa paradisiaca, António Júlio Duarte e Sandro Aguilar, Lea Managil

Edição de Benedita Pestana e José Roseira Textos de André Sousa, Francisca Portugal, Maria do Mar Fazenda e Benedita Pestana, Pedro Barateiro, Susana Pomba, Rodrigo Silva 
Projecto editorial, edição e design de Ana Baliza
Desenho técnico de Andreia d’Almeida

ISBN 978-989-568-108-2 | EAN 9789895681082

Edição: Julho de 2022
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 18,5 × 21,1 cm (brochado)
Número de páginas: 144 (duotone)
Com o apoio da DGArtes

Maria do Mar: «O Armário é um contador de histórias. Gosto desta tua formulação para descrever este livro, por várias razões: montar uma exposição é sempre contar uma história, o artista como contador de histórias é também uma ideia que me conforta (conto com essas possibilidades para pensar o mundo) e, finalmente, o Armário, o objecto que vira sujeito.»

 



A quem nos dirigimos quando apresentamos um livro? De quem são as mãos que folheiam estas páginas ou os olhos que decifram estas letras? Esta questão é sempre pertinente, mas no caso do objeto que tem (tens?) nas mãos ela palpita e altera o sentido das palavras que aqui depositamos, hesitando entre os dois públicos que imaginamos no lugar do leitor. Dois, porque esta publicação é dúplice nas suas intenções. Primeiro, ela é um exercício íntimo de reciprocidade, um trabalho que responde à confiança e carinho que tantos artistas, amigos e companheiros de viagem depositaram neste projeto. Eles conhecem-nos e dispensam explicações que serão sempre incompletas, porque inadequadas a este suporte tão plano e literal. Para esse leitor ou leitora, este livro faz-se como lembrança e agradecimento; organiza-se em episódios breves que tentam respeitar a memória cronológica de experiências muito diferentes que, ao longo de nove anos, povoaram uma sala do Anexo A do n.º 128 da Calçada da Estrela.

[Benedita Pestana e José Roseira]

Partida do Fim

 

Partida do Fim
Diogo Bolota


Textos de Ana Anacleto, Eva Mendes e Diogo Bolota
Fotografia de Maria Leonardo Cabrita
Tradução de José Gabriel Flores

ISBN 978-989-568-101-3 | EAN 9789895681013

Edição: Outubro de 2023
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 17 × 22 cm (brochado)
Número de páginas: 102 (a cores)

Edição bilingue: português-inglês
Com a Giefarte



Mudamos o contexto (como sugere Wittgenstein) e mudamos o sentido: uma «partida» pode afinal ser também isso mesmo: uma armadilha.




Este livro foi publicado por ocasião da exposição Partida do Fim, de Diogo Bolota, com curadoria de Ana Anacleto, realizada na Giefarte, de 14 de Abril a 9 de Junho de 2023.

 

Assumindo uma continuidade processual — que tem vindo a ser revelada nos contextos expositivos que tem integrado —, um manifesto interesse pela linguagem, pelos processos interpretativos, pela circularidade e pela dinâmica do jogo enquanto metáfora da vida e da própria condição humana, o artista propõe-nos a criação de um ambiente imersivo, detalhadamente pensado para a edificação de uma espécie de armadilha interpretativa. A presença e cuidada distribuição das obras no espaço, a sua envolvente, a escala e os seus aspectos materiais e formais ajudam a construir um universo de combinatória e estratégia que em muito favorece a instauração de um lugar de questionamento e de especulação.

Há uma secura, uma espécie de clareza formal seca que atravessa toda a exposição e que — como é aliás característico no seu trabalho — constitui uma extraordinária matriz para a concentração de uma temperatura psicológica tensa. Um estado de suspensão psicológica, que é criado pela presença das várias imagens de bolas de bilhar que parecem flutuar sobre fundos negros profundos (e sabemos o quanto o bilhar é um jogo que concilia aspectos de perícia e execução, com estratégia e azar, e o quanto o campo especulativo é, por inerência, o seu território privilegiado de actuação).

Encontramo-nos no território do jogo (desportivo ou recreativo, justo ou manipulado, vivido ou performatizado) onde a relação entre as regras e o livre-arbítrio se estabelece em permanente tensão, e onde a manifestação dos estados emocionais e psicológicos promove uma inevitável aproximação à vida.

[Ana Anacleto]