sábado, 18 de abril de 2020

Nossa Senhora dos Ratos I Rachilde


Nossa Senhora dos Ratos
Rachilde

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-8833-44-0 | EAN 9789898833440

Edição: Março de 2020
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 176



Ninguém subiu até ao mosteiro… Porque não deve tocar-se em nada nas casas malditas de onde até os ratos fogem, como se elas lhes metessem medo.


Na França, Filipe o Belo cultivou contra eles uma animosidade que chegou até ao irreprimível desejo da sua extinção; desígnio antecedido por outros factos que facilitaram os seus objectivos. Tudo começou porque o papa Bonifácio VIII fez uma bula pontifícia que determinava a supremacia do seu poder católico sobre o poder temporal. Filipe o Belo reagiu contra esta hierarquia; suportou-a mal durante a vigência de Bonifácio e do papa de curto reinado Bento XI, mas conseguiu que o seu papa sucessor, Clemente V, mudasse a sua residência para França. Este papa fora do Vaticano, instalado em Avinhão, foi ameno em relação ao poder temporal do rei. Rei e papa conviveram sob uma tolerância mútua e cooperativa; e decidiram colaborar no que fosse necessário para a extinção daqueles templários com armas já depostas e confortável ociosidade, e para a apropriação das suas riquezas.
Houve um metódico extermínio de templários franceses, depois de julgamentos sumários e autos-da-fé que a ferro e fogo os eliminaram em grande número, incluído nele o seu chefe máximo Jacques de Molay; mas houve, ainda assim, a lograda fuga de muitos para a Península Ibérica e sobretudo para a Escócia, onde se instalaram com outras designações de ordem e onde exerceram a sua vocação bélica (Portugal ficou a dever à sua preciosa colaboração a tomada de Santarém e a de Alcácer do Sal aos Mouros).
É neste contexto de extermínio dos templários franceses que deve compreender-se a história que Rachilde conta no seu romance Nossa Senhora dos Ratos (1931); com monges a esmorecerem numa saudosa melancolia que lhes traz à memória a sua guerra aos «infiéis» usurpadores do túmulo do Cristo, e a lutarem com uma resistência sem armas contra o rei de França e o papa de Avinhão. A terem uma tardia consciência da inutilidade da sua riqueza, a viverem num castelo-convento com estruturas fisicamente aliadas ao superior e implacável desígnio que determinava a sua extinção; a desaparecerem… mortos pelos archeiros do rei ou a escaparem, com hábeis fugas além fronteiras, às torturas e aos castigos de Filipe o Belo.
[Aníbal Fernandes]

Manuel António Pina — Desimaginar o Mundo (ensaios)


Manuel António Pina — Desimaginar o Mundo (ensaios)
Aline Duque Erthal, Danilo Bueno, Eduardo Lourenço, Gustavo Rubim, Joana Matos Frias, Leonardo Gandolfi, Maria João Reynaud, Osvaldo Manuel Silvestre, Paloma Roriz, Paola Poma, Pedro Eiras, Rita Basílio, Silvina Rodrigues Lopes, Tarso de Melo

Organização de Rita Basílio e Sónia Rafael

ISBN 978-989-9006-25-6 | EAN 9789899006256

Edição: Março de 2020
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 208



Manuel António Pina: «Quem lê, lê-se.»


«Quem lê, lê-se», diz Manuel António Pina, que relembra também que «um texto literário nunca é algo acabado, é antes uma realidade instável e mutante, que está permanentemente a ser feita e refeita pelas leituras que suscita, incluindo as leitura que dele o próprio autor fizer.»
Comemorando o 75.º aniversário do nascimento do Poeta, o livro Manuel António Pina — Desimaginar o Mundo reúne algumas dessas leituras que, cúmplices da realidade dos textos, respondem à sua (con)vocação de inacabamento, garantia vital, e por isso mutante, de permanente abertura a um diálogo infinito.


Manuel António Pina é, entre outras coisas, um romântico anti-romântico. A sua visão não procede da consciência de um espaço fantástico, como a de qualquer Avatar, visado como de pura imaginação. O seu espaço matricial, se paradoxo se consente é o da Morte, com minúscula e não com maiúscula como o de Antero. Também não é o da Morte apavorada e domesticada de Pessoa: o daquilo que não pode ser dito — e ainda menos enfrentado — sem nos retirarmos da existência que nos supomos. É só aquilo que lá está mesmo sem se anunciar.
Em suma, o que nos divide não nos deixa unir a nós mesmos. Agora. Não depois daquilo que chamamos a «nossa morte», o impensável por excelência.
A morte, a sua presença, se assim se pode dizer, no texto e na percepção dela na Poesia de Manuel António Pina, é qualquer coisa que, desde sempre, faz corpo connosco, que embebe o nosso quotidiano ou se torna fantasma no quarto desconhecido onde, de repente, acordamos outros. É, sobretudo, aquilo que uma vez percebido não nos deixa dizer eu, sem que dessa nomeação imortalizante se levante essa espécie de fantasma que nunca mais se dissolverá na bruma da vida, que não é a do Outro, mas o outro de nós mesmos.
[Eduardo Lourenço]

The I of the Beeholder I Musa paradisiaca


The I of the Beeholder
Musa paradisiaca

Texto de Filipa Oliveira, com João Carlos Costa e Lotte Allan

ISBN 978-989-9006-26-3 | EAN 9789899006263

Edição: Fevereiro de 2020
Preço: 33,02 euros | PVP: 35 euros
Formato: 22 x 28 cm (encadernado)
Número de páginas: 128 (a cores)

Com a Fundação Carmona e Costa
Edição bilingue: português-inglês



Este projecto nasceu do desafio de definir o papel do desenho na prática artística de 
Musa paradisiaca.


Este livro foi publicado por ocasião da exposição «The I of the Beeholder», de Musa paradisiaca, com curadoria de Filipa Oliveira, realizada na Fundação Carmona e Costa entre 25 de Janeiro e 7 de Março de 2020.


Em 2015, Musa paradisíaca [Eduardo Guerra, Miguel Ferrão] recebeu uma carta de João Carlos Costa, um rapaz autista com 19 anos que acreditava que a forma colaborativa de trabalhar, que define Musa paradisíaca, poderia ser um veículo para que a voz dele fosse representada no mundo. A carta ficou guardada uns anos, era um assunto delicado e difícil, mas a relação entre Musa paradisíaca e João Carlos foi crescendo e solidificando. Tinham, de facto, um pensamento que os aproximava: a procura da hipersensibilidade no mundo.
Esta exposição é um momento dessa procura, desse caminho que estão a fazer juntos. O João Carlos era, assim, uma das pessoas com quem eu queria conversar sobre os temas que me pareciam fundamentais reflectir a partir da exposição e do próprio trabalho de Musa paradisíaca. A outra era a actriz Charlotte Allan (Lotte). […]
E começaram a desenhar. Juntos, sempre a quatro mãos, sendo indistinguível o traço de cada. São desenhos que nos transportam para um universo infantil. Parecem doodles ou desenhos de crianças. Parecem um quase nada, são «parvos» como lhes chamam, mas muito sérios. Carregam um peso enorme consigo. Um peso da História, da arte bruta por exemplo, mas o peso de um pensamento intrincado que os sustenta.
Musa paradisiaca nunca poderia fazer desenhos apenas. Toda a sua essência assenta na ideia de pluralidade. Assim, deram estes desenhos a Lotte, para que os traduzisse e os interpretasse. Mais, para que os incorporasse em si mesma.
E foi isso que fez. Em quatro peças de som, Lotte começa por descrevê-los através de um sistema de tentativa e erro: isto parece aquilo, ou podia ser isto… vai devagarinho entrando em cada desenho, ficando mais próxima do seu significado, até que mergulha neles, transformando-se na sua voz. Já não é Lotte quem nos fala, mas o próprio desenho através dela. Como se estivesse temporariamente possuída por cada desenho. Uma versão Poltergeist, mas em que o génio do mal é substituído por desenhos que finalmente encontraram uma voz que falasse por eles.
[Filipa Oliveira]

(Im)permanência I Manuel Botelho

(Im)permanência
Manuel Botelho

Textos de Filipa Oliveira, João Pinharanda e Manuel Botelho

ISBN 978-989-9006-23-2 | EAN 9789899006232

Edição: Janeiro de 2020
Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros
Formato: 30,5 x 21 cm (brochado)
Número de páginas: 128 (a cores)

Com a Câmara Municipal de Almada
Edição bilingue: português-inglês



A morte é, tal como a vida, um leve fumo branco que se esvai na atmosfera.


Este livro foi publicado por ocasião da exposição (Im)permanência, de Manuel Botelho, com curadoria de Filipa Oliveira, encomendada e produzida pela Câmara Municipal de Almada, a qual teve lugar no Convento dos Capuchos, entre 9 de Novembro de 2019 e 26 de Abril de 2020. Esta exposição foi feita em parceria com o Museu Nacional de Arte Antiga, onde a segunda parte esteve patente entre 28 de Novembro de 2019 e 22 de Março de 2020.


As fotografias, elas também impermanentes, tentam corporificar uma ausência, torná-la presente. Se são testemunho da ruína, são igualmente lugar da materialização de uma presença pura e simples. São, por outro lado, sinal de algo que está para além do material, algo espiritual, algo atemporal. Simbolizam toda a humanidade, em silêncio, cruzando os tempos.
No Convento dos Capuchos de Almada, espaço de silêncio, de meditação e do atemporal, encontraram o lugar perfeito para virem à luz, numa feliz parceria com o Museu Nacional de Arte Antiga, que acolhe um núcleo dedicado ao Mosteiro da Batalha. 
[Filipa Oliveira]


Manuel Botelho afeiçoou-se aos corpos jacentes, às arcas maciças, às tampas amovíveis, à figuração decorativa acessória e simbólica, às arquitecturas que tudo enquadram; afeiçoou-se às sombras, ao pó, às manchas de humidade, ao rendilhado da pedra, às texturas e cores; afeiçoou-se ao tempo; […]. As suas fotografias cumprem, num subjectivo sistema de equivalência das artes, o papel da escultura tumular que registam. […] E, vendo-se morto num tempo passado que nunca poderia ter sido seu, vê-se sobrevivo num futuro que é agora (o desta exposição) e num futuro que já não será seu (aquele em que a perenidade da sua obra acompanhará a perenidade destas esculturas). 
[João Pinharanda]


O meu trabalho baseou-se sempre num questionamento dos motivos por que hoje faço isto e amanhã aquilo, hoje com esta configuração e amanhã com aquela, hoje com os meios próprios da pintura e amanhã com vídeos ou fotografias. Isto porque acredito que a essência da arte é aí que reside. Para mim a arte tem de ser pensamento e interrogação… interrogação constante, mesmo que as respostas tantas vezes nos iludam e se escapem por entre os dedos como a areia da praia. 
[Manuel Botelho]

Desterrado I António Olaio


Desterrado
António Olaio

ISBN 978-989-9006-24-9 | EAN 9789899006249

Edição: Fevereiro de 2020
Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado)
Número de páginas: 64 (a cores)

Com a Galeria Ala da Frente, Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
Edição bilingue: português-inglês


Temos a presença da pintura, do vídeo e do desenho, num possível equilíbrio que nos levará a questionar o espaço e a nossa presença nele, assim como a nossa relação com o entendimento da arte. Quem observa quem? Quem fica desterrado? 
[António Gonçalves]


Este livro foi publicado por ocasião da exposição Desterrado, de António Olaio, com curadoria de António Gonçalves, na Galeria Ala da Frente, Vila Nova de Famalicão, de 8 de Fevereiro a 22 de Maio de 2020.


Uma performance apresentada a 20 de Setembro de 2017 no Museu Soares dos Reis no Porto, levou Olaio a estabelecer uma relação com a escultura O Desterrado de Soares dos Reis, onde aparecia de fraque numa oposição à nudez da escultura e num questionar dos territórios e das relações que se estabelecem neste meio com as obras. Na Bienal Anozero’19, em Coimbra (2 Novembro a 29 Dezembro de 2019) veio dar seguimento ao percurso iniciado com a performance no Museu Soares dos Reis com a apresentação de uma instalação intitulada Desterrado: Floating Over my Own Ground onde, num mesmo espaço, uma pintura e um vídeo deixavam-nos numa ambivalência da imagem em movimento com a imagem da pintura que pela sua verticalidade e posição elevada nos adensava a inquietação da nossa presença naquele espaço. Os sentidos procuravam ajustar-se, estávamos a flutuar.
António Olaio tem formação em Pintura, mas o seu trabalho vem-se pautando por uma abrangente exploração de linguagens e territórios criativos. Performance, a música (em 1986 forma e integra os Repórter Estrábico), o vídeo, o desenho, a pintura permitem-lhe uma abrangência de meios onde vai aprofundando reflexões sobre a representação e o seu sentido no objecto de arte. Expor num mesmo espaço diferentes suportes e linguagens é levar o observador a ajustar-se, a encontrar soluções de potencial equilíbrio, em resposta à instigação de desassossego que António Olaio lança. Uma provocação que oscila de linhas ténues e linhas de força bem expressa que nos transferem uma unicidade ao trabalho desenvolvido por Olaio.
Nesta exposição temos a presença da pintura, do vídeo e do desenho, num possível equilíbrio que nos levará a questionar o espaço e a nossa presença nele, assim como a nossa relação com o entendimento da arte. Quem observa quem? Quem fica desterrado? 
[António Gonçalves]

Duas Cartilhas — Entrevista de Helena Vaz da Silva com Júlio Pomar seguido de Júlio Pomar: O Artista Fala — Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro


Duas Cartilhas — Entrevista de Helena Vaz da Silva com Júlio Pomar
seguido de
Júlio Pomar: O Artista Fala — Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro
Helena Vaz da Silva, Júlio Pomar, Pedro Faro, Sara Antónia Matos

ISBN 978-989-9006-19-5 | EAN 9789899006195

Edição: Dezembro de 2019

Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 12 x 17 cm (brochado)
Número de páginas: 216

Com o Atelier Museu Júlio Pomar


Considera-se que as duas [entrevistas], realizadas em tempos diferentes, com registos e teores dissemelhantes, constituem em conjunto fontes basilares — quase cartilhas — para o estudo e compreensão da obra deste artista, bem como dos seus processos de trabalho.


A entrevista Júlio Pomar: O artista fala… Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro cuja reimpressão integra agora a colecção Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar, foi na verdade não a sexta, mas a primeira entrevista da colecção a ser realizada. A sua publicação e lançamento ao público, em 2014, num formato diferente deste, deu a compreender um período de trabalho desenvolvido com o artista para a abertura do próprio museu, anunciando alguns dos seus pressupostosde trabalho e da sua linha programática, inclusive. […] A entrevista de Júlio Pomar, que ocorreu no ano e meio que precedeu a abertura do museu, procurou transmitir as preocupações inerentes ao seu trabalho mas também as expectativas que tinha com a abertura e implantação do Atelier-Museu. Hoje, volvidos mais de sete anos de existência do espaço museológico e mais de dois anos da morte do pintor, devido à recorrência com que se volta às suas palavras e se citam partes da entrevista então feita, o Atelier-Museu decidiu reimprimir esta conversa seminal, juntando-lhe outra de grande extensão e abrangência feita por Helena Vaz da Silva. 
[…]
Particularmente para mim, enquanto directora do Atelier-Museu, devo dizer que reeditar estas duas entrevistas, ler e rever palavra a palavra do artista, como que deglutindo-as devagar, incorporando-as, foi um projecto especialmente sensível porque trouxe o pintor — e o amigo! —, falecido em Maio de 2018, outra vez para mais perto, um pouco para mais perto, como se por momentos tivesse sido transportada para cada uma das sessões de convívio proporcionadas pelas gravações da entrevista. Esse recuar no tempo fez-me quase ouvi-lo de novo, como se a sua gargalhada livre ecoasse por detrás do meu ouvido, se isso é possível.
Espera-se que a reedição destas duas «cartilhas», destas duas conversas extensas, traga também essa possibilidade ao leitor, que reconhecerá nas palavras aqui transcritas a natureza e o tom inigualáveis, astutos e absolutamente singulares, da voz e do pensamento de Júlio Pomar. 
[Sara Antónia Matos]

Santa Rita Pintor — Polémicas e Controvérsias I Fernando Rosa Dias (coord.)


Santa Rita Pintor — Polémicas e Controvérsias
Ana Bailão, Carlos Silveira, Fernando Cabral Martins, Fernando Rosa Dias, Guilherme Floro de Santa Rita, João Macdonald, João Mendes Rosa, Luís de Barreiros Tavares, José Leite, Luís Leite, Luís Lyster Franco, Marta Soares, Raquel Henriques da Silva, Sofia Marçal.

Coordenação de Fernando Rosa Dias

ISBN 978-989-9006-20-1 | EAN 9789899006201

Edição: Dezembro de 2019
Preço: 21,70 euros | PVP: 23 euros
Formato: 17 x 24 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 208 (cadernos a cores)

Com a CIEBA


A redescoberta de Santa Rita não termina aqui.  Mas que este livro seja, no presente, um devido contributo. 


Este livro é o resultado de dois dias de conferências, debates e de uma exposição artística e documental, que decorreram na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, nos dias 3 e 4 de Maio de 2018. O evento pretendeu homenagear  e discutir a polémica figura de Santa Rita Pintor, decorridos cem anos do seu falecimento, a 29 de Abril de 1918. 
O referido evento foi constituído por uma exposição bibliográfica na Biblioteca da Faculdade de Belas-Artes e outra na Academia Nacional de Belas-Artes, com obras e documentação desta instituição e da Faculdade de Belas-Artes 
[…]. 
O propósito deste livro não é o de realizar uma pesquisa específica em  torno da biografia artística de Santa Rita Pintor, mas o de colocar em diálogo vários especialistas que trabalharam a sua obra, segundo focos ou abordagens, em geral e fatalmente problemáticos. Salvaguardados com estes princípios a orientar os textos, houve uma gestão da diversidade de autores e das respectivas abordagens à obra de Santa Rita Pintor, aceitando-se a riqueza dessa multiplicidade de perspectivas. Integrando essa pluralidade, este livro organizou-se em partes que estruturam os textos pelas suas abordagens: uma primeira parte avaliando a recepção e o lugar historiográfico da figura de Santa Rita Pintor; uma segunda parte sobre a sua fase académica e os primeiros anos de Paris; uma terceira em torno da sua fase futurista. Segue-se outra parte com entrevistas e depoimentos de familiares de Santa Rita e uma parte final com uma biografia do artista, acompanhada com iconografia e reproduções de obras e textos. Esta organização dos conteúdos procurou assim acentuar a diversidade dos textos, dos estilos e das interpretações em redor da obra e da figura de Santa Rita Pintor, com a plena consciência de que este é um trabalho sempre inacabado. Quando estávamos nos trabalhos de edição soubemos que foi encontrado um desenho assinado no acervo da ANBA, certamente uma das obras que o artista enviou como bolseiro de Paris em finais de 1910. A redescoberta de Santa Rita não termina aqui. Mas que este livro seja, no presente, um devido contributo. 
[Fernando Rosa Dias]

Rua Conde das Antas 53-B 1070-069 Lisboa I Rui Calçada Bastos


Rua Conde das Antas 53-B 1070-069 Lisboa

Rui Calçada Bastos


Textos de Ana Anacleto e Maria Joana Vilela
Design de João M. Machado

ISBN 978-989-8902-29-0 | EAN 9789898902290

Edição: Março de 2020
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 16,3 x 24,5 cm (brochado)
Número de páginas: 96 (a cores)

Com a Giefarte
Edição bilingue: português-inglês



Ana Anacleto: «Recuperando e fazendo eco, tanto da tradição da escultura minimalista quanto da apropriação dadaísta de objectos encontrados, o artista constrói momentos de tensão, pondo em evidência as questões que tradicionalmente associamos à relação que temos com a escultura — peso, equilíbrio, matéria, corpo, imobilidade ou dinâmica.»


Tendo tido a possibilidade de observar de perto a obra de Rui Calçada Bastos, o seu modus operandi, as suas decisões e as suas hesitações, o modo surpreendente como incorpora no seu trabalho acasos e encontros fortuitos, o seu fazer, o seu desfazer e o seu refazer, podemos afirmar que numa relação assumida e voluntária com a memória, o artista constrói (no presente) situações plásticas que decorrem de experiências perceptivas anteriores (localizadas no passado) que, por consequência, irão alimentar as experiências perceptivas que virá a ter (no futuro).
Diríamos que assume, como poucos, uma herança do Romantismo que lhe permite abraçar metodologias conceptuais baseadas no sujeito e nas suas experiências, na valorização da subjectividade, das manifestações emocionais e da intuição, enquanto portas de acesso ao mundo.
[Ana Anacleto]


Aqui, cada obra advém desse múltiplo pensar e fazer, carregando a espessura de um processo continuado, lançado no gesto presente e também habitável que se acciona e se expande diante daquele que a observa. É, pois, um projecto de continuidade em si mesmo. E é assim que ele compõe uma exposição altamente imersiva que reclama ao mergulho no espaço e ao comprometimento com as obras, para além da simples contemplação.
[…]
Diante disto, resta-nos esperar ou, se quisermos, voltar a ver. No esforço da compreensão e do fazer artístico encontra-se em suspenso o devir que será um dia obra ou que surgirá, em algum momento, na obra já vista, diante daquele que a vê e que se dispõe a ver uma e outra vez. Os gestos futuros dependerão, no entanto, da direcção que o trabalho tomar e que é, podemos dizer, antecipadamente imprevisível. Disso que vemos e que compõe uma realidade possível, o artista é mão que vai à frente e o seu olhar é também sempre, mas sempre e eternamente transformado por ela.
[Maria Joana Vilela]

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Curta Introdução a Um Catálogo sem Autor I Cyriaque Villemaux



Curta Introdução a Um Catálogo sem Autor
Cyriaque Villemaux

Design de Horácio Frutuoso

Original em inglês

Tradução do texto 
«Courte introduction pour un catalogue sans auteur», 
para inglês e português, de Joana Frazão

ISBN 978-989-9006-27-0 | EAN 9789899006270

Edição: Fevereiro de 2020
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 17 x 24 cm (brochado)
Número de páginas: 120 (a cores)

Colecção «Série», com o Teatro Praga
Edição trilingue: português-francês-inglês


Um inédito que contribui para pensar, divulgar e até praticar artes performativas.



Foi no ano de 2011 que o coreógrafo conheceu, numa escola de dança, o autor deste catálogo. Ao autor, que se quer manter anónimo, interessa partilhar uma série de propostas coreográficas, literárias, culinárias, sociais, etc., suficientemente abertas para serem realizadas pelos outros… «ou não». Escrito em inglês globish, o livro é um inédito que contribui para pensar, divulgar e até praticar artes performativas.


ed.________ uma chancela composta por duas colecções — «Série» e «Sequência» —, resulta da colaboração entre o Teatro Praga e a editora Sistema Solar.
A coleção «Série» divulga o património imaterial das artes performativas contemporâneas. A coleção «Sequência» organiza-se em livros temáticos oriundos de diversas disciplinas, que ofereçam uma reflexão sobre sistemas de poder e protesto na atualidade.
Sob a coordenação de Rita Natálio e André e. Teodósio, Curta Introdução a Um Catálogo sem Autor é o primeiro livro da coleção «Série», um catálogo sem autor encontrado e prefaciado pelo coreógrafo francês Cyriaque Villemaux.

Cyriaque Villemaux (Offenburg, 1990) estudou alternadamente ballet e dança contemporânea na França e na Bélgica. Em 2008 recebeu uma bolsa para estudar com Alicia Alonso no Ballet Nacional de Cuba. Nesse mesmo ano ingressou na escola s.r.e.a.p., tendo-se graduado em 2012 com a distinção Muito Honor. Desde então tem trabalhado com artistas como Jean Calotte, Marie Piètre Gala, Cie les Claude’s e muitos outros. Actualmente estuda na Universidade Livre de Bruxelas (ULB), no departamento de Artes do Espectáculo, sob a direcção de Jim Ansor. Prepara a sua tese intitulada Biografia e Entrevista: uma prática performativa do outro.

sábado, 4 de abril de 2020

«Aquele exato momento em que Diaghilev revolucionou o bailado, e para sempre», por Beja Santos

Imagem da exposição evocativa dos Ballets Russes no Museu Nacional do Teatro e da Dança

«Os Ballets Russes: Modernidade após Diaghilev, com organização de Isabel Capeloa Gil e Paulo Gomes Pinto, e textos de vários autores, Documenta/Sistema Solar, 2019, é um livro-catálogo graficamente inexcedível, e cujo conteúdo em muito ultrapassa o universo dos curiosos das Artes Plásticas. A narrativa das transformações introduzidas no mundo da dança por um grupo de bailarinos dirigidos por Sergei Diaghilev, que regimentou para a sua operação de audácia nomes prodigiosos da coreografia russa, cenógrafos espantosos, como Pablo Picasso, e criadores de música como Igor Stravinsky, revela que tinha ido mais longe. Almada Negreiros escreverá entusiasmado em 1917, quando a companhia de bailado iniciou a sua única temporada em Lisboa: “A grande vitória da civilização moderna europeia”. Escreve a Comissária Geral da exposição evocativa, Isabel Capeloa Gil, que “entre o escândalo e a admiração, a emulação e a rejeição, os Ballets Russes de Sergei Diaghilev constituíram uma das mais inovadoras experiências de criação artística das primeiras décadas do século XX. No vulcão criativo das experiências modernistas, congrega um programa de arte total em torno da dança, convocando coreógrafos, bailarinos, compositores, artistas plásticos, libertistas e cenógrafos. Renovando o vocabulário da dança e consagrando a fusão do arcaico com o vanguardista, recriam as artes do corpo em ícone da modernidade”. Juntaram-se várias instituições em Portugal na marcação do centenário da temporada portuguesa dos Ballets Russes e inclusivamente artistas plásticos.

Este conceito de obra total não era propriamente novo, Richard Wagner já entendia o seu mundo operático nesta dimensão. Atenda-se no início do século desabrochavam tecnologias, surgia a fotografia, a pintura rompia com o academismo e o figurativismo, o conceito de cultura de massas ganhava expressão na literatura, na música e no teatro, irrompia a Arte Nova, explorando ligações à cultura oriental, por exemplo. Não é por acaso que o bailarino legendário Nijinski se tornou a figura de proa do novo projeto do bailado, ele trazia a radicalidade do gesto, era o porta-voz, bailarino de génio, da renovação de todo o vocabulário, outro génio, Fokin, rompia com a tradição das coreografias clássicas, pintores e escultores pareciam caminhar juntos, Nijinski transformava o corpo em escrita pura. Provavelmente, pela primeira vez na história da civilização e da cultura, a dança ingressava num enorme carrossel de experiências para as quais convergiam artistas de toda a índole, cientistas dos mais variados ramos do saber: no palco, fundiam-se o corpo e a música, agregava-se a coreografia, a performance, antevia-se essa alvorada desperta pela eletricidade, o comboio, o automóvel, o novo discurso sobre o tempo.

A trupe de Diaghilev chega a Lisboa no momento em que Sidónio Pais toma o poder, habitam o luxuoso Avenida Palace, há espetáculos adiados e há tiroteios nas ruas, Lisboa está a uma grande distância do tumulto civilizacional e cultural de Paris. É nesse mundo em guerra, em que as tropas portuguesas já estão nas trincheiras da Flandres, que chega à capital portuguesa esta lufada de vanguardismo, a mensagem portadora dos Ballets Russes não podia encontrar uma aceitação generalizada na sociedade portuguesa. Como se escreve no livro, “Os pálidos reflexos das movimentações das vanguardas europeias foram sentidos, sobretudo, à custa do esforço de um grupo de artistas que havia formado o Orpheu e a Portugal Futurista. O Portugal pacato, provinciano e fragilizado que não tardaria a assistir ao golpe militar de Sidónio Pais, de meados dos anos 1910 tardava em acompanhar o passo das demais nações europeias. A trupe de Sergei Diaghilev desceu do Sud Express na estação do Rossio em Lisboa em 2 de dezembro. Entre o entusiasmo por parte do grupo de modernistas portugueses e uma Lisboa pouco habituada a assistir a soirées de vanguarda, os Ballets Russes estrearam num coliseu completamente cheio”. Foi um repertório clássico aquele que os Ballets Russes apresentaram em Lisboa, Nijinski era uma das sentidas ausências. A trupe considerou que tinha sido dos piores espetáculos apresentados numa capital, vivia-se com muito pouco dinheiro, não havia no horizonte novos contratos, as condições encontradas em Lisboa estavam longe de proporcionar as melhores apresentações. Ficaram os registos de membros da companhia que afirmaram ter-se distraído em Lisboa.

Em jeito de balanço, a revolução provocada pelos Ballets Russes de Diaghilev impulsionaram uma nova lógica para a dança (coreografia e cenografia), a composição musical, as Artes Plásticas. Não foi só Picasso que colaborou, a lista é enorme e inclui nomes sonantes como Juan Gris, Georges Rouault, Max Ernest, Joan Miró, Giorgio De Chirico. Mas na cenografia também primaram franceses como Robert Delaunay, André Derain, Henri Matisse, Georges Braque e muitos outros.

O livro-catálogo releva o material posto em exposição no Museu Nacional do Teatro e da Dança, recorda-se que a companhia já vinha carente além de Nijinski também de Fokin e Tamara Karsavina. E a curadora desta formidável iniciativa termina assim: “A nova centralidade coreográfica do corpo masculino junta-se à crítica do sentido da graça e do equilíbrio numa revolucionária nova gramática do gesto, dando nova intensidade às transformações introduzidas pelas prime movers uma década antes. A modernidade dos Ballets Russes é icónica do excesso, da explosão, da transformação do curto século XX. A dança inspira-se na escultura, a pintura comenta o movimento, a música dialoga com o corpo que se move”. Faz-se ainda referência a um outro núcleo expositivo que esteve a cargo do artista Vasco Araújo.

Uma edição de rara beleza, um grafismo de altíssima qualidade, um livro que qualquer um de nós se orgulhará de ter nas suas estantes.»
Beja Santos