segunda-feira, 28 de maio de 2018

António Botto na Casa Fernando Pessoa e na Flâneur

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Este ensaio procura resgatar e dignificar a memória de Botto em face da sua reputação histórico-literária estabelecida como um «poeta menor», para muitos até «medíocre», acentuando o carácter extraordinário do seu trabalho cultural. Botto conseguiu elevar-se das origens sociais humildes e estabelecer-se como um protagonista importante no meio literário português graças à sua escrita profundamente original, cujo mérito artístico e social era reconhecido por muitos que o apoiavam no seu percurso — com destaque particular para Fernando Pessoa — e que merece ser afirmado também na época contemporânea.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Rakhil I Isabelle Eberhardt

Rakhil
Isabelle Eberhardt

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-8833-26-6 | EAN 9789898833266

Edição: Abril de 2018
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 160


Rakhil e o seu anjo eréctil.
A sensualidade «islâmica» de Isabelle Eberhardt.

O leitor de Rakhil encontrará na sua história dois muçulmanos, severos observadores dos ensinamentos do Corão mas capazes, ainda assim [...] de ignorar que nunca há nas suas palavras qualquer sentença que prescreva a clausura das mulheres e o seu difícil acesso à cultura; capazes também de punir a infidelidade feminina com a morte. E encontrará, sobretudo, o «muçulmano transviado», de comportamento sexual dissoluto e atribuído na sua essência a leituras filosóficas «perversas», incutidas pelo seu contacto com a civilização ocidental.
Ao serviço destas esquemáticas «verdades», a história imaginada pela autora salta dos seus trilhos e carrega-se de bem mais curiosas sombras. Rakhil, a prostituta judia de poucas letras e rendida ao seus próprios encantos, só conhece o amor físico e cheio de competência profissional, mas sofre um dia a nefasta revelação do verdadeiro amor; Mahmud, o árabe culto impregnado pelos vícios mentais e físicos que a autora atribui a más leituras e a más vivências parisienses, preenche o vazio da sua existência pervertida com a busca de um sublime e nunca saciado prazer sexual.
Este predador do sexo lembra-nos na sua insatisfação Casanova. As mulheres são derrotadas na sua resistência pelo Poder do Sedutor, por uma força indefinível e turva que lhe anuncia a qualidade sexual e, como um diapasão, faz o sexo oposto vibrar sob um magnetismo supremo, tão irresistível como o que leva a borboleta a bater as suas asas ao raios benfazejos do sol. Mahmud entra com esta perigosa vantagem erótica numa história pouco previsível em lares árabes severos, com mulheres ociosas e sem mais território do que uma eterna penumbra defendida por cortinas.
Mahmud chega a ter relações sexuais simultâneas com três mulheres da casa do seu pai, receptivas a esta excitante novidade física que as distrai da sua clausura, uma delas sua cunhada, supremo desacato que estremece tudo o que poderíamos esperar de uma história passada num lar árabe convencional. Mas não tardará que este formoso anjo de sexo eréctil sinta um tédio que volúpias caseiras não matam e se entregue às competências, reconhecidas sem esforço em toda a cidade, da profissional Rakhil. 
[Aníbal Fernandes]



Da mesma autora: Histórias da Areia, Sistema Solar, 2013.

Fuga Sem Fim I Joseph Roth

Fuga Sem Fim
Joseph Roth

Tradução do alemão e notas de Álvaro Gonçalves

ISBN: 978-989-8833-29-7 | EAN 9789898833297

Edição: Maio de 2018
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 160


Não tenho nenhuma terra natal, se excluir o facto de que existo em mim próprio e que me sinto em casa comigo mesmo.


Tive que percorrer muitas milhas. Entre o local onde nasci e as cidades, países, aldeias que atravessei nos últimos dez anos para poder permanecer neles e permaneço neles apenas para os abandonar de novo, fica a minha vida, mensurável mais de acordo com as medidas de espaço do que de tempo. As estradas percorridas representam os anos que percorri. O dia do meu nascimento e o meu nome, não estão registados em lado nenhum, em nenhum registo paroquial e em nenhuma conservatória de registo civil. Não tenho nenhuma terra natal, se excluir o facto de que existo em mim próprio e que me sinto em casa comigo mesmo. Onde me sinto mal é onde é a minha pátria. Só me sinto bem no estrangeiro. Se eu me abandono, perco-me. Daí ter o extremo cuidado de ficar sempre comigo mesmo.
Eu nasci numa minúscula aldeola em Wolhynien, no dia 2 de Setembro de 1894, sob o signo de Virgem, com o qual o meu nome Joseph tem uma qualquer vaga relação. A minha mãe era judia, tinha uma estrutura robusta, era uma mulher ligada à terra e era de origem eslava, cantava frequentemente canções ucranianas, pois era muito infeliz; na nossa terra, são os pobres que cantam, não os que são felizes como acontece nos países ocidentais. Por isso, as canções orientais são mais bonitas e quem tem coração e as ouve fica à beira das lágrimas. Ela não tinha nenhum dinheiro e nenhum marido. Pois o meu pai, que, um belo dia, a levou para o ocidente, muito provavelmente apenas para me procriar, deixou-a sozinha em Kattowitz e desapareceu para sempre. Deve ter sido um homem muito estranho, um austríaco vigarista, esbanjava muito, bebia, provavelmente, e morreu enlouquecido quando eu tinha dezasseis anos. A sua especialidade era a melancolia, que herdei dele. Nunca o vi.
[…] 
Nas páginas que se seguem, conto a história do meu amigo, camarada e correligionário Franz Tunda.
Recorro, em parte, aos seus apontamentos, em parte, aos seus relatos.
Não inventei nada, não compus nada. Já não se trata de «ficcionar» a narração. O mais importante é o que foi observado. 
[Joseph Roth]



Do mesmo autor: Judeus Errantes, Sistema Solar, 2013.

O Que É o Arquivo? — Laboratório arte/arquivo



O Que É o Arquivo? — Laboratório arte/arquivo
Vários autores*

Edição de Inês Sapeta Dias, Maria do Mar Fazenda e Susana Nascimento Duarte

ISBN 978-989-8902-15-3 | EAN 9789898902153

Edição: Março de 2018
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 16 x 22 cm (brochado, com cartaz no interior)
Número de páginas: 272 (a cores)

Edição bilingue: português-inglês

[com o Arquivo Municipal de Lisboa — Câmara Municipal de Lisboa]


Artistas e curadores, arquivistas, historiadores ou investigadores juntaram-se em mesas de trabalho e exploraram as relações entre o Arquivo e a Arte.

*Textos de [A] Ana Gandum, André Guedes, António Guerreiro, Delfim Sardo, José Luís Neto, Maria Filomena Molder, Patrícia Leal e Pedro Lagoa; [B] Ana Bigotte Vieira, André Amálio, Daniel Barroca, Filipa César, João Oliveira Duarte, José Manuel Costa, Liliana Coutinho e Nuno Faria.

Este livro reúne um conjunto de textos que resultam das intervenções no primeiro laboratório do ciclo de encontros O que é o Arquivo?, organizado pela Câmara Municipal de Lisboa | Arquivo Municipal de Lisboa — Videoteca, com curadoria de Inês Sapeta Dias, Maria do Mar Fazenda e Susana Nascimento Duarte, que teve lugar no Museu Calouste Gulbenkian — Colecção Moderna, em Lisboa, nos dias 23, 24 e 25 de Março de 2017.

Ao longo de três dias, artistas e curadores, arquivistas, historiadores ou investigadores juntaram-se em mesas de trabalho e exploraram as relações entre o Arquivo e a Arte, contribuindo para um mapeamento desse encontro a partir da produção artística contemporânea portuguesa. O trabalho de edição desta publicação partiu da transcrição dessas sessões e interveio nos textos de modo partilhado com os autores, mantendo as marcas da oralidade das apresentações. Do laboratório fez ainda parte uma mesa-redonda em que se procurou traçar uma sintomatologia do Arquivo no campo onde este se cruza com as Artes. As afinidades inesperadas que surgiram entre as intervenções no encontro determinaram a estrutura deste livro com duas possíveis entradas de leitura.

Teologia da Carne — A pintura de António Gonçalves I Sousa Dias


Teologia da Carne — A pintura de António Gonçalves
Sousa Dias

ISBN: 978-989-8902-11-5 | EAN 9789898902115

Edição: Maio de 2018
Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, caderno a cores)
Número de páginas: 80




Objecto ou objectivo deste pintor: pintar Eros, pintar o desejo erótico. Mas pintá-lo por si, pintar o desejo «ele mesmo».


O que deveras aqui se pinta, o que aqui se dá a ver, é uma sagração. É a sagração de Eros, a celebração artística da sacralidade do desejo erótico e com ele da vida, a afirmação pictural da inocência, «para lá de bem e mal» (Nietzsche), da vontade vital que se exprime no erotismo. A pintura como culto, cena ou encenação do mistério da «encarnação» do desejo e desse modo do mistério da vida, da «anunciação» erótica da vida. Um sentido do sagrado, do espírito sacral da figuração, que decorre de imediato da apresentação políptica, retabular, desta pintura. Uma espécie de teologia da vida legível na «textualidade» puramente visual composta pelas várias figuras dos polípticos.


Sousa Dias nasceu no Porto em 1956. Professor de Filosofia, lecciona actualmente no ICAFG (Porto). Publicou, entre outros livros, Grandeza de Marx — Por uma política do impossível (Assírio & Alvim, 2011), Lógica do Acontecimento — Introdução à filosofia de Deleuze (2.ª edição aumentada, Documenta, 2012), O Que É Poesia? (3.ª edição aumentada, Documenta, 2014), Žižek, Marx & Beckett — E a democracia por vir (Documenta, 2014), O Riso de Mozart — Música, Pintura, Cinema, Literatura (Documenta, 2016), Pre-Apocalipse Now — Diálogo com Maria João Cantinho sobre política, estética e filosofia (Documenta, 2016). Traduziu para a Documenta: Gilles Deleuze, A Imagem-Tempo — Cinema 2 (2015), A Imagem-Movimento — Cinema 1 (2016).


Cratera I Miguel Branco


Cratera
Miguel Branco

Texto de Bernardo Pinto de Almeida

ISBN 978-989-8902-13-9 | EAN 9789898902139

Edição: Março de 2018
Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado)
Número de páginas: 64 (a cores)

Edição bilingue: português-inglês

[com a Galeria Ala da Frente — Câmara Municipal de Famalicão]



Sombrias mas, ao mesmo tempo, acutilantes, estas imagens […] permitem-nos reconstruir, a partir do mais puro espanto, e da recriação de uma inquietante estranheza […] um olhar distanciado, mas ainda assim atento, sobre o mundo que habitamos.


Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Miguel Branco — Cratera», com curadoria de António Gonçalves, realizada na Galeria Ala da Frente, em Vila Nova de Famalicão, de 3 de Fevereiro a 18 de Maio de 2018, em colaboração com a Galeria Pedro Cera.

Poderemos entender, nesta sucessão de crateras, outras tantas alusões a um corpo ferido, que tanto é o próprio e vasto corpo da terra — na figuração de uma Natureza em estado de quase explosão — quanto um outro, mais singular e humano, tocado enfim da expressão sintomática de uma enigmática epidemia, sedutor, mas ao mesmo tempo inquietante, e perversamente entregue às formas virais da sua própria extinção, ou à mutação no devir-monstruoso de uma transfiguração.
Também o seu perturbante Cavalo Negro, majestosa peça de grande escala que figura um misterioso cavalo negro sem cabeça, alude inevitavelmente a essa longa tradição da representação do cavalo, quer na história das imagens, quer na dos símbolos.
[…] A sua inquietante estranheza, desde logo presente na perda da cabeça, como, de outro modo, a que decorre da repetição, na instalação, das sucessivas imagens de silenciosas e enigmáticas crateras, reforça em nós a perplexidade, ao mesmo tempo que sugere uma relação que nos pede o abandono total das anteriores crenças que nos sustentavam, e a entrega, a bem dizer cega, a uma outra forma de relação sensível.
Este Cavalo Negro (obra cuja forma final data de 2017, e que foi apresentada pela primeira vez em Paris) é, na verdade, uma fortíssima e admirável alegoria do nosso tempo: ela pede-nos que nos deixemos transportar, sem resistir, e pelas forças da imagem, até um horizonte outro, quiçá messiânico (Benjamin), onde uma comunicação bem diversa se torne, outra vez, fonte de um entendimento mais fundo entre todos os homens. Os homens que restam, e a quem está confiada a possibilidade e o destino de uma outra, nova, humanidade.
[Bernardo Pinto de Almeida]

Timeline I Julião Sarmento


Timeline
Julião Sarmento

Texto de Delfim Sardo

ISBN 978-989-8902-14-6 | EAN 9789898902146

Edição: Abril de 2018
Preço: 23,58 euros | PVP: 25 euros
Formato: 17 x 24 cm (capa dura, com tecido)
Número de páginas: 228 (a cores)

Edição bilingue: português-inglês

[com a Fundação Carmona e Costa]



A obra de Julião Sarmento não só inclui o desenho, como é toda ela guiada pela 
prática do desenho.


Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Julião Sarmento: Timeline», realizada na Fundação Carmona e Costa, com curadoria de Delfim Sardo, entre 8 de Abril e 19 de Maio de 2018.

A obra de Julião Sarmento não só inclui o desenho, como é toda ela guiada pela prática do desenho. Não porque o artista tenha cadernos e cadernos de esquissos e projectos como sucede com muitos artistas (não existem, tanto quanto sei), mas porque as suas obras, nos mais diversos suportes que tem vindo a utilizar, do filme à fotografia, à pintura ou à performance, decorrem de um procedimento gráfico contínuo no qual uma plêiade de signos visuais — incluindo texto — recursivamente surge. Na maior parte dos casos, esses signos possuem uma correlação textual, podendo ser descritos com palavras que os descrevem (casas, plantas, animais, facas, corpos), outras vezes, embora mais raramente, são procedimentos gráficos híbridos que não podem ser descritos por palavras únicas (pernas/tesoura, braços/troncos) ou que implicam acções (cortar, perfurar, correr, nadar).
[…] Como um permanente labirinto circular, ou um loop incessante, a produção em desenho de Julião Sarmento é toda mutuamente contemporânea, não define nenhuma sucessividade senão na necessidade descritiva de quem sobre ela escreve.
E, por isso, esta exposição (e este livro) foi construída em sentido anti-horário, como uma linha da vida que se vê sempre a partir de um ponto de vista presente, mas que, vista daqui, não propõe nenhuma nostalgia porque tudo gravita no mesmo presente dos corpos e da sua mistura, no que vem e no que vai, que reaparece na simultaneidade entre útero e tumba que constitui a frágil matéria de uma possível timeline.
[Delfim Sardo]