quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

O Plantador de Malata

O Plantador de Malata
Joseph Conrad


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes 

ISBN 978-989-568-060-3 | EAN 9789895680603

Edição: Janeiro de 2023
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 152


Em Joseph Conrad, uma imprevisível história de amor louco. Uma realidade de fronteira com mais seduções do que as submetidas à disciplina do raciocinado mundo dos homens. 


 
Pode parecer inesperado um «amor louco» no mundo de histórias masculinas que foram centro na vocação literária de Joseph Conrad. Este escritor, inspirado sobretudo pelo mar, pelos seus homens, pelas suas lutas contra os maus humores do oceano, poucas vezes escolheu mulheres como centro das suas imaginações de ficcionista. Podemos lembrar-nos de Amy Foster, que até ficou no título de uma das suas novelas; da Freya que andava por sete ilhas; ou mesmo dessa desencantada mulher de Alvan Hervey, sem direito a nome, que só viu no «regresso» a solução para o irremediável tédio do seu matrimónio. Estas e algumas outras são evidências de uma personagem feminina destituída de um qualquer papel de vida ou morte num enlouquecido amor e que deslocam para um lugar de excepção o que nos é contado em O Plantador de Malata, onde encontramos a sua personagem central transtornada por um irremediável amor; onde não vemos nesse sentimento a bivalência mortal que é destino no Romeu e na Julieta, no Tristão e na sua Isolda, mas uma Miss Moorsom que se desfaz perante o seu apaixonado em irremediáveis e inatingíveis distâncias.
O próprio Conrad, que se casou em 1896 com a inglesa Jessie George e lhe deu um matrimónio com dois filhos gerados nos descansos breves de lar tradicional permitidos por longos períodos marítimos, teve uma vida de sentimentos amorosos pouco frequentada. Descobrem no entanto os seus biógrafos que oito anos antes deste casamento viveu ele próprio um grande desconforto sentimental; o que está na base — excitado literariamente até ao paroxismo — da história contada em O Plantador de Malata.
[Aníbal Fernandes]

Mulheres na Vida (Contos e Novelas)

Mulheres na Vida (Contos e Novelas)
Guy de Maupassant

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-568-060-3 | EAN 9789895680603

Edição: Janeiro de 2023
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 152

«Só existe um modo de exprimir uma coisa, uma só palavra para dizê-la, um só adjectivo para qualificá-la e um só verbo para animá-la» — disse Flaubert a Maupassant, e ele cumpriu-o bem melhor do que o seu mestre.

 

É fácil, num escritor que deixou publicadas três centenas de contos e narrativas breves, organizar grupos dominados por um tema específico, um género literário, uma qualquer maneira de compreender os homens que ele mais de perto conheceu. E se a escolha preferiu aqui seis histórias onde a prostituição feminina intervém com decisivo papel, deve-se ao facto de pertencerem a este «grupo» três textos entre os mais prestigiados do autor: Mademoiselle FifiA Casa TellierBola de Sebo; e deve-se ainda à circunstância, não menos importante, de o próprio autor durante a sua vida adulta ter sido um exacerbado sensual, um coleccionador de trezentas amantes — como ele se classificou — de ter morrido precocemente, vitimado por um mal adquirido em noites de delírio, entregue sem temores à promiscuidade dos bordéis de Paris.

[…]

Guy de Maupassant, com uma vida de apenas quarenta e três anos, ficou com representação larga na literatura francesa. As suas três centenas de contos e novelas são hoje constantemente reeditadas, bem mais do que os livros de outros contemporâneos seus que tantos defeitos lhe encontraram, que ao sabor de uma tão persistente má vontade o censuraram; e têm a companhia de seis romances, dois deles — Une vie (1883) e Bel-Ami (1885) — que podem considerar-se de uma essencial representação entre os exemplos mais marcantes do naturalismo então liderado pela altiva superioridade do «mestre» Émile Zola.

Alberto Savinio, autor de um nada benevolente e muito injusto Maupassant e «l’Altro», faz na sua diatribe uma descoberta inquestionável: «A vida de Maupassant parece-se, ela própria, com uma novela à Maupassant.»

[Aníbal Fernandes]

Et sic in infinitum

Et sic in infinitum
José Pedro Croft

Texto de Sérgio Mah
Apresentação de António Gomes de Pinho 

ISBN 978-989-568-077-1 | EAN 9789895680771

Edição: Janeiro de 2023
Preço: 26,42 euros | PVP: 28 euros
Formato: 21 × 26 cm (brochado)
Número de páginas: 112 (a cores)
Com Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva / Fundação Carmona e Costa

Edição bilingue: português | inglês


O título Et sic in infinitum é uma citação da frase que consta em cada um dos lados de um desenho do físico e cosmologista Robert Fludd […]. Reconhecido como uma das primeiras representações da criação do universo, o desenho dá a ver um quadrado negro imperfeito (em rigor é um trapézio), a imagem do pré-universo, do nada, do vazio negro (e sem forma) anterior ao evento da criação. O quadrado negro de Robert Fludd ilustra um enigma fundacional, mas em simultâneo assinala os limites da representação, ao anotar em cada margem do quadrado a frase Et sic in infinitum [E assim por diante até ao infinito].


 
Na produção artística de José Pedro Croft das últimas duas décadas é notória a estreita cumplicidade entre a escultura, o desenho e a gravura. São três disciplinas, três domínios funcionais, que se intersectam de forma não hierárquica, o que não impede reconhecer que questões e dilemas da escultura estão no cerne de muitas das suas realizações, como também podemos apontar, a partir de um outro ângulo de visão, que o desenho — como conceito, método e experiência das formas — é uma presença matricial e estruturante nos seus processos de composição e organização estética.
Através destas três práticas o artista tem produzido conglomerados de obras em que explora inúmeras variações a partir de formas básicas e arquetípicas, que são submetidas a experiências de derivação e reconversão que inevitavelmente debilitam os seus princípios estáveis e lógicos e testam a nossa perceptibilidade relativamente ao que nos rodeia e nos habita enquanto seres impregnados de visualidade. Por outras palavras, somos frequentemente conduzidos por um eixo de disquisições estéticas e conceptuais, para níveis propensos à aporia, à oscilação, ao paradoxo, que desaconselham o estreitamento perceptivo suscitado pela clareza e objectividade genericamente associadas à geometria.
É igualmente manifesto o interesse de José Pedro Croft pelos aspectos generativos da criação artística, ou seja, pelas potencialidades imanentes a cada meio, material ou forma, enquanto faculdades que contribuem para a singularidade de cada obra, mas também como remissões para a complexidade de que se reveste a experiência do mundo e a vasteza de coisas e dinâmicas espaciais e temporais que o constituem.
[Sérgio Mah]
 
Este livro foi publicado por ocasião da exposição Et sic in infinitum, de José Pedro Croft, com curadoria de Sérgio Mah, realizada na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, com o apoio da Fundação Carmona e Costa, de 26 de Janeiro a 28 de Maio de 2023.

Antropologia da Vida Material – Escritos sobre Espaços, Coisas e Pessoas

Antropologia da Vida Material – Escritos sobre Espaços, Coisas e Pessoas
Filomena Silvano

Prefácio de Alexandre Melo

ISBN 978-989-568-050-4 | EAN 9789895680504

Edição: Novembro de 2022
Preço: 17,92 euros | PVP: 19 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 286 

Alexandre Melo: «O mal ou o bem que as coisas nos podem fazer e podemos fazer com as coisas não é redutível a simplismos binários.»



O título deste livro é ao mesmo tempo revelador e enganador. Revelador, porque remete para uma área de investigação, a antropologia da vida material, pouco comum em Portugal e com uma relevância crescente no âmbito dos estudos académicos. Enganador, porque a enunciação da natureza específica deste tipo de saber é susceptível de desencorajar os leitores que não se considerem especialistas na matéria. O subtítulo ajuda a deslindar a aparente contradição: «escritos sobre espaços, coisas e pessoas». Falamos de assuntos a respeito dos quais todos julgamos ter alguns conhecimentos que, no entanto, nem sempre se revelam tão fundamentados e úteis quanto desejaríamos. Talvez o que neste livro se aprende possa moderar tal frustração. Os temas são os objectos, lugares, convívios e discursos com que vivemos no nosso quotidiano — a vida — em relação aos quais a perspectiva de análise de Filomena Silvano nos permite ver de outra maneira coisas que julgávamos já conhecer e conhecer coisas que nunca tínhamos visto, apesar de estarmos no meio delas, e agora poderemos começar a ver porque nos foi proporcionada uma maneira de olhar a que não estávamos habituados.
[Alexandre Melo]

Pars Orientalis – Estudos sobre Escrita e Viagem


Pars Orientalis – Estudos sobre Escrita e Viagem
Catarina Nunes de Almeida


ISBN 978-989-568-064-1 | EAN 9789895680641

Edição: Dezembro de 2022
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 204


Findo o ciclo colonial, temos assistido a uma renovação do interesse por alguns espaços que compreendem, justamente, essa geografia remota. O Oriente vem ganhando forma não só enquanto horizonte espiritual e filosófico, mas também integrado num processo de revisão das grandes aventuras marítimas e da História.



Certas noções, certos juízos, pela força do hábito, ganham o estatuto de inquebráveis na linguagem e na memória. Estabelece-se uma convivência pacífica entre o nosso discernimento e eles. Mas se lhes damos algum tempo, um olhar mais apurado, percebemos que afinal são frágeis, instáveis — que rapidamente acusam o toque. É sobre um desses binómios aparentemente inabaláveis que me proponho reflectir neste preâmbulo.
Em que termos nos habituámos a distinguir o Oriente do Ocidente? Quais os critérios que nos impelem a compor instantaneamente esta
s duas ideias? É natural que nos satisfaça, numa primeira tentativa de classificação, o critério geográfico — no fundo, parte da nossa formação está filiada na ideia de que Ocidente e Oriente constituem dois espaços físicos distintos. Mas a simples separação entre Europa e Ásia (como sendo o Ocidente e o Oriente, respectivamente) fica desde logo condenada ao fracasso: cabem na nossa ideia de Ocidente vários espaços geográficos que se encontram fora da Europa (como os Estados Unidos, o Canadá ou a Austrália) e, por sua vez, a nossa ideia de Oriente não exclui países legitimamente europeus (como a Turquia) ou norte-africanos (como a Tunísia, a Líbia ou Marrocos).
Tal acontece porque a separação entre Ocidente e Oriente depende — tem dependido ao longo dos séculos — de uma linha geográfica imaginária: se fizermos voo raso sobre os limites dessa geografia, para a qual Edward W. Said (1978) nos ensinaria a olhar, percebemos que ainda hoje o Oriente se traduz numa amálgama de espaços, alguns consideravelmente distantes, cujas raízes históricas, políticas, religiosas, culturais não podiam ser mais variáveis. O Oriente continua então a corresponder a uma vasta e ilusória colecção de imagens que vão da Índia a Marrocos, do Japão ao Egipto, do Irão à China. Assim, compor essa linha imaginária obriga-nos a rever também concepções temporais, históricas, que estão na origem das duas ideias.
[Catarina Nunes de Almeida]

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Apresentação de «Demandas de Manchas», de Carlos Corais

A Galeria Sá da Costa e a Documenta têm o prazer de o(a) convidar para o lançamento do livro «Demandas de Manchas», de Carlos Corais, que se realiza no sábado, dia 4 de Fevereiro de 2023, pelas 18 horas.
Galeria Sá da Costa, Rua Serpa Pinto, 19, ao Chiado. Lisboa.

A Sequência dos Dias – Escultura

A Sequência dos Dias – Escultura
Rui Matos

Textos de Rui Matos, Eva Mendes e André Silveira
Fotografias de Rui Matos e Marta Poppe

ISBN 978-989-568-0648-1 | EAN 9789895680481

Edição: Novembro de 2022
Preço: 23,58 euros | PVP: 25 euros
Formato: 23,5 × 33,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128 (a cores)

Com a Fundação Carmona e Costa

Edição bilingue: português | inglês


Rui Matos: «Cada escultura é um ser individual, irrepetível e completo. Interessam-me as relações que estabelecemos com os objectos que criamos, principalmente os mais simples e ancestrais que implicavam uma relação directa com a mão, o corpo e o gesto.»



As esculturas de Rui Matos são portais, mapas silenciosos de precipícios e becos sem saída que levitam graciosamente na sua imensidão. Não procuram caminhos reais nem respostas para o segredo do seu engenho sedento de movimento. A ferrugem e o ferro olham para a cal do gesso e vêem a sua infância — e a verdade urge! Essa transparência escultórica revela-se ao nosso encontro e torna-se una, evidente, sensível, concreta — como a água do rio que lava as pedras que o acompanham. Partilham generosamente o seu corpo com o nosso e apenas em dias de vento murmuram entre si o peso da matéria — a imagem divina.
[…]
A passagem para o ferro marca no percurso do artista a concretização clara da presença do desenho no seu pensamento escultórico. São reunidos, como num cenário ou palco teatral, seres e objectos insólitos que deixam o seu rasto como num mapa, culminando em arenas de observação — simultaneamente privadas e transparentes ao ferro. Por vezes geométricas, por vezes antropomórficas, praticam entre si desenhos tridimensionais de habitats vertiginosos — formas anómalas (no limiar do enigma) ao peso da matéria.
[…]
Escondidas no recanto do salão, repousam imagens de aparentes maquetas — pequenas e intrigantes esculturas-pinturas. Desenvolvidas ao longo dos últimos anos, representam o interesse do artista numa investigação sobre o retorno da cor à pureza da matéria; e como essa se altera e se transforma conforme a aplicação cromática experimental. Apesar de a pintura ser transversal à exposição — por vezes surgindo silenciosamente em banhos monocromáticos de verdes pantanosos e azuis celestiais —, é nesta composição que encontramos o jogo da percepção levado ao limite do meio, abrindo portais para caminhos impossíveis — linhas rectas sinuosas, portas que não abrem por entre as escadas falsas, inadequadas à sua função. Ergue-se, assim, um novo — outro — lugar poético da escultura.
[Eva Mendes]

Júlio Pomar – Pintura de Histórias

 

Júlio Pomar – Pintura de Histórias
Júlio Pomar


Textos de Alexandre Pomar, Joana Cunha Leal, Pedro Moreira e Sara Antónia Matos
Design gráfico de Ilhas Estúdio

ISBN 978-989-568-068-9 | EAN 9789895680689

Edição: Dezembro de 2022
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 17 × 22 cm (brochado, com badanas e desdobráveis)
Número de páginas: 128 (a cores)

Com o Atelier-Museu Júlio Pomar

Edição bilingue: português | inglês

O tratamento das narrativas e figuras mitológicas na arte leva então a questionar se existe uma memória visual colectiva. Como propagar e disseminar as histórias da História e as morais a elas inerentes, através dos tempos?
 
Por volta de 1982-85 (tempo dos azulejos para o Metro de Lisboa e das variações sobre Edgar Allan Poe e a Mensagem de Fernando Pessoa) começou, de facto, um novo capítulo da obra de Júlio Pomar, em que se acentua ainda mais a importância dos temas literários e aparecem as figuras da mitologia clássica, com séries dedicadas ao Rapto de Europa, a Adão e Eva, Diana e Acteon, Salomé, Ulisses e as Sereias, etc. É um grande «período tardio», como disse Hellmut Wohl na exposição «A Comédia Humana», em 2004, no CCB, no qual Pomar volta a uma pintura gestual, em obras de grande formato, onde estão presentes o humor, a alegria e a liberdade, de viver e de pintar, a intenção crítica e a invenção narrativa e pictural. A pintura de Pomar torna-se ficção pictural, teatro, comédia e drama, transformando as histórias tradicionais em versões próprias, onde se exploram a constante metamorfose das figuras e a aceitação do acaso. O «estilo tardio» é de facto uma nova maturidade (e poder-se-ia também dizer uma nova juventude, pela sua energia e irreverência). Abordando os mitos históricos e outras narrativas, Pomar reencontra-se com a Pintura de História e cria uma original e poderosa PINTURA DE HISTÓRIAS, repensando o estatuto da figura e da narração, à distância da ilustração que tantas vezes o ocupou. Assim, o título da exposição [e deste livro] remete quer para a revisitação da História da Arte e dos seus mestres (Rubens, Poussin, Vermeer), quer para histórias inventadas e/ou recriadas pelo pintor, podendo dizer-se que aí reside uma das componentes conceptuais desta produção. A invenção de histórias faz parte da recriação e continuidade da História e a sua reescrita de um alargamento necessário à actualização histórica. Por outras palavras, os mitos sobrevivem ao tempo através do recontar de histórias, e Pomar, não pretendendo descartar-se do passado, parece apropriar-se dele para o apresentar em novas versões ou possibilidades pictóricas, potenciando a ambiguidade e o enigma inerente à figura, através do gesto e da abordagem abstracta.
[Alexandre Pomar & Sara Antónia Matos]

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O Hóspede da Casa do Infinito


O Hóspede da Casa do Infinito
Avelino Sá

Textos de Bernardo Pinto de Almeida, Carlos Antunes, Eduardo Calheiros Figueiredo e João Barrento
Fotografia de Pedro Lobo

ISBN 978-989-568-031-3 | EAN 9789895680313

Edição: Dezembro de 2022
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 17 × 24 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 104 (a cores)

Com a Galeria Fernando Santos


João Barrento: «No universo de Avelino Sá, enveredamos sempre por caminhos que nos levam para espaços culturais distantes daqueles que nos são mais familiares, mas que são terreno fértil para interrogações e para o autoconhecimento.»




Avelino Sá define o seu universo conceptual, os seus sujeitos/objectos de relação através de uma «comunidade de vagabundos», como gosta de lhes chamar, que partilham entre si características como a humildade ou a generosidade: Friedrich Hölderlin, Robert Walser, Matsuo Bashō, Álvaro Lapa, personagens da sombra, da meia-luz, com os quais partilha afinidades electivas e que voluntariamente se arredaram do espectáculo luminoso da arte e da cultura, «porque a luz intensa às vezes também cega».

[Carlos Antunes]

 

O trabalho de criação de Avelino Sá elabora-se, desde há longos e produtivos anos, a partir de um intenso e profícuo diálogo com a Poesia. Não se trata, ainda assim, e neste aspecto todo o rigor é sempre pouco, de proceder ao que seria um exercício mais no âmbito daquilo a que a teoria da literatura designa como centrando-se numa relação de ekphrasis, ou ecfrástica, nem, muito menos, de restabelecer os termos da famosa máxima horaciana da Ut pictura poesis, longamente comentada ao longo dos séculos.

Bem pelo contrário, na pintura do artista, aquilo de que se trata é justamente de procurar perceber, através das formas, gestos e matéria próprios da pintura, de que modo se pode reconstituir um espaço e um tempo que antes se deram a compreender pela poesia. Não se trata, portanto, de traduzir uma expressão na outra, ou de a comentar, como é próprio da ekphrasis, mas, ao contrário, de simplesmente transferir um certo sentimento, colhido numa expressão fechada e com leis próprias como a poesia, para uma outra expressão, igualmente fechada e com as suas próprias e distintas leis como a pintura.

[Bernardo Pinto de Almeida]

Demandas de Manchas


Demandas de Manchas
Carlos Corais

Texto de Pedro Proença
Fotografia de Pedro Lobo
Design de André Cruz

ISBN 978-989-8833-97-6 | EAN 9789898833976

Edição: Junho de 2022
Preço: 18,87 euros | PVP: 20 euros
Formato: 21 × 26,6 cm (encadernado)
Número de páginas: 56 (a cores)

«Os instantes podem aí retomar o passado e também ir buscar o futuro antes que ele aconteça.»
Jorge Molder
 
Talvez tudo tenha começado de um modo estival nas bainhas do paraíso, com a imprecisão e o disforme a quererem sair do tubo e virar figuras. Havia uma caixa e a cor começava a derreter no gelado — é daqui que tudo partiu, diz-nos Carlos Corais, como se a infância ressurgisse de um lastro ao qual se quer regressar em tonalidades que buscam fixar-se num plano de tons equilibrados. Não era a linha que fazia nascer as coisas, era a mancha, a afiançar, como escreveu Adorno, que era o Novo, o Isso, a desassossegar, ainda sem rosto, com riso a alastrar embora discreto, e no olhar, luminescência miúda a afinar a escuridade. Que coisas nos queria confessar? Porque no fundo o discurso já habitava a mancha que só tinha de buscar planos, no labor de enquadrar, para não continuar por aí a esvair-se, a desaparecer do olhar, a ser secundária ante a deambulação fatal das linhas — quer-se aqui uma certa quietude inquietante.
Entre a mancha e a figura alguma coisa se passa, balbuciou o génio que queria habitar tudo isto. Era uma criatura que talvez possuísse o autor — figura a levar palavras ao forno, para que sejam bem cozidas. Não se limitava a ser amável, dado que tinha muitíssimo para contar, por exemplo, viagens, conquistas, dificuldades, formas de evasão, de explicação, de expiação. Para o génio, a solidão entre as casas comunicava a humanidade do escuro, quando a insónia teima e a cidade parece articulada pela solidariedade entre insónias, pela actividade acanhada dos que não estão a amanhar o impartilhável dos sonhos. Há muitas criaturas nocturnas que produzem ruídos que as crianças temem como gargarejos, sons aquáticos, e que correspondem a figuras muito antigas, como as Górgonas, o homem do saco, os papões. Algumas são figuras de morte, outras de puro delírio, outras ainda são inquietações brandas ou sarcásticas. Está ali alguém? Onde está o antídoto materno que estanca os medos? Ou são vindas sucessivas que chegam e não chegam? Vens então como amigo? — pergunta Carlos Corais, qual hóspede que quer que lhe habitemos a amabilidade. Imagens que interrogam para acolher, sem impor, sem exibirem escândalos ou dissimulações.
[Pedro Proença]

(Novos) Media (Novas) Feminilidades – Blogosfera Feminina Portuguesa

(Novos) Media (Novas) Feminilidades – Blogosfera Feminina Portuguesa
Susana Wichels


ISBN 978-989-568-021-4 | EAN 9789895680214

Edição: Dezembro de 2022
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 16 × 22 cm (brochado)
Número de páginas: 272

Com a SOPCOM


Duffy: «As carreiras nas redes sociais prometem autonomia criativa, horário flexível e a ideia glamorosa de fama e fortuna. […] Hoje, as aspirantes criativas acreditam estar apenas a um post de distância do seu #dreamjob.»

 



[…] as «novas» feminilidades dos «novos» media têm, afinal, muito de «velho»: maioritariamente, o empoderamento das mulheres resume-se ao poder e ao fascínio de consumir e o «contrato sexual» digital que potencialmente abria novas formas de empregabilidade e de emancipação económica das mulheres só tem êxito dentro dos moldes muito específicos que encontramos. Na verdade, os «novos» media têm, também eles, muito de «velho»: maioritariamente, para se conseguir penetração e visibilidade nestes meios, são precisas estratégias de conquista das audiências. Em todo o caso, também será preciso dizer que encontrámos algumas ambivalências que fomos anotando e que não nos roubam a confiança de que a mudança é possível. A blogosfera feminina portuguesa contemporânea não deixa de se caracterizar, na verdade, por um carácter duplo e contraditório. Se, por um lado, os discursos e as imagéticas que encontrámos continuam, maioritariamente, a reforçar «velhas» representações e as temáticas se apresentem claramente influenciadas por lógicas de consumo, elas partem, muitas vezes, de ideias de emancipação e coexistem com outros espaços de afirmação das mulheres.
[…]
É urgente que os discursos na blogosfera feminina comecem a ser escritos numa perspectiva de género e que tomem em consideração os efeitos que as (sobre)representações trivializadas das mulheres têm na sociedade no momento presente e no futuro. Espero que a análise apresentada neste livro sirva para consciencializar algumas bloggers do poder potencialmente prejudicial dos discursos que trivializam as mulheres ou dos que veiculam interesses neoliberais falsamente disfarçados de empoderamento e de novo individualismo. E, por outro lado, para consciencializar as/os leitoras/es da necessidade de renegociar os discursos que circulam «livremente» na blogosfera.
[Susana Wichels]

Retórica Mediatizada – A Comunicação Persuasiva através dos Media

Retórica Mediatizada – A Comunicação Persuasiva através dos Media
Beatriz Gil, Enio Soares, Fabrizio Macagno, Francisca Amorim, Giovanni Damele, Ivone Ferreira, Jorge Veríssimo, Maria Luísa Malato, Rosalice Pinto, Samuel Mateus, Teresa Mendes Flores
Organização de Samuel Mateus e Ivone Ferreira 


ISBN 978-989-568-015-3 | EAN 9789895680153 

Edição: Dezembro de 2022 
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros 
Formato: 16 × 22 cm (brochado) 
Número de páginas: 200 Com a SOPCOM



Este livro apresenta diferentes manifestações retóricas contemporâneas que ocorrem em sociedades amplamente mediatizadas. E demonstra que a retórica — enquanto técnica de comunicação persuasiva — persiste nos dias de hoje como uma referência incontornável dos media.




O que têm em comum o anúncio de publicidade, o soundbite político, as redes sociais ou a comunicação organizacional? Em qualquer dos casos, estamos perante fenómenos que envolvem processos persuasivos. Por outras palavras, são ações retóricas que visam convencer-nos a respeito de alguma coisa acerca do mundo.

[…] tal como persuadimos através do discurso verbal (este é o sentido da retórica antiga), também persuadimos por intermédio de processos discursivos não-verbais, que incluem frequentemente os dispositivos tecnológicos de mediação simbólica (os media, no sentido anglo-saxónico da palavra). Se pretendemos compreender, na íntegra, como discutimos, convencemos e argumentamos as nossas visões do mundo, ideias ou opiniões, temos necessariamente de incluir como o fazemos através dos media, dada a sua centralidade e omnipresença nas sociedades.

[…] assumir a mediatização da retórica significa não apenas que os media alteram os seus alicerces, introduzindo alterações na valorização dos diferentes cânones, […] como implica considerar que os media representam um potencial persuasivo radicalmente singular quando comparado com a palavra falada na assembleia. […] A extensão espacial e temporal permitida pelos dispositivos tecnológicos de mediação simbólica introduz mutações críticas nos processos de persuasão nas sociedades de massas de que é apenas um exemplo a constante repetição de anúncios de publicidade, várias vezes por dia, em diferentes meios de comunicação social e ao longo de semanas.

[Samuel Mateus e Ivone Ferreira]