quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Rosa Maria Martelo vence Prémio PEN Clube de Ensaio | 2012


O PEN Clube Português anuncia que foi atribuído a Rosa Maria Martelo, pelo seu livro O Cinema da Poesia, o Prémio PEN Clube de Ensaio | 2012.

O júri foi constituído por Teresa Salema, João de Almeida Flor e António Carlos Cortez.


Parabéns, Rosa Maria Martelo!

Rosa Maria Martelo nasceu no Porto, em 1957. É professora associada com agregação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa. Doutorada em Literatura Portuguesa, tem estudado a poesia moderna e contemporânea e as relações inter-artísticas (poesia/cinema). Algumas publicações: Carlos de Oliveira e a Referência em Poesia (Campo das Letras, 1998), Em Parte Incerta. Estudos de Poesia Portuguesa Contemporânea (Campo das Letras, 2004), Vidro do Mesmo Vidro – Tensões e deslocamentos na poesia portuguesa depois de 1961 (Campo das Letras, 2007), A Porta de Duchamp (Averno, 2009), A Forma Informe – Leituras de Poesia (Assírio & Alvim, 2010, Prémio Jacinto do Prado Coelho), O Cinema da Poesia (Documenta, 2012). Organizou, com Joana Matos Frias e Luís Miguel Queirós, a antologia Poemas com Cinema (Assírio & Alvim, 2010). Tem colaboração dispersa em várias publicações colectivas nacionais e estrangeiras, e em diversas revistas (Colóquio/Letras, Relâmpago, Telhados de Vidro, Diacrítica, Cadernos de Literatura Comparada, Abril, Tropelías, entre outras).

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

«Ethos e Polis»




No âmbito da colecção «Ethos e Polis», 
com direcção científica a cargo do Instituto de Filosofia Prática, 
são publicadas obras de ética, filosofia moral e pensamento político, de autores clássicos e contemporâneos.


Onde pode encontrar ou encomendar estes livros:

1.
Na sua livraria habitual
2.
3.
Na Sistema Solar - Rua Passos Manuel, 67-B 1150-258 Lisboa 
Telefone: 213583030; Fax: 213583039 E-mail: encomendas@sistemasolar.pt

terça-feira, 15 de outubro de 2013

«"Bruges-a-morta": a dor como religião», por Mário Rufino



«Ver a vida com olhos de morto. É esta a perspectiva de Georges Rodenbach perante os infortúnios de Hugues Viane, o personagem principal de "Bruges-a-morta", editado pela Sistema Solar.

Pouco tempo após a morte de sua mulher, o inconsolável Hugues Viane decide instalar-se na cidade de Bruges. Ele precisava de “silêncio infinito e de uma existência tão monótona que deixasse, quase, de dar-lhe a sensação de viver” (pág. 23).
Os seus passos são guiados pela destruição que existe em si. Durante o dia, Hugues mantém-se isolado, em casa, sem vontade de procurar qualquer solução para o mal de que padece. Chegada a noite, ele sai e caminha por canais solitários, bairros de ruas vazias e gente recolhida em casa. Bruges, a morta, é a cidade que espelha o interior de Hugues. A caracterização do local e das pessoas sofre o fenómeno de projecção do estado de espírito do personagem. Ali ele sente que o lugar está em comunhão consigo, pois para ele “Bruges era a sua morta. E a sua morte era Bruges” (pág. 24).
Mais tarde, virá a deslocar a sua obsessão para uma pessoa em substituição da cidade. A necessidade de se manter naquele sentimento de melancolia, como ponto de contacto com a sua falecida esposa, transforma-se numa paixão por um “espelho vivo” da sua alma. Talvez o mais indicado seja dizer que se mantém apaixonado pela falecida, mas no corpo de outra mulher, pois “Quando olhava para Jane, Hugues pensava na morta, nos beijos, nos abraços de outrora. Acreditava que possuía de novo a outra, possuindo esta. O que parecia acabado para sempre, ia recomeçar. E nem sequer enganava a esposa, porque ela voltava a ser amada nesta efígie e beijada nesta boca igual à sua” (pág. 39).
A cidade começou a rejeitá-lo. Hugues, até ali visto como um exemplo de sobriedade, começa a ser alvo de escárnio. A honesta castidade dera lugar a uma dor de plástico.
A aproximação a uma figura feminina implica um afastamento do personagem da cidade de Bruges, que fora o motivo da sua mudança. Quando ele se afasta de Jane, volta a projectar as suas condições emocionais na cidade. São variáveis do mesmo assunto: a obsessiva projecção de uma necessidade.
A peregrinação de Hugues anuncia um fim trágico. O leitor contempla a inevitabilidade da desgraça.
O escritor simbolista faz de Bruges, cidade outrora importante como entreposto comercial, muito mais do que um contexto para determinado enredo. O minimalismo da história permite ao autor desenvolver a relação metafórica entre local e personagens. O ambiente citadino é essencial no jogo de símbolos, na criação de contraste entre ambientes abertos e fechados, emoções e objectos, real e irreal, explícito e implícito, silêncio e som.
“Bruges-a-morta” (tradução e apresentação de Aníbal Fernandes) é um exemplo do que o simbolismo pode ser, quando entregue a esta qualidade: sugestivo, cativante e sedutor.»

Mário Rufino, «"Bruges-a-morta": a dor como religião», Diário Digital, 14 de Outubro de 2013.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

«Em "O Aperto do Parafuso", é como se o autor tecesse uma tapeçaria com um só fio.»


«Num dos seus notáveis cadernos, a propósito de O Aperto do Parafuso, Henry James usou a imagem de uma esponja espremida. Apesar da sua trivialidade, ela é capaz de dar o tom e o efeito desta novela, um dos pontos máximos do género em qualquer tempo. Uma história de mistério delineada de forma impecável e exasperante, como um parafuso que se vai apertando sobre um corpo. Esta é a primeira tradução convincente do título. Aníbal Fernandes, em mais uma apresentação que fica para a história (não se percebe porque não estão reunidos em livro os seus prefácios), encerra o debate – «Calafrio (…) deixa um título-causa transformado num título-efeito» (p.8).
A singularidade de James reside no império do seu estilo e na capacidade de manobrar a intriga até o leitor mais não ser do que um peão no xadrez da sua escrita. As suas narrativas são o inimigo declarado da sinopse. Pouco nelas se passa, efectivamente, mas nessa brecha encaixa toda a escala do humano. Em O Aperto do Parafuso, é como se o autor tecesse uma tapeçaria com um só fio.
Embora escassos, os materiais da ficção, graças à alquimia jamesiana, expandem-se, como a luz passada por um prisma. O prisma é James; a luz, a sua escrita; o assombro é de quem lê – «Não o vermos é a mais forte das provas.» (p.158) De outra forma, como fazer uma obra-prima do relato em torno dos irmãozitos Miles e Flora, assombrados pelo espectro de dois antigos empregados da casa? Como se engendraria esta tortura a que o leitor se submete voluntariamente? Genial masoquismo.

Hugo Pinto Santos, Time Out Lisboa, 2-8 de Outubro de 2013.