quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

«O cinema extrai da pintura a acção latente de deslocação, de percurso.Tome-se um poema: não há diferença» (HH)



L’homme est le seul être qui s’intéresse aux
images en tant que telles.


Giorgio Agamben
, Image et Mémoire

Que carga e equilíbrio de forças são esses que atravessam o
universo lírico, as suas ameaças e imagens, e nos
depõem na órbita da palavra, da figuração, da música?


Herberto Helder, «O Nome Coroado»


«Os ensaios reunidos neste livro constituem diferentes tentativas de aproximação aos processos de fazer imagem na poesia moderna e contemporânea. Embora trabalhem obras e questões diferenciadas, todos incidem sobre formas de conceber e articular as imagens na poesia, ou sobre os modos como o texto poético se pensa em diálogo com outras artes da imagem, especialmente o cinema. O carácter plural, proliferante, da imagem na poesia de tradição moderna sugere com frequência relações de intermedialidade com a imagem em movimento produzida tecnicamente, e essa é uma questão que este conjunto de ensaios privilegia, embora enquadrando-a num espaço de reflexão mais amplo.»

Rosa Maria Martelo, «Preâmbulo», O Cinema da Poesia, Documenta, 2012.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

«chega-se agora a uma nova fase em que o capitalismo parece fechar-se sobre si mesmo em canibalismo do escasso.»


«Em democracia, as escolhas não são técnicas, mas políticas, ou seja, relativas à maneira como queremos viver comunitariamente sob um pressuposto de abertura da História ao seu futuro. Nada se perde em se repetir Shakespeare e dizer que continua a haver "mais coisas no céu e na terra do que as que sonha a tua filosofia". Ou a tua economia, ou a tua moralidade.
[...]
Mas como será no quadro de um capitalismo financeiro, especialmente quando acirrado pela sua própria crise? Na verdade, do capitalismo predatório de recursos naturais, como terá sido o capitalismo industrial durante o século anterior, e do capitalismo improdutivo que terá sido a "financiarização" que se instalou nas últimas três décadas na economia mundial, chega-se agora a uma nova fase em que o capitalismo parece fechar-se sobre si mesmo em canibalismo do escasso.
[...]
Se o interesse mobiliza cada indivíduo, cada família, cada comunidade a partir da sua sobrevivência particular, a vontade, que nos mobilizaria a partir de um projecto, seria sinal de vida com sentido, vida imaginativa. A subtracção da vontade é a subtracção do sentido e da imaginação ao interesse e, com elas, do lugar próprio da sua constituição — a esfera pública. Em contrapartida, subtraídos de vontade, não surpreenderia que a frieza do cálculo dos meios concluísse, racionalmente, que o preferível ao interesse seria deixarmos de existir. Instala-se então uma moralidadezinha da existência, da pouca existência, ou ainda, da existência já em dívida antes de tudo o mais. É uma história antiga, demasiado antiga, de dívidas e culpas, a que já Nietzsche se opunha, quando, na sua Genealogia da Moral (1887), denunciava que, na língua alemã, a raiz do sentimento de culpa (Schuld) residia na ideia bem materialista de dívida (Schulden)

André Barata, Primeiras Vontades
- Da liberdade política para tempos árduos, Documenta, 2012.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

«Uma pequena obra-prima» - José Guardado Moreira


«A novela O Mentiroso revela toda a arte do escritor anglo-americano Henry James (1843-1916): virtuosismo, atenção ao pormenor, sentido de ironia subtil - marcas de um mestre que se queixava ao irmão William, filósofo, de não ser reconhecido, mas que recolhia a admiração de Robert Louis Stevenson, Edith Wharton ou Joseph Conrad. Graham Greene disse que ele era "tão solitário na história do romance como Shakespeare na história da poesia". Seria redescoberto por T.S. Eliot, Ezra Pound, Hemingway e W.H. Auden, [...].
O narrador é um pintor de retratos, com créditos firmados na sociedade. Um dia, ao ser convidado para uma casa de campo, reencontra uma antiga paixão, casada agora com um pândego, coronel das Índias e senhor de uma verve algo inusitada e extravagante. Por despeito, ciúme ou desafio, propõe-se pintar o retrato do personagem, de tal modo que lhe desvende o embuste aos olhos de todos, principalmente da mulher, que o idolatra, aparentemente ignorante da patologia do marido. [...] O jogo de enganos termina com um resultado fulgurante e uma constatação não desejada. Uma pequena obra-prima.»

José Guardado Moreira, «Henry James - Mentiras e Enganos», LER, nº 121, Fevereiro de 2013,

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

«Um livro triste e belo» - Ana Cristina Leonardo


«Creio ser com legitimidade que podemos considerar Judeus Errantes um livro de História, com H maiúsculo. História abreviada do povo judaico, mas também uma história onde se identifica um olhar nostálgico, pelo menos perplexo, sobre esse tempo singular em que o Império Austro-Húngaro cede lugar aos estados-nação, conceito envolto em autodeterminação e liberdade que não deixará de arrastar sangrentos resultados. Joseph Roth, testemunha privilegiada desse período, traça um retrato preciso da cultura, religiosidade e idiossincrasias judaicas, centrando-o nos judeus orientais e, com isso, desmistificando o mito do judeu inevitavelmente rico, banqueiro, conselheiro de príncipes e poderosos. [...] O livro é uma "declaração de amor" e reconhecimento das origens [...]
Intuindo com argúcia o carácter antirreligioso do nazismo, conclui profeticamente: "Não há nenhum conselho, nenhum consolo, nenhuma esperança. [...] Morre em 1939, em Paris, e a História dar-lhe-á razão. Um livro triste e belo.»


Ana Cristina Leonard
o, «Actual»/ Expresso, 9 de Fevereiro de 2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

«Escutai como em grande alegria e grande dor se amaram, e num mesmo dia morreram, ele por ela, ela por ele.»




«Senhores, gostaríeis de ouvir um belo conto de amor e morte? É de Tristão e de Isolda a rainha. Escutai como em grande alegria e grande dor se amaram, e num mesmo dia morreram, ele por ela, ela por ele.
[...]
Quando o rei Marco soube da morte dos amantes, transpôs o mar. Foi à Bretanha e mandou fazer dois caixões, um de calcedónia para Isolda, outro de berilo para Tristão. Na sua nave transportou para Tintagel os corpos que ele amava. Sepultou-os em dois túmulos, perto de uma capela, à esquerda e à direita da abside. Durante a noite, na campa de Tristão nasceu porém um silva verde e folhosa com ramos fortes e flores perfumadas, que se levantou até mais alto do que a capela e, passando-lhe por cima, mergulhou na campa de Isolda. As pessoas da terra cortavam a silva mas na manhã seguinte ela renascia de igual forma verde, florida e vivaz, para mergulhar de novo no leito de Isolda a Loura. Três vezes quiseram destruí-la; em vão. Acabaram por contar ao rei Marco esta maravilha; e por sua ordem nunca mais a silva foi cortada.»


O Romance de Tristão e Isolda
renovado por Joseph Bédier, Tradução a apresentação de Aníbal Fernandes, Sistema Solar, 2012.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

«"Estro in Watts. Poesia da idade do rock" acompanha-me, agora, para tentar entender o que vivi sem saber.»

[clicar na imagem]

Sabíamos lá o que é que cantávamos? As músicas estavam no top, entravam pelos ouvidos e pelos corações adentro e tentávamos reproduzir as letras com os sons que nos pareciam harmónicos.

Por vezes, lá entendíamos um I love you ou um love me, talvez um I feel love ou Let’s spend the night together. Já percebíamos melhor um revolucionário I don’t need no education. Excepções linguísticas que fugiam ao programa escolar do The pencil is on the table ou My name is Joaquim. What’s your name?

Estávamos na crista da onda porque levávamos aos bailaricos e às matinés aquilo que a malta ouvia na solidão da telefonia e ansiava para momentos em que a companhia desejada estivesse por perto, pelo mais perto possível, joelho com joelho, mão na mão, mão no pescoço, os lábios, por vezes, a roçar a orelha meio tapada pelo cabelo cúmplice a esconder o gesto aos paus de cabeleira, mães, tias ou vizinhas, sentadas na correnteza de cadeiras encostadas à parede da sala da colectividade.

Fingíamos saber o que dizíamos em idiomas longínquos da nossa cultura obrigatória. Claro que tirávamos umas pelas outras mas, a pressa de tocar o que estava a dar, deixava para trás a inteligibilidade do resto.

Hello darkness my old friend - começava assim uma das primeiras músicas que toquei – The sounds of silence de Simon & Garfunkel. Uma melodia linda, repetida à exaustão. Só agora, através do livro Estro in Watts. Poesia da idade do rock, uma antologia com tradução, introdução e notas de João de Menezes-Ferreira, me apercebi desta parte da letra:

E as gentes curvadas puseram-se a rezar
Era ao Deus Néon que prestavam vassalagem
E o anúncio dardejou a sua mensagem
Através de palavras que estava a formar
E o anúncio dizia “As palavras dos profetas
São escritas nos subterrâneos e nas paredes"
E sussurrava no som do silêncio.


E, como esta, muitas outras, agora em versão original e respectiva tradução nesta obra monumental da Documenta, com mais de 800 páginas, que aborda músicas desde 1955 a 1980, numa selecção obrigatoriamente pessoal do autor.

Aquilo que, nalguns casos, poderá parecer uma má tradução, não deixa de ser o deixar ao leitor a noção da dificuldade de, neste tipo de poesia, adaptar a diversidade linguística, fazer coincidir palavras e expressões que se querem o mais populares possível. Mas, para isso, lá está a versão original para que cada um interprete conforme a sua sensibilidade ou conhecimento.
 
Terminemos com um dos gritos do louco, inconformado mas perfeccionista Frank Zappa no seu Hungry freaks, daddy, na sua assustadora actualidade:

Eles não se entregarão, nunca mais
À grande loja das máquinas ocidentais
À filosofia que se está a afastar
Dos que não têm medo de contar
O que pela cabeça lhes passa
Os deserdados
Da grande sociedade
Freaks esfomeados, Papá.


Hoje, já não toco. Ouço a música durante o trabalho e, por vezes, já nas calmarias, tento entender as letras. Outros tempos, outros ventos.


Estro in Watts. Poesia da idade do rock
acompanha-me, agora, para tentar entender o que vivi sem saber.

Sines, 13 de Fevereiro de 2013 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

«Estro in Watts - Poesia da idade do rock», de João de Menezes-Ferreira


Estro in Watts – Poesia da idade do rock 
(1955-1980)
edição bilingue
Antologia, tradução, introdução e notas de
João de Menezes-Ferreira


ISBN: 978-989-8618-04-7

Preço: 35,85 euros | PVP: 38 euros

Formato: 17×24 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 816


[ Em colaboração com a Fundação EDP ]

«A grande poesia da nossa época é o rock. As palavras são tão importantes como o ritmo. Nunca se assistiu a um tal renascimento poético desde Homero. É o regresso dos bardos de antes da escrita, da época oral. É o reencontro planetário. Canta-se rock na China, na U.R.S.S., em todos os países do mundo. O rock é a língua universal. A língua do gesto e do grito. A língua da comunicação e da participação. É uma revolução fantástica.»

Marshall McLuhan


Num percurso de 563 poesias musicadas de 170 autores, desde «Blue suede shoes» de Carl Perkins (1955) até «O superman» de Laurie Anderson (1980), esta é a crónica lírica da vida de várias gerações adolescentes num momento histórico muito preciso: o da conquista da sua autodeterminação, em marcha errante, multímoda, eléctrica, ou como sintetizou Caetano Veloso em 1966 (Alegria, alegria) «sem lenço, sem documento, eu vou». E sem recuo.

JOÃO DE MENEZES-FERREIRA. No curto período em que fez crítica de música foi autor do programa radiofónico na RDP FMEstéreo «A Idade do Rock» (1977-1980), para o qual reuniu materiais que fazem grande parte desta antologia. Tem formação jurídica (Lisboa) e post-graduação em Altos Estudos Europeus (Bruges). Entre outras actividades, foi advogado, deputado, diplomata, empresário, fundador e dirigente de uma cooperativa de animação cultural e de ONGs e professor universitário.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

«Roll Over - Adeus anos 70», de José Paulo Ferro

 
Roll Over – Adeus anos 70

José Paulo Ferro


Textos de Margarida Medeiros e de João de Menezes-Ferreira

ISBN: 978-989-8618-27-6

Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros

Formato: 24×17 cm (brochado)
Número de páginas: 104


[ Em colaboração com a Fundação EDP ]

Roll Over
fica como um  retrato de uma época que ainda está (em certa medida estava) por fazer e que sem dúvida gerará outros que o completem; numa época em que a imagem digital faz desaparecer a importância da fotografia e do snapshot pela imensidão de imagens que se podem gerar em cada segundo, este é um arquivo valioso para a memória destes anos e que complementa qualquer história do “rock português”. Mas é-o sobretudo pelo estilo de aproximação, pela forma como sublinha a cena em detrimento do personagem individual que nela se destaca, o acto, em detrimento da pose, a dinâmica literal em detrimento do esteticismo. Margarida Medeiros



Isto é certamente fotografia tribal. Havia então outras tribos, com outras marcas identitárias. Nós – o José Paulo, eu também – fazíamos parte desta tribo. Mas nunca pensámos na publicação destas fotografias «escondidas» (conhecidas de poucos e quase todas inéditas) para alimentar o mercado da nostalgia e do narcisismo. Por mim, tento vê-las na sua dupla essência: valiosos documentos sociológicos e espécimes da nobre arte da fotorreportagem. João de Menezes-Ferreira


José Paulo Ferro nasceu em Alcobaça em 1955. Vive e trabalha em Lisboa. Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa tendo feito o bacharelato em Design e a licenciatura em Artes Plásticas/ Pintura. Foi aluno e monitor do Instituto Português de Fotografia e actualmente é professor na Escola Secundária de Pedro Nunes. Expõe colectivamente desde 1975 e individualmente desde 1980.