sexta-feira, 31 de maio de 2013

«Finalmente está livre o barco, e faz-se ao mar!»




ALEGRA-TE, COMPANHEIRA DE BORDO, ALEGRA-TE!

Alegra-te, companheira de bordo, alegra-te!
(Satisfeito, digo à minha alma ao morrer),
A nossa vida acaba, a nossa vida começa,
Levantamos a âncora que tanto, tanto tempo nos ancorou,
Finalmente está livre o barco, e faz-se ao mar!
Rapidamente, afasta-se da costa,
Alegra-te, companheira de bordo, alegra-te.

Walt Whitman (31 de Maio de 1819 - 26 de Março de 1892), Folhas de Erva.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Rosa Maria Martelo vence Grande Prémio de Ensaio "Eduardo Prado Coelho" APE / V. N. Famalicão - 2012

clicar na imagem

A Associação Portuguesa de Escritores anuncia que foi atribuído a Rosa Maria Martelo, pelo seu livro O Cinema da Poesia, o Grande Prémio de Ensaio "Eduardo Prado Coelho" APE / Vila Nova de Famalicão - 2012.

O júri, que deliberou por unanimidade, foi constituído por Clara Rocha, José Cândido Martins e José Carlos Seabra Pereira. 

Parabéns, Rosa Maria Martelo!


Rosa Maria Martelo nasceu no Porto, em 1957. É professora associada com agregação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa. Doutorada em Literatura Portuguesa, tem estudado a poesia moderna e contemporânea e as relações inter-artísticas (poesia/cinema). Algumas publicações: Carlos de Oliveira e a Referência em Poesia (Campo das Letras, 1998), Em Parte Incerta. Estudos de Poesia Portuguesa Contemporânea (Campo das Letras, 2004), Vidro do Mesmo Vidro – Tensões e deslocamentos na poesia portuguesa depois de 1961 (Campo das Letras, 2007), A Porta de Duchamp (Averno, 2009), A Forma Informe – Leituras de Poesia (Assírio & Alvim, 2010, Prémio Jacinto do Prado Coelho), O Cinema da Poesia (Documenta, 2012). Organizou, com Joana Matos Frias e Luís Miguel Queirós, a antologia Poemas com Cinema (Assírio & Alvim, 2010). Tem colaboração dispersa em várias publicações colectivas nacionais e estrangeiras, e em diversas revistas (Colóquio/Letras, Relâmpago, Telhados de Vidro, Diacrítica, Cadernos de Literatura Comparada, Abril, Tropelías, entre outras).

Feira do Livro na Livraria ARQUIVO (Leiria)




   Arquivo Livraria

Livreira
Maria Alexandra Vieira

Avenida Combatentes da Grande Guerra, 53 | 2410-123 Leiria
Telefone 244822225 | Fax 244828091 | 935683535
10.00H ÀS 20.00H (SEGUNDA A SÁBADO) | 14.30H ÀS 19.30H (DOMINGOS E FERIADOS)

terça-feira, 28 de maio de 2013

Feira do Livro na Livraria CULSETE (Setúbal)


Livraria Culsete

Livreiros
Manuel Medeiros (Resendes Ventura / Livreiro Velho) e Fátima Ribeiro de Medeiros

Avenida 22 de Dezembro, 23 A-B, 2900-670 Setúbal
Telefone 265526698 Fax 265220463 e-mail culsete@gmail.com

Das 9h às 19h, 2.ªas e 6.ªas;
Das 9h às 13h – das 15h às 19h , 3.ªs, 4.ªs, 5.ªs
Das 9h às 13h, sábados.

Facebook

«A livraria Culsete comemora este ano quarenta anos de existência.
A Culsete para Setúbal. Setúbal com a Culsete.
»

O movimento Encontro-Livreiro

reúne na Livraria Culsete no último domingo de Março de cada ano, mas o debate e a troca de ideias continuam no
Isto Não Fica Assim!

Feira do Livro na Livraria ESCRIBA (Cova da Piedade - Almada)


                                                                  corações de papel

Livraria Escriba
Livreira
Rosa Alface

Rua Cooperativa Piedense, 100 F, Cova da Piedade, 2805-125 Almada
telefone 212747894 e-mail:livrariaescriba@gmail.com



sexta-feira, 24 de maio de 2013

Feira do Livro na LIVRARIA FUNDAMENTOS (Braga)




 Livraria Fundamentos 
 Cristianismo&Cultura | Livros Novos&Usados 

Livreiro
Rui Pedro Vasconcelos

Rua D. Paio Mendes, n.º 3 | 4700-424 Braga 
Segunda a Sábado 9h00-13h00 | 14h30-20h00 (19h00 quartas-feiras) 

Feira do Livro na Livraria PÓ DOS LIVROS (Lisboa)



Pó dos Livros
Livreiros
Jaime Bulhosa, Carlos Loureiro, Débora Figueiredo, Isabel Nogueira

Avenida Marquês de Tomar, nº 89, 1050-154 Lisboa
telefone 00 351 21 795 93 39 fax 00 351 21 795 93 40

Horário: 2ª a 6ª feira, das 9h às 20h. Sábados e Domingos, das 10h às 19h

Blogue Pó dos Livros  Blogue Pó dos Livros Vintage  Facebook

Feira do Livro na Livraria PINTO DOS SANTOS (Guimarães)


  



Livraria Pinto dos Santos 
Livreiro
Guilherme Pinto dos Santos
 96 7593776 

Rua de Santo António, 137, 4800-162 Guimarães 
Telefone: 253 513 026, guilherme.mps@sapo.pt



Feira do Livro na Livraria POETRIA (Porto)





 

«Enquanto decorre a Feira do Livro de Lisboa (23 de Maio a 10 de Junho), a Poetria vai ter a sua própria Feira do Livro, com descontos de 20% em todos os livros de poesia e teatro. 

Mas também terá os livros das editoras Documenta, Sistema Solar, Pedra Angular e Livros de bolso BI, em todas as áreas, incluindo as novidades.


E por cada compra de 12€ ou mais, oferecemos uma t-shirt Poetria. O bom tempo está aí, e estas t-shirts são lindas!»


Livraria Poetria
Livreira
Dina Ferreira da Silva

Rua das Oliveiras, 70, r/c, loja 12, 4050-448 Porto
Telefone 222023071 livraria.poetria@gmail.com

Segunda a sexta: 9h30 - 19h00; sábado: 9h30-13h00 e 14h30-16h30

Feira do Livro na Livraria LETRA LIVRE (Parque Eduardo VII, em Lisboa, e Parque Verde da Cidade, em Coimbra)

 

«A LETRA LIVRE participa da Feira do Livro de Lisboa e da Feira do Livro de Coimbra. Na Feira do Livro de Lisboa, que decorre de 23 de Maio a 10 de Junho, estaremos no Stand D08, na ala direita do Parque Eduardo VII, representando editoras independentes como &ETC, Averno, Língua Morta, Mariposazual, Fahrenheit 451, Sistema Solar e Documenta, além dos livros usados, fundos e antigos. A Feira do Livro de Coimbra realiza-se no Parque Verde da Cidade de 24 de Maio da 2 de Junho. Venha visitar-nos.»


Letra Livre

Livreiro
Eduardo Sousa

Calçada do Combro, 139, 1200 - 113 LISBOA
Telefone: 21 346 10 75 E-mail: letralivre@sapo.pt 
Site Letra Livre  Facebook

A Letra Livre funciona de 2ª a Sábado, das 10h às 13h e das 14h às 19h, 
encerrando aos domingos, feriados e dias de greve geral.

No Parque Eduardo VII (Lisboa), No Parque Verde da Cidade (Coimbra) ou na Calçada do Combro / Galeria ZDB (Lisboa), venha daí à Letra Livre e traga outros amigos também!

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Feira do Livro na Livraria FONTE DE LETRAS (Praça do Giraldo - Évora)


 A partir de amanhã e até ao próximo dia 2 de Junho os livros Sistema Solar e Documenta estarão em Évora pela mão amiga da Livreira Helena Girão Santos, da Fonte de Letras (Montemor-o-Novo). 



Em Montemor-o-Novo ou em Évora, venha daí à Fonte e traga outros amigos também!


Fonte de Letras
Livreira
Helena Girão Santos

Rua das Flores, 10/12, 7050-186 Montemor-o-Novo
Telefone: 266899855; fontedeletras@gmail.com
Horário: segunda a sábado das 11h às 19h 


Horário da Feira do Livro de Évora, de 24.05 a 02.06
Segunda a quinta: 10h-14h e 17h- 23h; Sexta e sábado: 10h-14h e 17h- 24h; Domingo: 17h - 23h.

Horário da Fonte de Letras durante a Feira do Livro de Évora
11h-16h30, de segunda a sábado. Encerra ao domingo. Encerrada todo o dia de sexta-feira, dia 24.05.

Feira do Livro na Livraria A DAS ARTES (Sines)




Fotos de Joaquim Gonçalves

A das Artes 

livros discos artes plásticas

Livreiro
Joaquim Gonçalves - 968175192

Bluemel, Lda. - 
NIPC 506494330

Avenida 25 de Abril, 8 - loja C 7520-107 SINES
Telefone: 269630954, Fax: 269630955, adasartes@gmail.com
Horário: segunda a sábado, 10-13h; 15-19h

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ray Manzarek «tocou, cantou e encantou».


Ray e Rui em Lisboa (Dezembro de 2003). Foto: © Rui Pedro Silva.


Carta aberta à comunicação social portuguesa 


RAY MANZAREK.

Raymond Daniel Manczarek, mais conhecido por Ray Manzarek, nasceu a 12 de Fevereiro de 1939 em Chicago, Illinois onde foi criado. Em 1964 conheceu Jim Morrison na UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) onde no ano seguinte se licenciaram em cinema. Nesse ano de 1965, num encontro casual na praia de Venice (Los Angeles), os jovens aspirantes a cineastas trocaram impressões e dali nasceu a ideia de criar uma banda rock. Estavam lançadas as bases daquele que viria a ser o filme principal das suas vidas. Sob as areias do Pacífico nasciam 50% dos The Doors. Cedo se percebeu que não era mais uma banda. Temas como «Light My Fire» e «Hello I Love You» enfeitiçaram a América e de seguida o mundo. Por outro lado, músicas como «Break on Through», «Five To One», «When the Music’s Over» e «The End», mostravam que os Doors penetravam fundo no «lado negro» da vida. Na realidade, sem subterfúgios, sem máscaras. A existência nua e crua com profundos rasgos artísticos onde sobressai a poesia e literatura. Jim Morrison falava sem constrangimentos. Não era azedo, era real e levava a banda consigo. Nos Doors, cada músico da banda contribuiu grandemente para a qualidade do legado, mas agora é de Ray Manzarek que se fala.

A competência artística de Ray Manzarek começou por assumir uma expressão mais pública na banda «Rick and The Ravens» (formação constituída por Ray e os irmãos), grupo que está na origem dos Doors. Ray fazia também o papel de cantor com um vozeirão inigualável. Nos Doors ele chegou a cantar, fazia segundas vozes e um bom exemplo da mais valia deste GRANDE MÚSICO aconteceu na Holanda aquando da digressão europeia dos Doors em 1968. Jim Morrison entrou a correr em plena actuação dos Jefferson Airplane (banda de São Francisco que fez a digressão com os Doors) e caiu inconsciente em palco. Foi transportado para o hospital. Aquela plateia estava ali para ver os Doors que entravam a seguir. Muita gente veio para ver Jim Morrison, o controverso Rei Lagarto. Instalou-se o pânico. Foi proposto aos outros Doors cancelar o concerto, mas Ray, Robby e John recusaram. Ray Manzarek teve um papel louvável neste processo. Não só tocou o órgão e fez as linhas de baixo como também fez o papel de Jim Morrison. Tocou, cantou e encantou.

Mais uma vez, Ray Manzarek mostrou o seu elevado calibre como músico. Que outra banda arriscaria fazer um concerto sem um vocalista com o carisma universal de Jim Morrison? São vários os exemplos que tornam os Doors únicos. Uma banda real de qualidade reconhecida que não se pode nem deve confundir com o magnetismo do vocalista.

Meus senhores e minhas senhoras… o mundo perdeu MESMO um grande músico. Aliás, um músico de excepção. Único!!! Um definidor de som, um timoneiro. Uma perda irreparável que prova que nas bandas de qualidade cada membro é mesmo insubstituível. Ninguém substituiu Jim Morrison, apenas o representaram com a devida distância… A música é a «tua amiga até ao fim», mas ficou mais ferida de morte. A agonizar. Primeiro com a partida prematura do gigante Jim Morrison, agora o gigante Ray Manzarek. Senhores de um estilo único, inimitável que marcou a música para sempre. Dançaram sobre o fogo quando a música os convidou e fizeram-no até ao fim. Para isso, Ray Manzarek muito contribuiu. Um pianista de formação clássica, apaixonado por blues. Nos Doors firmou a sua imagem de marca a tocar órgão com a mão direita enquanto com a mão esquerda reproduzia as linhas de baixo num Fender Rhodes. Sons intermináveis numa cadência alucinante que o fazia girar a cabeça em todas as direcções. Um virtuoso que espantou muita gente por ter preterido a presença de um baixista em palco. Por outro lado, proporcionou uma maior liberdade aos outros Doors e ajudou a criar um som diferente, original e hipnótico. Com os anos de treino clássico que tinha, Ray estabeleceu um padrão de qualidade exemplar. Basta ouvi-lo tocar para perceber. Em poucos minutos criou a grande abertura do clássico «Light My Fire», a assombrosa entrada de «When the Music’s Over», fazia solos que se tornaram imagem de marca na música universal e seguindo as músicas dos Doors facilmente se percebe que nenhum outro órgão poderia fazer amor com a guitarra de Robby Krieger, a bateria de John Densmore e a voz ácido/dramático/sensual de Jim Morrison. O resto é história e que história… O que a maioria das pessoas desconhece é que Ray Manzarek era muito mais que o brilhante organista dos Doors. Cantava, era produtor, teve outras bandas como os Nite City (1977/78), fazia parcerias com outros artistas, era um brilhante realizador de cinema (curso que tirou na UCLA), escritor de sucesso, etc.

Conheci Ray Manzarek em Paris. Decorria o ano de 2001, mais precisamente no dia 3 de Julho, nas celebrações dos 30 anos da morte de Jim Morrison. O momento não poderia ser mais solene. Estavam milhares de pessoas no gigantesco cemitério de Père Lachaise, onde Morrison e outras individualidades repousam. A segurança estava nervosa a tentar afastar gente eufórica que tentava chegar a Ray, Dorothy (sua esposa) e Danny Sugerman (ex-manager dos Doors e autor do best seller «Daqui Ninguém Sai Vivo»). O calor era intenso e naquele mar de corpos colados, a experiência tornava-se complicada. No final da tarde, tive o privilégio de ser um dos seleccionados para estar num tributo restrito a Jim Morrison que decorreu no teatro «Les Bouffes Du Nord». Lembro-me claramente que o primeiro momento de emoção, e foram tantos, aconteceu quando Ray Manzarek entrou e foi saudado efusivamente por centenas de pessoas de diferentes países que enchiam a parte inferior e as arcadas do antigo teatro. Ray emocionou-se e não era para menos. Ainda hoje me arrepia só de pensar naquela ovação estrondosa. Eu estava a escassos metros dele e era apenas o início de tantos momentos fabulosos. Em resumo registo os minutos mágicos quando Ray Manzarek se dirigiu ao órgão e nos brindou com um «Light My Fire» a solo e mais tarde o «Riders on The Storm». Indescritível!!!!! Só visto, escutado e sentido… uma honra que nunca esquecerei e estou certo que ninguém que lá esteve esquecerá. Ver o filme «HWY» de Jim Morrison, na íntegra, em ecrã de cinema, foi uma oportunidade única que também agradeço imenso ao Ray Manzarek e aos Doors, assim como ouvir música na altura inédita. Por fim registo a magnífica conferência de imprensa em que sem contar fui o único a ser chamado à mesa dos oradores e estive cara a cara com o Ray pela primeira vez. Ele viu a minha tese sobre o mito de Jim Morrison e disse-me que mais tarde falaríamos. «Ok, Mr Manzarek, thank you very much».

Um dia, Danny Sugerman contactou-me e disse-me: «Rui, o Ray está interessado em ler a tua tese sobre o mito de Jim Morrison». A tese estava ainda em português e obviamente que um pedido deste calibre fez-me apressar a tradução. Foi um processo complicado que surpreendentemente teve um timing certo. Em 2003, editei o meu primeiro livro sobre os Doors: «Contigo Torno-me Real». Com vários meses de antecedência ficou agendado o lançamento para 27 de Novembro. O que nem eu, nem ninguém sabia nessa altura, é que no dia seguinte ao lançamento em Lisboa (5 de Dezembro), Ray Manzarek e Robby Krieger vinham tocar as músicas dos Doors pela primeira vez a Portugal (no extinto Pavilhão Atlântico). Duas noites de concerto (6 e 7 Dezembro) que encheram as medidas a quem aprecia a música dos Doors.

Fui convidado para ficar hospedado no mesmo hotel que Ray, Robby e a banda. Nesse dia estava com Darryl Read, um bom amigo com quem temos o Ray Manzarek como amigo comum. Tive a honra de ilustrar fotograficamente o «Freshly Dug», um álbum de poesia e música do Ray e do Darryl Read. Em Lisboa, o Darryl insistiu que queria falar com o Ray e como tal antecipámos a ida ao hotel. Na recepção pediu que o chamassem, ligaram para o quarto e em poucos minutos Ray Manzarek encontrou-se connosco nos sofás de entrada. Após os cumprimentos da praxe, sentámo-nos e estivemos à conversa. Como sempre, o Ray tinha as suas histórias para contar. A dada altura apareceu Robby Krieger e Ian Astbury que se dirigiam para o exterior. Ray começou a falar de um «teste de som» e perguntou-me: «Rui queres vir agora ao nosso teste de som». Fiquei em choque. Não pelo convite mas pela «impossibilidade». Ainda sou daqueles que a palavra vale mais que um documento escrito e portanto como me tinha comprometido ir jantar com a rádio que promovia o concerto não podia voltar atrás. MAS recusar um convite feito pelo meu amigo Ray Manzarek? Soava quase a heresia. Ficámos a olhar um para o outro. Ele a rir-se à espera de resposta e eu completamente mudo. Naquele espaço chegaram duas limusinas, uma branca e uma preta, à porta do hotel. O nosso amigo Darryl Read quebrou o impasse: «Ray, o Rui vai de limusina para o concerto». O Ray olhou lá para fora, riu-se, voltou a mirar-me e disse: «Rui!!!!!!! Tu vais de limo para o concerto?». Menos satisfeito respondi: «Sim, parece que sim». E eis que ele responde: «Porra homem, nós vamos numa p*** de uma carrinha». Rimo-nos durante alguns minutos, levantámo-nos e saiu um até já. Um homem de grande humor. Já na «limo» ligou-me o Álvaro Costa e de fundo ouvia-se o Ian Astbury a cantar o «Five to One» num Atlântico completamente vazio. O Álvaro, que vinha dos Estados Unidos a acompanhar a digressão, disse-me que eles adoraram o meu livro «Contigo Torno-me Real». Achei um pouco estranho por estar em português, e mais tarde confirmei esse agrado nos bastidores e numa visita mais privada no hotel. Nunca me esquecerei o entusiasmo de todos e especialmente do Ray. A força que me deu e o desejo de ver tudo em inglês.

Seguiram-se anos de intenso trabalho, partilhas, encontros e foi assim que nasceu a versão internacional do «Contigo Torno-me Real» onde tenho a honra de contar com a presença directa de Ray Manzarek e dos outros Doors. No dia a seguir ao Atlântico estivemos em Paris para celebrar os 60 anos de Jim Morrison. Mais um manancial de histórias e da visita ao Père Lachaise registo a simpatia do Ray ao dirigir-se a mim, entre o público, agradecer-me o facto de lá estar e disse-me: «Logo à noite vais estar no concerto?». Respondi que o concerto seria no dia seguinte e ele ripostou: «Não, um concerto secreto na Bastilha para celebrar o aniversário do Jim. Diz apenas aos teus amigos». Agradeci, contei ao Gilles, um dos amigos comuns que tenho com Jim Morrison, e ao Álvaro Costa. Quando chegámos ao pequeno clube na Bastilha, a fila dava a volta ao quarteirão… tantos amigos, tão grande esta família. O concerto foi sem palco e esticando o braço tocava-se nos músicos. Um momento único, superlotado e visceralmente intimista. Lembro-me bem do Álvaro Costa completamente em transe a absorver aquelas ondas de rock a apelar ao «shaman» do rock.

Além do bom humor e generosidade com que Ray Manzarek sempre me brindou ao longo dos anos registo algo que considero incontornável na amizade, o respeito mútuo. Neste ponto narrarei um episódio ilustrativo. Quando os «Riders on the Storm» vieram novamente à Europa, fiquei de ir ter com ele e o Robby para me esclarecer uns pontos na pesquisa. O único país que coincidiu nas nossas agendas foi Espanha. Fui com um amigo e de carro rumámos à capital. Chegámos a Madrid e depois de entrar naquele espaço também superlotado chegou o pretenso momento da reunião no final do concerto. Todavia, um espanhol da organização veio ao microfone e disse aos poucos convidados que aguardavam: «Ninguém pode entrar». As gentes da câmara de Madrid e outros que lá estavam olharam-se confusos, já a dar sinais de conformismo, mas eu não me contive. Chamei-o e disse que estava ali em trabalho e não para tirar uma foto ou para autógrafos. Ele disse que nada podia fazer e respondi-lhe: «Faça o favor de ir lá dentro, diga ao Ray Manzarek que está aqui o Rui de Portugal». O homem lá foi meio descrente, enquanto no palco desmantelavam o PA. A espera foi longa e preocupante. Alguns desistiram mesmo de esperar e quando tudo parecia irremediavelmente perdido apareceu o espanhol na ponta do palco. Num sonoro sotaque disse: «Ruieee de Pórrrrtugáááále». Acenei, fez-me sinal para avançar entre os espanhóis e numa estreita porta estava um homem de grande porte que cumprimentei e reconheci de imediato, Mr Rick Manzarek, irmão de Ray Manzarek e ex-músico da banda que deu origem aos Doors. Rick estava agora investido de segurança e levou-me até aos bastidores. Quando chegámos estava o Robby Krieger a falar com gente da equipa. Cumprimentámo-nos e naquele momento o Ray Manzarek viu-me, chamou-me e deu-me um forte abraço. Falámos, fiz as perguntas, esclareci as dúvidas e na despedida agradeci-lhe a cortesia. Ele disse que os amigos não ficam à porta. Na brincadeira disse que por isso eles são os Doors. Ray piscou-me o olho e por ali ficámos uns bons minutos a conviver até depois ser levado aos bastidores mais profundos. Essas são outras histórias…

Em 2009, investido do papel de investigador internacional dos Doors, tive a HONRA de ser o único investigador residente da mítica UCLA (onde Ray Manzarek, Jim Morrison e Francis Ford Coppola se licenciaram em Cinema) para estudar e desenvolver o conhecimento das raízes dos Doors na instituição. O Ray quando soube, não só me felicitou como mais uma vez me cedeu as imagens que lhe solicitei sobre os filmes dele de estudante de cinema da UCLA. Esses belos registos figuram hoje no meu mais recente livro «Caravana Doors - Uma viagem luso-americana» (Edições Documenta), tal como anteriormente figuram outros importantes registos no «Contigo Torno-me Real» (Edições Afrontamento) que, graças à enorme generosidade de Ray Manzarek, enriqueceram sobremaneira estas minhas obras internacionais sobre os Doors.

Em suma: Quando um artista deste calibre «passa para o outro lado» cria um fosso e deixa uma perda irreparável. Uma perda que é tremendamente multiplicada quando se conhece e priva com a pessoa. Deixei com o Ray projectos inacabados, guardo as melhores recordações do músico e do amigo. Pessoalmente considero o maior dos tributos a este senhor músico, a este amigo, dar a conhecer o legado deste génio dos teclados com quem muitos senhores músicos aprenderam o que sabem, como testemunham no «Contigo torno-me Real» especialmente os baixistas que tiveram o privilégio de tocar com ele.

Só artistas desta craveira fazem da música um hino à imortalidade…

«O Rui fez um excelente trabalho».... é o comentário do Ray Manzarek ao «Contigo Torno-me Real». Como lhe disse pessoalmente… «Agradeço a simpatia e se o tem em tão boa conta é porque vocês fizeram os Doors».

Abraço cósmico Ray!!!!!!!!!

Autor Internacional dos Doors | Amigo de Ray Manzarek 




terça-feira, 21 de maio de 2013

Ray Manzarek e a «Caravana Doors»



Ray Manzarek 
[Chicago, 12 de Fevereiro de 1939 - Rosenheim, 20 de Maio de 2013] 

Ray Manzarek, o teclista e fundador dos Doors, deixou-nos ontem. Em jeito de homenagem, trazemos aqui ao blogue a notícia que recebemos há dias das recentes palestras de Rui Pedro Silva, seu amigo pessoal e autor do livro Caravana Doors - Uma viagem luso-americana, na Universidade de Berckeley e na UCLA dos estudantes de cinema Manzarek e Morrison. 


«Depois de uma longa viagem de Portugal a São Francisco, a Caravana Doors chegou finalmente à Universidade da Califórnia. A lendária UC Berkeley foi a primeira paragem para cumprir um prestigiante convite (a apresentação da obra e nomeadamente a ligação da mesma a um momento histórico relevante e concreto – as convulsões estudantis nos anos 60 que tiveram um eco muito forte através do "Free Speech Movement" com origem nesta universidade, influenciou o campus da UCLA onde na altura (1964) Jim Morrison e Ray Manzarek eram alunos anónimos de cinema e essa influência rapidamente espalhou-se aos campus norte-americanos e às contestações de rua contra a Guerra do Vietname, reivindicação dos Direitos Civis, etc. 

Rui Pedro Silva na Universidade de Berkeley

A palestra no campus de Berkeley estava agendada para o dia 24 de Abril. Aconteceu em português (a pedido da instituição) e decorreu com grande interesse. Professores e alunos colocaram diversas questões ao autor. No final a Caravana foi apreciada com distinção e passou a figurar no espólio da ilustre instituição. 

«Caravana Doors» na UCLA

«Caravana Doors» nos arquivos da UCLA

No dia 25 de Abril, a Caravana soltou amarras, deixou Berkeley e São Francisco e partiu para o segundo destino de palestras… Los Angeles. Mais concretamente a mítica UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), onde Jim Morrison e Ray Manzarek se conheceram, onde se licenciaram em cinema e onde Rui Pedro Silva trabalhou como investigador em 2009. O autor/investigador português foi o único investigador residente da UCLA para o estudo internacional das raízes dos Doors e, devido à qualidade do trabalho reconhecido e edificado (grande parte expresso na obra Caravana Doors), a mítica instituição norte-americana voltou a convidá-lo no ano seguinte para apresentar o seu livro You Make me Real (versão inglesa do Contigo Torno-me Real) no edifício mais nobre e emblemático da UCLA, o Royce Hall. 

Este voltar a casa teve um sabor muito especial para o reconhecido autor português. No mesmo dia, 25 de Abril de 1974, Portugal brindava a sua jovem Democracia. Pamela Courson – companheira de Jim Morrison – partia para o «outro lado» e a Caravana Doors estava oficialmente a chegar ao campus onde tudo foi investigado e cada página foi escrita. No mesmo dia desenvolveram-se encontros e diversas reuniões em diferentes partes do campus norte e rapidamente estenderam-se aos dias seguintes até 1 de Maio, a data oficial da palestra na UCLA. 

Rui Pedro Silva, foi convidado para fazer uma palestra na ilustre «Charles E. Young Research Library», a maior biblioteca do campus norte da UCLA. Um edifício onde o autor português passou imenso tempo a trabalhar em profundidade nos diferentes departamentos, a investigar o percurso das raízes dos Doors na instituição. Enquanto Portugal gozava do feriado, a Caravana Doors mostrou à UCLA de Jim Morrison e Ray Manzarek, histórias e detalhes únicos daquele mítico campus. A palestra, em inglês, foi seguida com imensa atenção por parte de representantes do staff da UCLA e nomeadamente dos alunos de história. O fascínio pela mostra dos achados foi geral e naturalmente foram colocadas diversas perguntas ao investigador português. No final, o autor foi novamente brindado com uma série de elogios e dos alunos registou comentários, como: «Nestes anos que estou na UCLA nunca tinha assistido a uma palestra tão interessante e sóbria». "Sabia que Jim Morrison esteve na UCLA, mas desconhecia completamente a profundidade da obra dos Doors. A ligação à obra de Rimbaud, Nietzche, William Blake, uauuu. Fiquei muito interessado e vou procurar os álbuns e a poesia. Muito obrigado por esta fabulosa palestra".

Com o Prof. Doutor Teófilo Ruiz e Ms Brown


Ainda sobre a opinião da assistência o reputado Professor Doutor Teófilo Ruiz acrescentou: "Uma apresentação excelente sobre os primeiros passos de Jim Morrison e dos outros Doors na UCLA". "Uma descrição apaixonante sobre a evolução dos Doors e da música que fizeram"."Uma estudante comentou que nunca tinha ouvido falar nos Doors mas que agora vai ouvir a música deles". 

Sobre o livro, o ilustre professor da UCLA adiantou ainda: "Quando o livro for traduzido em inglês, terá uma audiência muito mais alargada aqui e no estrangeiro. Uma estudante comentou de imediato que irá comprar. Os estudantes ficaram também fascinados pela forma metódica como o Rui desenterrou as provas factuais". 

Com esta incursão honrosa da Caravana Doors na UC Berkeley (região de São Francisco) e na UCLA  fica devidamente reconhecido o valor desta obra internacional, única no mundo, nestes dois pólos universitários de enorme reputação mundial. 

O percurso começa aqui...»

segunda-feira, 20 de maio de 2013

João de Menezes-Ferreira


 

João de Menezes-Ferreira nasceu no dia 20 de Maio de 1950, em Lisboa.
 
No curto período em que fez crítica de música (revistas, rádio, televisão) foi autor do programa radiofónico na RDP FM ESTÉREO «A Idade do Rock» (1977-1980), para o qual reuniu materiais que são grande parte da antologia bilingue de poesia ESTRO IN WATTS, publicada pela DOCUMENTA. Na área cultural foi também fundador e primeiro presidente da cooperativa de produção de cinema e de produção de espectáculos ERA NOVA, e na área social foi presidente da SOMA-Associação Antiproibicionista, que promoveu a actual legislação de descriminalização do consumo de drogas em Portugal. 

Com licenciatura em Direito (Lisboa) e post-graduação em Altos Estudos Europeus pelo Colégio da Europa (Bruges), desenvolveu grande parte da sua actividade profissional na área da integração europeia, como advogado, diplomata (Bruxelas), negociador (chefe da delegação nacional nos Comités de Redacção do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias e do Tratado de Lisboa, respectivamente em 1985 e 2007), deputado à Assembleia da República (1991-1995), e professor universitário. Foi ainda empresário nas indústrias da construção (EUROAMER) e da requalificação ambiental (ECOSOROS), fundador e dirigente da Associação FORUM PORTUGAL GLOBAL criada para apoio da participação na Comissão Trilateral, de que foi membro. 

Parabéns, João de Menezes-Ferreira!






Sistema Solar em São Teotónio.


Sistema Solar em São Teotónio (Feira do Livro e Tertúlia Literária nos dias 17 e 18 de Maio), pela mão, pelo olhar e pela amizade do Livreiro de Sines, da livraria A das Artes.
[Foto de Joaquim Gonçalves]


sábado, 18 de maio de 2013

Manuel Clemente



Manuel Clemente (Torres Vedras, 16-VII-1948), o novo Patriarca de Lisboa, aqui com Manoel de Oliveira, Manuel António Pina e Manuel Rosa numa sessão de lançamento de um dos seus livros editados pela Assírio & Alvim (Porto, Palácio da Bolsa, 14-XII-2010). 

Bispo do Porto desde 2007, é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, licenciado em Teologia e doutorado em Teologia Histórica pela Universidade Católica Portuguesa, onde , desde 1975, passou a leccionar História da Igreja. 

Na Pedra Angular (distribuição Documenta) estão disponíveis os livros É Este o Tempo — A experiência da missão e Um Só Propósito - Homilias e Escritos Pastorais. [fotos: Luís Guerra]

Entre várias distinções, destaca-se o Prémio Pessoa 2009. Recordemos alguns excertos de uma entrevista ao Expresso:

«Inquieto, disponível para o debate, D. Manuel Clemente, Prémio Pessoa 2009, contraria a imagem do Bispo fechado na redoma. Frequenta as livrarias, circula de metro pela cidade e cultiva o prazer de estar com os outros .
Cansado, com a voz a denunciar a iminência de um resfriado, D. Manuel Clemente recebe-nos numa tarde de domingo, no final de uma visita pastoral de três dias. Dali a algumas horas vai partir para Torres Vedras, sua terra natal. Pelo meio, ainda tem tempo para falar de Portugal como um país crítico, das questões de Deus e da Igreja e do impacto da crise social na sua diocese.

Pode ser feliz uma sociedade onde não há emprego? 
Não, não pode. Na nossa concepção cristã, o trabalho não é algo exterior à pessoa. 
Não é um simples meio ou expediente de sobrevivência. A realização de uma sociedade feliz é a realização de uma sociedade com trabalho. Não tenho dúvidas nenhumas de que a infelicidade que muita gente sente na sociedade portuguesa passa muito pelas dificuldades na obtenção de trabalho.

[…]

Há algum devir histórico nesta espécie de casamento sem divórcio entre Portugal, os portugueses e a crise? 
É uma pergunta bem posta, porque abre um filão. Portugal é um país crítico. Não tem nenhuma razão de auto-suficiência e, no entanto, é o país com fronteiras definidas mais antigo da Europa. Mas nunca teve possibilidade de se sustentar sozinho. 
As nossas crises cerealíferas na Idade Média são endémicas. Nunca teve possibilidades, até humanas, quando foi da expansão ultramarina, de garantir uma imensidão como aquela por onde se espraiou. Não tinha possibilidade, no século XVII, de garantir, só por si, a sua independência. Depois do ouro do Brasil, o país fica destroçado. Demorou 50 anos a recompor-se, quando grande parte da Europa já estava mais à frente. Mesmo no século XX tivemos situações de pobreza muito difíceis de ultrapassar em todos os campos. Portugal, como estudo de caso, é uma coisa apaixonante, porque é um país que não tinha nenhuma razão para subsistir e subsiste. Os portugueses subsistem apesar de Portugal.

[…]

Sendo uma pessoa que muito se questiona, debate-se com alguma pergunta para a qual gostaria de encontrar resposta? 
Sim. Gostaria de perceber a relação da religião, e concretamente do cristianismo, com dois sentimentos básicos e dificilmente conjugáveis, na Humanidade e na Igreja, que são a segurança e a liberdade. Vou chegando a algumas conclusões, mas sobretudo concluo que é muito difícil.»