quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Irracionalidades do amor e do sexo | Gonçalo Mira


                                                                                  Foto de Rui Soares | Arquivo Público


Um diálogo sobre a sexualidade, uma interrogação do jogo de poderes homem-mulher

Desde o início da carreira de Peter Handke (n. 1942) que existe uma ideia gravada na sua consciência e, consequente-mente, na sua obra: a de que a literatura não representa – não pode representar – nada mais do que a própria linguagem. Toda a tentativa de representar o mundo real esbarrará nos limites incontornáveis da linguagem. Daí que não exista, em boa parte da obra de Handke, uma preocupação com a questão da verosimilhança.

A sua mais recente obra é uma peça de teatro, originalmente escrita em francês, Os Belos Dias de Aranjuez – um diálogo de Verão, que é agora publicada pela Documenta, aproveitando a sua encenação por Tiago Rodrigues, no âmbito do Lisbon & Estoril Film Festival, onde o autor fez parte do júri da competição de curtas-metragens.

O subtítulo da peça dá-nos praticamente toda a contextualização que teremos: um diálogo entre duas personagens, durante o Verão. Começa com um parágrafo introdutório que é mais prólogo do que indicação cénica. Nesse parágrafo diz-se que há “Uma mulher e um homem, debaixo das árvores invisíveis, apenas audíveis” e “Uma mesa de jardim muito grande, vazia, entre a mulher e o homem”. Diz-se também que quer a mulher, quer o homem estão fora “de todo e qualquer enquadramento histórico e social – o que não significa que estejam fora da realidade – quem sabe se não será ao contrário?”

Esta questão é já um enigma. Ao contrário de quê? É a realidade que está fora das personagens? O texto permite assumir que sim, duas personagens que não estão fora da realidade, mas para quem a realidade é algo externo, algo que não lhes está no âmago. No seu âmago há apenas aquele diálogo, algures num “belo dia de Verão. Um jardim. Um terraço.”

A primeira frase deste parágrafo inicial diz: “E, de novo, um Verão.” Aquela subtil expressão temporal – “de novo” – alude à repetição, permite adivinhar um passado, outros Verões, uma história comum a estas personagens. É verdade que, por um lado, todo o teor da conversa permite adivinhar que estas duas personagens não são estranhas entre si mas, por outro lado, nunca é explicitada qual a relação entre os dois, em que pontos e em que circunstâncias as suas vidas se tocaram.

É, aliás, esse teor da conversa que em grande parte contribui para a noção de inverosimilhança, de existência para lá de qualquer noção de realidade. Se não estão fora do real, como Handke parece querer convencer-nos, o real está fora deles – este diálogo de Verão parece ocorrer numa espécie de realidade paralela.

Não é fácil justificar esta afirmação. O escritor norueguês Karl Ove Knausgaard, num ensaio recente, escrito a propósito do International Ibsen Award com que Handke foi galardoado, escreveu que os livros do austríaco “resistem à interpretação. [...] Os livros de Handke interpretam-se a si mesmos.” Mas podemos justificar esta sensação de realidade paralela, ou pelo menos de distanciamento de uma imagem reconhecível de realidade, com uma certa ideia meta-ficcional que existe na obra.

Depois daquele parágrafo introdutório a que já aludimos, a primeira fala é do Homem: “Quem é que começa?”. A Mulher responde: “Tu. Como estava previsto.” Não são muitas as indicações desta ordem, que permitem, mesmo que nunca explicitamente, falar de meta-ficção, mas há uma outra, mais adiante, em que a Mulher diz: “Felizmente, não estamos num drama, nós dois. Apenas num diálogo de Verão.” É vago, mas o facto de remeter para o subtítulo e de falar, antes, no drama (género teatral na sua origem), aliado às indicações anteriores como o início do diálogo, dão azo a que se possa especular sobre a possível consciência ficcional destas personagens.

Tudo isto é apenas uma contextualização do que rodeia o diálogo em si, que é o que realmente importa. Mas o estranhamento que esse diálogo nos provoca parece pedir que se fale de tudo o que o envolve, de tudo o que o possa justificar. É apenas um impulso, que eventualmente não agradará a Handke, que nos desvia do diálogo. Contudo, não nos desvia ao ponto de não podermos desfrutar deste, apreciá-lo.

Àquelas duas primeiras falas já citadas, segue-se uma pergunta do Homem: “A tua primeira vez, com um homem, foi como?” O leitor que se estivesse a perguntar de que tipo de estranhamento falávamos tem, com esta primeira pergunta, uma pequena noção do que o espera. E se não for suficiente, a resposta da Mulher é a seguinte: “Olha ali um bútio, por entre as árvores, como uma flecha. Ou será um milhafre?” Antes desta resposta há uma indicação cénica que diz: “A Mulher com uma voz adequada à cena, tal como o homem, mas não demasiado”. Esta indicação é, toda ela, um enigma. O que é uma voz adequada à cena? Mas não demasiado?

Segue-se a resposta do Homem, ainda sobre as aves, para culminar insistindo na pergunta que tinha feito e à qual a Mulher não tinha respondido. A partir daqui, com outras interrupções semelhantes, o diálogo centra-se em questões de sexualidade, numa interrogação do jogo de poderes homem-mulher.

A descoberta da sexualidade pela Mulher, num baloiço, aos dez anos foi como “a origem do mundo” e ao mesmo tempo privou-a não apenas da infância, mas também “de toda a legitimidade de uma habitante do mundo habitual”. A Mulher descreve assim a sensação: “Pavor doce – doçura de um além – novo pavor sem a doçura – memória da doçura – etecetera, etecetera, etecetera, até hoje.”

À medida que se desenrola a conversa, e desta primeira experiência sozinha a Mulher passa para a primeira experiência com um homem, instala-se a desconfiança de que esse primeiro homem terá sido o Homem, o seu interlocutor. Quando, após a descrição desse primeiro encontro sexual, o Homem lhe pergunta se permaneceram divinos, a Mulher responde: “Durante algum tempo. [...] Pelo menos, para além desse longínquo dia de Verão.” Este longínquo dia de Verão pode ligar-se à primeira frase do parágrafo introdutório. Se agora, no momento da acção, é “de novo, um Verão”, aquela ideia de repetição não estará a aludir a esse primeiro e longínquo encontro entre os dois?

O Homem pergunta: “E depois?”. A Mulher responde: “Casámo-nos e continuámos felizes e cada vez menos divinos, até ao fim dos nossos dias” e intensifica a desconfiança de que o Homem com quem fala tem um passado em comum consigo – quem sabe até um presente. Contudo, o relato de experiências sexuais da Mulher não se esgota nesse primeiro homem. Houve outros, ainda que tenham funcionado quase sempre como vingança. Não vingança contra um homem, ou contra os homens em geral, mas uma vingança íntima dirigida “contra um outro espírito, um espírito hostil, inimigo, que reinava, e que parece reinar ainda, sobre este mundo.”

É uma investigação sobre esta vingança, sobre as motivações e irracionalidades do amor e do sexo, que encontramos em todo o texto. Num diálogo que tem tanto de estranho e inverosímil como de poético, Handke guia o leitor (e o público, sendo um texto escrito para teatro) a um questionamento não tanto psicológico quanto sensorial.

Com todo o risco que há em fazer este tipo de afirmações sem ter visto a peça encenada, Os Belos Dias de Aranjuez parece ser um texto que não pode viver só no palco, que exige a leitura – mais do que uma, até, tal a amplitude de interpretações que permite. Em todo este jogo de personagens fora da realidade ou realidade fora das personagens, há neste diálogo estranho matéria que reconhecemos, que ecoa dentro de nós e que nos é transmitida com toda a beleza que exige.

Gonçalo Mira, Ípsilon | Público, 28 de Novembro de 2011

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Cesariny – em casas como aquela | Duarte Belo, José Manuel dos Santos



Cesariny – em casas como aquela
Duarte Belo, José Manuel dos Santos

ISBN: 978-989-8566-82-9

Edição: Novembro 2014

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 16,7x21 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 88 (fotografias impressas em duotone)

[ Em colaboração com a Fundação EDP e com a Fundação Cupertino de Miranda ]


Este livro foi publicado com o apoio da Fundação EDP, por ocasião dos VIII Encontros de Mário Cesariny, realizados pela Fundação Cupertino de Miranda em Vila Nova de Famalicão, em Novembro de 2014. Reúne um conjunto de fotografias de Duarte Belo registadas na casa de Mário Cesariny, na Rua Basílio Teles, n.º 6 – 2.º dir., em Lisboa, no âmbito da atribuição do Grande Prémio EDP – Artes Plásticas, em 2002, e integrando o conjunto de iniciativas comissariadas por João Pinharanda que conduziram à realização da exposição retrospectiva, em 2004, no Museu da Cidade, em Lisboa.

«Estas fotografias de Duarte Belo são como um navio de espelhos onde o mundo fechado de Cesariny nos entrega os seus sinais, as suas sombras, as suas solidões, os seus sóis, os seus fantasmas, os seus funâmbulos. Nesse navio, ele era como um capitão na sua ponte de comando sob os relâmpagos que dão a fundura do mar à altura do céu. 
Agora, olho estas fotografias (Cesariny gostava de dizer: lindas) de Duarte Belo e elas são a madalena do Proust que-ele-não-leu-porque-não-precisava e que me traz o tempo e os seus habitantes. Olho-as e digo com ele: “… a sombra dita a luz / não ilumina realmente os objectos / os objectos vivem às escuras / numa perpétua aurora surrealista / com a qual não podemos contactar / senão como os amantes / de olhos fechados / e lâmpadas nos dedos e na boca”. 
Olho-as e vejo-me nelas como se tivesse acabado de chegar àquela casa que apenas foi inteiramente dele quando a rua lhe negou abrigo, susto e aventura. Nestas fotografias, a casa é uma colagem de objectos em êxtase, uma colecção de imagens em rotação, uma constelação de astros em fuga, uma sucessão de sinais sagrados. Aqui, Mário Cesariny é um rei no seu castelo de relâmpagos e raios.» [José Manuel dos Santos

Duarte Belo nasceu em Lisboa (1968). Licenciado em Arquitectura (1991). Paralelamente à actividade inicial em Arquitectura, desenvolve projectos em Fotografia. Expõe individualmente desde 1989, tendo já participado em numerosas exposições individuais. Está representado em diversas colecções públicas e privadas, em Portugal e no estrangeiro. Já desenvolveu a actividade de docência e participa regularmente em seminários, congressos e mesas redondas. 
Da obra publicada poderíamos destacar Orlando Ribeiro — Seguido de uma viagem breve à Serra da Estrela (1999); Ruy Belo — Coisas de Silêncio (2000); À Superfície do Tempo — Viagem à Amazónia (2002); Geografia do Caos (2005); Olívia e Joaquim – Doces de Santa Clara em Vila do Conde (2007); desenha, produz e fotografa as ilustrações do conto O Príncipe-Urso Doce de Laranja (2009). De uma obra documental extensa, centrada no levantamento fotográfico da paisagem e das formas de ocupação do território, são de destacar as obras Portugal — O Sabor da Terra (1997) e Portugal Património (2007-2008).


Cartas de Mário Cesariny para Cruzeiro Seixas


Cartas de Mário Cesariny para Cruzeiro Seixas
Mário Cesariny

Edição de Perfecto E. Cuadrado, António Gonçalves e Cristina Guerra

ISBN: 978-989-8566-83-6

Edição: Novembro 2014

Preço: 17,92 euros | PVP: 19 euros
Formato: 14,5x20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 320

[ Em colaboração com a Fundação Cupertino de Miranda ]


«Estas cartas de Mário Cesariny para Cruzeiro Seixas, que abrangem o longo período que vai de 07-08-1941 a 13-12-1975, pouco ou nada têm que ver com o género ou subgénero literário chamado “epistolografia”. Itinerário ou roteiro dalgumas das estações principais duma singular viagem interior, sim; confissões do lado de lá da barricada, também; e ainda mais: mão cheia de reflexões, iluminações, relâmpagos, faíscas que nos falam do amor consumado e fugidio e dos sucessivos objectos do desejo (com ou sem nomes dos parceiros ou destinatários), da poesia, de penas (capitais) e de prestidigitações (de manual); projectos de publicações e exposições no Reino da Dinamarca e noutras terras — franças, holandas, inglaterras… —, para conquistar e onde semear os sonhos e os incêndios; quadros e estórias da história da intervenção surrealista em Portugal e dalguns dos seus protagonistas; intersecções de bildungsroman e künstlerroman, cachoeiras líricas e charcos dramáticos que nunca chegaram a lagoas e acabaram travestidos também de artefactos poéticos; cantigas de amigo e de escárnio e maldizer (em prosa, naturalmente, como anunciava Nicolau Cansado Escritor); via sacra e feira popular, Mário no desenvolver-se e no despir-se do seu eu mais profundo e mais seu em diálogo com quem foi sempre — mesmo quando passaram a espreitar-se de longe — o seu eu mais próximo, Artur Manuel do Cruzeiro Seixas (camarada e amigo; depois aquele a quem Mário “toma os olhos e as mãos e […] beija devagarinho”), os dois às vezes fundidos e até confundidos num espaço onde brincavam amor e admiração; fragmentos, enfim, do plano do tesouro da geografia afectiva de Mário Cesariny.» [Perfecto E. Cuadrado

«Queridíssimo Artur Manuel: A tua carta! A tua carta! A tua carta! Eu estava já assustado com o teu silêncio! Desculpa se te pareço ilógico: é que o meu silêncio para contigo, que mais de uma vez referiste magoadamente, perdoa, não é um silêncio, penso em ti todos os dias dos meses com muito amor, muita admiração e muito desespero, ou, se é silêncio, é, perdoa outra vez, parecer-te-á ridículo, um silêncio de trabalho, como se disse “chá de trabalho” quando as perspectivas terráqueas são o estoiro atómico e as personagens, ultrapassadas pelos acontecimentos, dão o resto, isto é, a hora do chá, que era para cruzar a perna e olhar pela janela. Nem perna, nem janela, nem nada. Nem silêncio. Sei que te devo, devemos, graves obrigações. Ou, se te parece pesado dito dessa maneira: que me impus duas ou três importantes tarefas, em relação a ti: uma, os teus poemas escritos; outra, o teu mundo infinito de desenhos, de pinturas, de objectos — o teu amor; outra — tudo isso e tu próprio — talvez o único de todos a quem pode chamar-se sem restrições O POETA. Outra: as tuas cartas! As cartas do rei Artur!» [Mário Cesariny, 12-03-1963]

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

NÃO – uma biografia do Ar.Co | Maria Antónia Oliveira


NÃO – uma biografia do Ar.Co
Maria Antónia Oliveira

ISBN: 978-989-8566-80-5

Edição: Novembro 2014

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5x20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 192



«O metro abrandava. Olhou pela janela: Socorro, estava a chegar. Saiu na estação seguinte, Rossio. Era Novembro. Os dias corriam chuvosos, ainda mornos. Aproveitou uma aberta e desceu a Rua dos Fanqueiros, alinhando o passo pelos beirais e toldos. A Baixa tinha o aspecto pobre e caótico dos dias de chuva. Por momentos pensou apanhar o eléctrico 28 para subir até à escola. Mas a chuva tinha parado; o vento húmido empurrava-a na direcção do rio. Virou para a Rua da Conceição e desistiu da ideia do eléctrico. Trepou o caminho molhado em direcção à Sé.
Como é que dizia ontem o director?… Que isto não é um curso, que é um percurso. Olha que bom… é melhor não dizer isto ao pai, senão lá me vem outra vez com a história do curso superior e das habilitações e mais a treta toda. Que chato. Ele não percebe mesmo que não quero nada disso

Maria Antónia Oliveira é autora de Alexandre O’Neill. Uma Biografia Literária (D. Quixote, 2007). Doutorou-se na FCSH da Universidade Nova de Lisboa com a tese Os Biógrafos de Camilo. Publicou artigos vários sobre biografia. Recebeu o Prémio Revelação Ensaio da APE/IPLL de 1990 com A Tristeza Contentinha de Alexandre O’Neill (Caminho, 1992). Vive em Lisboa.

O Ar.Co é uma escola de arte independente, fundada em 1973, que se dedica à experimentação, à formação e à divulgação das artes, “crafts” de autor e disciplinas da comunicação visual.


Alguns testemunhos:

«Entre Ar.Co e qualidade, a meu ver, existe uma relação de quase sinonímia. Basta ver o seu programa de estudos, o elenco dos seus professores e o êxito que têm obtido os que foram seus alunos.»
Ana Hatherly (artista plástica)

«Uma formação qualificada é um factor determinante de sucesso nas carreiras artísticas. O Ar.Co, além de ministrar uma formação técnica bem estruturada e integrada no nosso tempo, proporciona um ambiente criativo, estimulante e interventivo, integrando-se activamente no meio artístico nacional.»
Fernando Calhau [1948-2002] (artista plástico; ex-director do Instituto de Arte Contemporânea)

«... tenho muita pena de não ter sido aluno do Ar.Co...»
Julião Sarmento (artista plástico)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Os Belos Dias de Aranjuez – um diálogo de Verão | Peter Handke


Os Belos Dias de Aranjuez – um diálogo de Verão
Peter Handke

Tradução de Maria Manuel Viana

ISBN: 978-989-8566-70-6

Edição: Outubro de 2014

Preço: 9,43 euros | PVP: 10 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm
Número de páginas: 64

[ Em colaboração com a 8.ª edição do Lisbon & Estoril Film Festival ]


A peça Os Belos Dias de Aranjuez marca o regresso em grande de Peter Handke à escrita teatral. Um homem e uma mulher num diálogo comovente e cúmplice sobre o amor, que deixa adivinhar uma intimidade de vários anos. A troca de recordações íntimas, a primeira vez. As banalidades, às vezes uma certa rudeza, do amor. Ou o que nele nos eleva e ilumina. E, como acontece sempre na escrita de Handke, à mistura com estas recordações, uma atenção singular ao mundo, à natureza, aos pequenos sinais quase imperceptíveis que são indissociáveis dos mistérios do amor. 

Escrita por Handke directamente em francês, Os Belos Dias de Aranjuez teve estreia mundial, na versão alemã, no Festival de Viena, numa encenação de Luc Bondy, que depois abriria também a temporada do Odéon, em Paris. O realizador Wim Wenders irá realizar um filme a partir da versão francesa, co-produzido por Paulo Branco. 

Este livro, traduzido por Maria Manuel Viana, é publicado por ocasião da representação da peça na 8.ª edição do Lisbon & Estoril Film Festival, a 12 de Novembro de 2014, com encenação de Tiago Guedes e a participação dos actores Isabel Abreu e João Pedro Vaz. A representação única conta com a presença do escritor e realizador Peter Handke. 

Peter Handke [Áustria, 1942]. Com uma obra literária que se desenvolveu desde o início entre a ficção narrativa e o teatro, Peter Handke é um dos maiores autores da literatura contemporânea, que se revelou também no ensaio, na prosa de reflexão e na poesia. Muitos dos títulos que o tornaram célebre foram traduzidos em português, entre eles, A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty, Uma Breve Carta para um Longo Adeus, Para uma Abordagem da Fadiga, O Chinês da Dor, Numa Noite Escura Saí da Minha Casa Silenciosa, ou Poema à Duração

No cinema, para além de uma extensa e profícua colaboração com Wim Wenders, destaca-se a realização dos filmes A Ausência e A Mulher Canhota.

Crónicas: Imagens Proféticas e Outras – 3.º volume | João Bénard da Costa



Crónicas: Imagens Proféticas e Outras – 3.º volume
João Bénard da Costa

Edição de Lúcia Guedes Vaz

ISBN: 978-989-8566-71-3

Edição: Outubro de 2014
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm
Número de páginas: 272 (com reproduções a PB)


«A escrita de Bénard, costurada em digressões permanentes, parêntesis e alvéolos, mostra, além disso, como a palavra é inseparável da memória. Nos ambientes gregos inspirados, ela era tida por omnisciência de carácter divinatório, expressa no mantra: “o que é, o que será, o que foi”. Nos meios judaicos e cristãos, era interpretada pelo binómio profecia e cumprimento. A memória não é apenas o suporte da palavra: é, sobretudo, a potência (poética, maiêutica…) que confere ao verbo o seu estatuto de significação máxima.» [José Tolentino Mendonça, no Prefácio ao 1.º Volume] 

João Pedro Bénard da Costa [Lisboa, 1935 – Lisboa, 2009], foi crítico de cinema e ensaísta. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa em 1959. Em 1963 tornou-se co-fundador e, mais tarde, chefe de redacção e director da revista O Tempo e o Modo. Seis anos depois, assumiu a coordenação do Sector de Cinema do Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, função que desempenharia até 1991. Entre 1973 e 1980 foi professor de História do Cinema da Escola Superior de Cinema do Conservatório Nacional, e, em 1980, foi nomeado subdirector da Cinemateca Portuguesa, tornando-se, em 1991, seu director. Publicou, ao longo da sua vida, várias obras de filosofia, pedagogia e história do cinema. Entre outras homenagens, foram-lhe concedidas, em 1990, as comendas de Oficial das Artes e das Letras de França e a Ordem do Infante D. Henrique; em 1995 foi destacado com o Prémio de Estudos Fílmicos da Universidade de Coimbra; em 1997 foi nomeado Presidente da Comissão do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas – cargo, aliás, que continuaria a ocupar nos anos seguintes; e, em Dezembro de 2001, foi galardoado com o Prémio Pessoa. 

Publicou, ao longo da sua vida, várias obras de filosofia, pedagogia e história do cinema. Entre outros títulos, destacam-se os livros Alfred Hitchcock (1982), Luis Buñuel (1982), Fritz Lang (1983), Nicholas Ray (1984), Emmanuel Mounier (1960), Os Filmes da Minha Vida (1990), Histórias do Cinema Português (1991), Muito Lá de Casa (1993) e O Cinema Português Nunca Existiu (1996).

Geografia Imaterial | João Barrento



Geografia Imaterial
João Barrento

Fotografias de Maria Etelvina Santos

ISBN: 978-989-8566-74-4

Edição: Outubro de 2014

Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm
Número de páginas: 128


O horizonte — o próximo e o distante — dos três ensaios deste livro é o da desconstrução da ideia do poema como lugar e motor de qualquer forma de utopia, e da impossível resposta à questão «O que é a poesia?». Uma vez que a poesia não existe, prefiro dirigir o olhar para a configuração do poema como matéria do puro possível, aquela que vive da tensão do aberto e melhor evidencia a «potência sem acto» da linguagem, ou a sua «pujança sem poder», aquilo que, no discurso da poesia, devém hoje para o quase-nada e não parece querer devir para outro lugar que não seja o do apagamento de sentidos definitivos. «A potência dos poetas», escreve Maria Gabriela Llansol num dos cadernos inéditos, «é uma fonte» — e não um dado adquirido ou uma qualquer forma de poder do poema sobre o mundo. Mas se for escrita do mundo (em que ela própria se inclui), mais do que mera grafia do Eu, a poesia será sempre uma espécie de «contra-música» da respiração do mundo. É também assim que ela é vista nos ensaios deste livro — e, em consonância com eles, nas fotografias de Maria Etelvina Santos que o acompanham. [João Barrento] 

João Barrento [Alter do Chão, 1940]. Estudou Filologia Germânica na Faculdade de Letras de Lisboa (1958-64). Foi leitor de Português na Universidade de Hamburgo entre 1965 e 1968, e docente de Literatura Alemã e Comparada na Faculdade de Letras de Lisboa (1969-86). De 1986 a 2002, foi Professor Associado Convidado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Colaborou no jornal Público e na maior parte das revistas literárias portuguesas, bem como nalgumas estrangeiras. É ensaísta e tradutor de literatura de língua alemã. Publicou treze livros de ensaio, crítica e teoria literária, e algumas centenas de artigos. Foi Vice-Presidente do PEN-Clube Português entre 1994 e 2003; Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Germanistas (1994-96); Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Tradutores (1989-97) e da Associação Portuguesa de Literatura Comparada. Foi Professor Convidado e conferencista na Áustria, Bélgica, e em várias universidades alemãs e brasileiras. É membro de diversas organizações literárias e científicas. Recebeu numerosos prémios e condecorações nacionais e internacionais; publicou algumas centenas de artigos e ensaios, nas áreas da teoria da literatura e da tradução, das literaturas de língua alemã, da literatura comparada e da literatura portuguesa; e algumas dezenas de traduções de autores de língua alemã, especialmente poesia do século XX, teatro contemporâneo, Goethe e Walter Benjamin.

Os Trovadores Provençais | Selecção e tradução de Irene Freire Nunes e Fernando Cabral Martins



Os Trovadores Provençais
AA.VV

Selecção e tradução: Irene Freire Nunes, Fernando Cabral Martins

ISBN: 978-989-8566-72-0

Edição: Outubro de 2014

Preço: 20,75 euros | PVP: 22 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm
Número de páginas: 304

[ Em colaboração com o IELT ]


É com a poesia trovadoresca provençal que começa a poesia europeia moderna, e, de modo particular, é a partir da sua influência que se desenvolve a poesia em português, ou galaico-português. Trata-se da primeira poesia escrita em língua novi-latina, que nasce do falar comum das nações no momento em que se constroem as grandes catedrais góticas. Por outro lado, é com esta poesia que se modela a ideia do amor como sentimento, e é no seu ambiente cultural que se vão articular os próprios conceitos de indivíduo e de subjectividade. Assim, a poesia trovadoresca provençal está no centro de um vasto e decisivo momento de transição para o nosso tempo. [Da Introdução]

Este livro reúne poesia dos trovadores provençais Guilhem de Poitiers, Jauffré Rudel, Marcabru, Cercamon, Peire d’Alvernha, Bernard de Ventadour, Rigaut de Berbezilh, Raimbaut d’Aurenga, Azalaïs de Porcairages, Guillem de Berguedà, Giraut de Bornelh, Arnaut Daniel, Arnaut de Maruelh, Bertrand de Born, Gaucelm Faidit, Condessa de Dia, Raimbaut de Vaqueiras, Peire Vidal, Raimon de Miraval, Gavaudan, Guillem de Cabestany, Guilhelm Figueira, Castelloza, Guiraut d’Espanha, Guilhem de Montanhagol, Sordel, Peire Cardenal, Cerveri de Girona (Guilhem de Cervera), Guiraut Riquier, e autores anónimos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O Duelo | Joseph Conrad



O Duelo
Joseph Conrad

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN: 978-989-8566-69-0

Edição: Novembro de 2014

Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5x20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128


[…] este Duelo permanece como uma das mais logradas expressões literárias da contingência da vida perante os códigos de honra a que ela, por enobrecidos absurdos de uma civilização, aceitou sujeitar-se.
Nos dezasseis anos percorridos pelos seus quatro capítulos, dois militares constroem um destino de violência sem razão; nos seus intervalos de paz batem-se periodicamente em duelo, encontrando no prestígio mítico de Napoleão e num exacerbado sentido de honra a magia capaz de ressuscitar essa outra, dos momentos de guerra, que os levava à embriaguez convulsiva de morte em fumo e fogo nas cargas contra o inimigo. O desvanecimento desta energia nas tranquilidades da reforma profissional e as branduras do conforto burguês surge-lhes como um melancólico declínio. [Aníbal Fernandes]

Joseph Conrad nasceu em 3 de Dezembro de 1857, numa região da Polónia anexada pela Rússia (actual Ucrânia); os pais eram nacionalistas polacos, expulsos do país em 1862. Aos vinte e um anos, em Inglaterra, decide-se pela marinha mercante. Em 1886 é cidadão britânico e, passados vinte anos de mar (Extremo Oriente, Congo, América do Sul), torna-se escritor — em inglês. Faleceu em 3 de Agosto de 1924.

NÃO — uma biografia do Ar.Co (convite para lançamento)


clicar na imagem para a aumentar

Arte e Técnica em Heidegger (convite para lançamento)

clicar na imagem para a aumentar

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

«Provas de Contacto» | José de Guimarães


Provas de Contacto
Do stencil ao digital: processos de transferência da imagem

Apresentação de Nuno Faria e José Bastos

Edição bilingue (português-inglês)

ISBN: 978-989-8474-21-6

PVP (IVA incluído): 20 euros
Formato: 16x22 cm (brochado)
Número de páginas: 208

O presente catálogo revela um extenso segmento do trabalho de José de Guimarães, mal conhecido e de grande relevância para o entendimento da obra do artista, que cobre um arco temporal de cinquenta anos: um conjunto muito diversificado de obras que dão corpo a uma incessante produção de imagens realizadas por transferência. Seja em torno de métodos tradicionais de gravura, seja de práticas menos convencionais, como o stencil, José de Guimarães desenvolveu desde o princípio dos anos 60 até aos dias de hoje uma incansável pesquisa que concilia experimentação material, rigor formal e um vocabulário de formas que permanentemente convoca a mestiçagem como conceito central da sua obra. O título – Provas de Contacto – é programático e operativo. Aqui, prova(s) é uma palavra para ser lida em duplo sentido: de tiragem, de repetição mas também no sentido de prova jurídica, de evidência. Por seu turno, contacto deve ser entendido também em duplo sentido: imagens que se formam por contacto físico, pelo toque; mas ao mesmo tempo, o contacto que significa a busca do outro. 

[Nuno Faria]

terça-feira, 4 de novembro de 2014

«Manon Lescaut» | Padre Prévost



Manon Lescaut
(História do Cavaleiro Des Grieux e de Manon Lescaut)
Padre Prévost

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN: 978-989-8566-63-8

Edição: Outubro de 2014

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5x20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 192


Um perfume libertino de pó-de-arroz, vinho na toalha e cama desfeita. 
As duas personagens estão cobertas com o óleo que há nas penas do cisne, 
o que lhe permite chapinhar na água sem se conspurcar.
Cocteau

No inferno destas duzentas páginas ouvimos da voz humana, e ao seu nível mais patético, os exorcismos, as ameaças, os gritos da revolta e do desespero, o sopro das encarniçadas forças de um herói de amor em luta contra as proibições da família, da religião, da ordem social e da sua própria fatalidade. Se a procura do absoluto é o que pedimos à poesia, o cavaleiro Des Grieux é um poeta da vida à procura de Manon Lescaut, o seu absoluto. Na posse de Manon Lescaut reside a sua única pacificação metafísica, a sua única justificação do universo. Com a amante desaparecida, só lhe resta morrer ou arrastar-se por uma má vida tão apodrecida como a morte. 

[Gilbert Lély]

O padre Prévost [Antoine François Prévost d’Exiles: Hesdin, 1697 – Courteuil, 1763] ficou-nos como romancista. Escreveu histórias alongadas por muitos volumes, como pedia o gosto da sua época, e em sete títulos intitulou-se «homem de qualidade que se retirou do mundo» para contar com habilidade formal enredos pretendidos como memórias, as de um marquês observador, ouvidor, condoído e apaixonado por singulares destinos que ao pé dele se denunciavam. Quando chegou ao sétimo, chegou também ao seu mais perdurável momento nas letras, o da história com nome extenso e que a popularidade reduziu a Manon Lescaut; por outros escritores muito apreciada, e conhecemos disto exemplos como os de Sainte-Beuve, Musset, Flaubert, Maupassant… entre os seduzidos pelo seu lado elegante e frívolo, pelo seu amor louco. Teve o desdém de Napoleão: «É bom para porteiras.» Teve a perplexidade de Montesquieu, que nas histórias só gostava da clareza dos bons e dos maus, e se perdia quando lhe davam misturadas tintas: «O herói é um gatuno e a heroína uma dissoluta.» Jean Cocteau foi dos melhores quando escreveu para este romance uma das suas frases: «Cortejo de archotes com jogadores, trapaceiros, bebedores, debochados, devassas da polícia. […] Um perfume libertino de pó-de-arroz, vinho na toalha e cama desfeita. As duas personagens estão cobertas com o óleo que há nas penas do cisne, o que lhe permite chapinhar na água suja sem se conspurcar.» 

[Aníbal Fernandes]

«O Meu Corpo e Eu» | René Crevel


O Meu Corpo e Eu
René Crevel

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN: 978-989-8566-65-2

Edição: Outubro de 2014

Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5x20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128




O corpo duplo, o verdadeiro ou o seu reflexo.
O golden boy do surrealismo
e o seu mais amado suicida.
«Na nossa família suicidamo-nos muito.»

René Crevel [Paris, 1900 – Paris, 1935]: «O Meu Corpo e Eu ficou como sua obra mais célebre. Jogo de alternâncias, ficção e realidade autobiográfica a inventarem um corpo duplo, seu e de uma imagem no espelho, a impossibilidade de qualquer deles ser o verdadeiro ou o seu reflexo. As limitações desta experiência escrita e idealista fizeram-no aspirar à solução prática do mesmo angustiado inquérito, para ele o comunismo – “comunicação universal dos corpos, das línguas, do corpo da língua e da língua do corpo” – e neste entusiasmo a impossível coabitação, a do Surrealismo e do Comunismo unidos na expressão universal de um promissor destino para a humanidade.» 

[Aníbal Fernandes]

«Se tento retardar dedicando-me às verdades relativas e aos fenómenos exteriores, seus mesquinhos pretextos, bem depressa tenho de reconhecer que fugindo à ideia da morte também não aceitei a da vida, e todos os meus actos foram pequenos suicídios momentâneos que me diminuíram sem afastar da dor. Não quis sentir-me a viver. Desci a escada que levava ao bar subterrâneo e luminoso. Bebi, dancei. A minha carne tornava-se insensível. Beijei todas as bocas, para ter bem a certeza de que já não sentia desejo nem asco. Entre duas bebidas combinei actividades, coisas para o dia seguinte. E acumulei projectos sobre projectos. Belisquei a minha pele que se tornara indiferente. Mordi a minha própria mão e não reconheci o gosto humano. Eis senão quando o alvorecer me surpreende estranho às coisas e às criaturas. Terei pois pecado por me ver, e suportado um tamanho asco por me ver. “É um pecado conhecermo-nos de mais, um pecado contra nós próprios”, diz-me o companheiro que chora mas dorme bem.» 

[René Crevel, O Meu Corpo e Eu].

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

«Como um Deus que Dorme — Dacosta: heterónimo teorema epifania» | Carmo Sousa Lima, António Dacosta


Como um Deus que Dorme
Dacosta: heterónimo teorema epifania

Carmo Sousa Lima, António Dacosta

ISBN: 978-989-8566-75-1

Edição: Outubro de 2014

Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 15,5x23,5 cm (brochado)
Número de páginas: 48 (com reproduções a cores)


Sob o riso fez-se um silêncio dourado por entre árvores antigas – e o narrador começou a pressentir um inquietante sossego. Foi quando começou a ouvir com os olhos um coro que restolhava a caminho de Évora, sussurrando: Tirem-me daqui a Metafísica… Tirem-me daqui a Metafísica…

Apearam-se então no quadro de António Uma Romana em Évora. O narrador mais pensou: «Sempre suspeitei que este foi o sonho que Fernando ofereceu a António com a enigmática dedicatória: Ao último heterónimo… quem, coroado por quatro abelhas, se encantou assim… que transmutado bicho… que solitária coluna…»

[Carmo Sousa Lima, Como um Deus que Dorme]

Carmo Sousa Lima [Ponta Delgada] é psicanalista de crianças e adultos, membro permanente da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, da International Psychoanalytical Association, e da European Psychology Federation.

António Dacosta [Angra do Heroísmo, 3 de Novembro de 1914 – Paris, 2 de Dezembro de 1990], poeta, crítico de arte e pintor. A sua obra pictórica é constituída por duas fases distintas. Entre 1939 e 1948 trabalha essencialmente dentro de um idioma surrealista, afirmando-se como uma figura de referência do movimento em Portugal. Essa fase encerra-se com pinturas realizadas em Paris – onde fixa residência a partir de 1947 –, em que se aproxima da abstracção. Segue-se um hiato de trinta anos em que interrompe quase por completo a prática artística, dedicando-se à crítica de arte. Retoma a pintura de forma consistente apenas no final da década de 1970. A partir daí e até à data da sua morte irá realizar um conjunto de obras diversas, identicamente notáveis.

«Žižek, Marx & Beckett — e a democracia por vir» | Sousa Dias


Žižek, Marx & Beckett — e a democracia por vir
Sousa Dias

ISBN: 978-989-8566-73-7

Edição: Outubro de 2014

Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5x20,5 cm (brochado)
Número de páginas: 128


«Democracia» designa hoje na linguagem política um significante vazio, tão mais consensual quanto mais vazio, quanto mais inquestionado no seu conceito ou na sua substância, espécie de religião laica universal. O problema filosófico-político deste tempo não é a crítica do capitalismo, sobre a qual toda a gente está mais ou menos de acordo. É a crítica da democracia que nos vendem, a única a que nos dizem termos direito, como regime de poder inseparável da realidade capitalista dominante e modo ideal, e também o mais cínico, de legitimação sociopolítica dessa realidade. Uma crítica ciente de que a solução para os cada vez mais dramáticos problemas da humanidade suscitados pelo capitalismo global, para o presente estado pré-apocalíptico do mundo, não passa por esta democracia. 

Sousa Dias nasceu no Porto em 1956. Professor. Publicou, entre outros livros, Lógica do acontecimento — introdução à filosofia de Deleuze, Questão de estilo (colectânea de textos de teoria da literatura e da arte), O Que é Poesia? e Grandeza de Marx — por uma política do impossível.

«Escola do Porto: Lado B – 1968-1978 (Uma história oral)» | Pedro Bandeira, Nuno Faria



Escola do Porto: Lado B – 1968-1978 (Uma história oral)
Pedro Bandeira, Nuno Faria

ISBN: 978-989-8566-78-2

Edição: Outubro de 2014

Preço: 18,87 euros | PVP: 20 euros
Formato: 16x22 cm (brochado)
Número de páginas: 208 (a preto e branco e a cores)

[ Co-edição: A Oficina, CIPRL ]

Catálogo publicado por ocasião da exposição Escola do Porto: Lado B – 1968-1978 (Uma história oral) [25 de Outubro 2014 – 11 de Janeiro 2015, na Plataforma das Artes e da Criatividade / CIAJG, Guimarães], produzida pelo Centro Internacional das Artes José de Guimarães. 

Há momentos na história (da arte, da arquitectura) em que se torna particularmente aguda a necessidade de haver uma separação das águas, uma radicalização dos conceitos e das práticas, uma superação dos meios e da linguagem. 

O livro Escola do Porto: Lado B revisita, em forma de história oral, um conjunto de propostas de intervenção não conformistas e indisciplinadas que, entre 1968 e 1978, no seio da ESBAP, questionaram radicalmente o modelo dominante e que, sendo algumas delas extraordinariamente actuais, encontram no CIAJG, em articulação com o projecto Parque de Ricardo Jacinto, o lugar e o tempo certo para serem reconsideradas. 

Escola do Porto: Lado B nasceu de um notável trabalho de campo realizado por Pedro Bandeira, na senda de outros inovadores projectos que vêm definindo uma marca autoral transdisciplinar, que mescla, com rara subtileza, rigor na investigação e ironia na proposição. Evocando o espírito da época, poderíamos dizer que este é um dos momentos em que as atitudes se tornaram forma. O projecto materializou-se em exposição depois de percebermos a singularidade dos documentos encontrados ao longo da pesquisa e fecha da melhor das maneiras o quarto e último ciclo expositivo do Centro. 

[Nuno Faria]

«Maria Gabriela Llansol – O Encontro Inesperado do Diverso – com Ilda David’ e Duarte Belo» | Ilda David’, Duarte Belo



Maria Gabriela Llansol – Encontro Inesperado do Diverso – com Ilda David’ e Duarte Belo

Ilda David’, Duarte Belo

João Barrento, Maria Etelvina Santos, Maria Gabriela Llansol, Nuno Faria

ISBN: 978-989-8566-77-5

Edição: Outubro de 2014

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 16 x 22 cm (brochado)
Número de páginas: 160 a preto e branco e a cores

[ Co-edição: A Oficina, CIPRL ]

Catálogo publicado por ocasião da exposição Maria Gabriela Llansol – O Encontro Inesperado do Diverso – com Ilda David’ e Duarte Belo [26 de Julho 2014 – 12 de Outubro 2014, na Plataforma das Artes e da Criatividade / CIAJG, Guimarães], produzida pelo Centro Internacional das Artes José de Guimarães. 

A exposição O Encontro Inesperado do Diverso, que este livro vem documentar, inaugurou um ciclo de exposições dedicadas a poetas ou a universos literários próximos da poesia sem serem formalmente poesia. Maria Gabriela Llansol [1931-2008] construiu uma das obras mais fascinantes e enigmáticas do panorama literário contemporâneo, inesgotável na leitura do mundo, na fulgorização dos seres, na transfiguração da escrita. 

O título da exposição, O Encontro Inesperado do Diverso, tomado de empréstimo ao livro Lisboaleipzig, é programático: representa, por um lado, a pluralidade e a abertura do projecto literário de Llansol, onde confluem outras obras, imagens e objectos reais e sonhados, em que a experiência da vida dá forma à escrita e em que a performatividade da escrita se verte no vivido quotidiano, reinventando-o, repropondo-o; e, por outro lado, é metarepresentativo do encontro em que se constitui a própria exposição, para onde convocámos dois outros universos autorais, da artista Ilda David’ [n. 1955] e do fotógrafo Duarte Belo [n. 1968], que conheceram Maria Gabriela Llansol e com quem colaboraram. 

Os trabalhos de Ilda David’ e Duarte Belo são, em Portugal, daqueles que mais íntima e aprofundadamente têm convivido com a literatura, mantendo um diálogo permanente com diversos autores dessa área ou tomando a escrita como matéria de inspiração. Assim, através da pintura, da gravura, do mosaico, do bordado ou do desenho, atravessados por personagens e objectos do livro, entre planos de representação e de corporalização, procura-se o sulco inscrito pela escrita de Llansol. Em contraponto, as fotografias propõem o espaço quotidiano e encenado da escrita, tornam presentes, apesar de distantes, as coisas e o tempo delas, todo um imaginário. 

O Encontro Inesperado do Diverso é uma experiência que transporta, para o espaço físico e codificado do museu, o lugar da apresentação, o espaço encapsulado e mágico do livro e, mesmo arriscando o desencontro ou a paralaxe, tentando dar corpo à voz interior da escrita e procurando o milagroso. 

[Nuno Faria]

«Só Acredito num Deus que Saiba Dançar – O cinema e o imaginário da arte» | João Botelho



Só Acredito num Deus que Saiba Dançar – 
O cinema e o imaginário da arte
João Botelho

Textos de António Rodrigues, Bernardo Pinto de Almeida, Fernando Cabral Martins, Nuno Faria

ISBN: 978-989-8566-76-8

Edição: Outubro de 2014

Preço: 18,87 euros | PVP: 20 euros
Formato: 16 x 22 cm (brochado)
Número de páginas: 160 a preto e branco e a cores

[ Co-edição: A Oficina, CIPRL ]


Catálogo publicado por ocasião da exposição João Botelho – Só Acredito num Deus que Saiba Dançar [26 de Julho 2014 – 12 de Outubro 2014, na Plataforma das Artes e da Criatividade / CIAJG, Guimarães], produzida pelo Centro Internacional das Artes José de Guimarães. 

Este livro é o terceiro e último vértice de um triângulo composto pela exposição Só Acredito num Deus que Saiba Dançar, de João Botelho [Lamego, 1949], e o ciclo de cinema que a acompanhou. Além de documentar a exposição, publica textos de autores que em diferentes fases do percurso de João Botelho lhe foram próximos, quer enquanto observadores, quer enquanto cúmplices, e que, num contexto editorial tão carenciado de publicações exclusivamente dedicadas a universos de autores-chave da nossa contemporaneidade, constituem um privilegiado e eloquente contributo crítico para o estudo de uma obra complexa, densa e frequentemente desnorteante, para quem nela procura continuidade e coerência. 

A exposição que o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) apresentou não é uma exposição clássica sobre a obra de um cineasta, mas antes a construção de um atlas de referências e de afinidades que procura dar a ver as múltiplas e profundas relações que com o imaginário da arte, desde a pré-história à contemporaneidade, detendo-se sobre a pintura, dos séculos XVI e XVII sobretudo, mas também a arte mais recente, o cinema de Botelho ensaia. Aqui, o desafio é o da mudança de contexto, de escala e de suporte, mas, sobretudo, o de outra temporalidade e de uma experiência perceptiva proposta ao espectador radicalmente distinta da do espaço abstracto da sala de cinema.              

A frase que dá título à exposição de João Botelho é uma máxima do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, inscrita num dos mais famosos e influentes livros do autor, Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém, escrito entre 1883 e 1885. A dança está frequentemente presente nos filmes e é omnipresente na vida de João Botelho, um dos mais singulares realizadores contemporâneos. […] 

Qual dançarino, entre o voo e a queda, em deriva, o autor de Conversa Acabada revisita obras suas e convoca obras de outros artistas, do passado ou seus contemporâneos (como é o caso da singular abordagem ao trabalho de João Queiroz, Francisco Tropa, Jorge Queiroz e Pedro Tropa, o filme Quatro, aqui mostrado em formato instalação e em diálogo com peças destes artistas), com um genuíno desejo das coisas, estabelecendo relações, mais ou menos evidentes, simultaneamente obscuras e luminosas. 

[Nuno Faria]

«Objectos Imediatos» | José Pedro Croft


Objectos Imediatos
José Pedro Croft

Textos de Delfim Sardo, Amador Vega, João Silvério

ISBN: 978-989-8566-68-3

Edição: Outubro de 2014

Preço: 35,85 euros | PVP: 38 euros
Formato: 24 x 29 cm (brochado, com cartaz-sobrecapa)
Número de páginas: 290 (a cores)

Edição bilingue português-inglês

[ Em colaboração com a Fundação Carmona e Costa ]


Catálogo publicado por ocasião da exposição Objectos Imediatos, de José Pedro Croft, apresentada na Fundação Carmona e Costa de 18 de Outubro a 6 de Dezembro de 2014 e na Galeria Torreão Nascente da Cordoaria Nacional de 24 de Outubro de 2014 a 11 de Janeiro de 2015. 

A exposição de José Croft pode ser entendida como um ensaio em dois tomos. Dois espaços de trabalho que se cruzam e perseguem continuamente, correspondendo-se na unidade do tempo que a amplitude da sua obra unifica. A sua materialização bidimensional e tridimensional conduz o observador a um contínuo movimento do corpo, seja este provocado pelo encontro com o desenho, a escultura, a gravura, o livro ou a assunção da imagem como matéria e memória da acção do artista. Assim, simples objectos que fazem parte do nosso léxico para o reconhecimento do mundo, como as formas geométricas elementares, o quadrado, o círculo ou a linha, são sujeitos a uma metodológica transfiguração que os liberta de uma aparente abstracção e introduz em cada um de nós uma condição iniciática. 

[João Silvério

José Pedro Croft nasceu no Porto em 1957. Actualmente vive e trabalha em Lisboa. Entre 1976 e 1981, frequentou o curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Em 2001 vence o Prémio Nacional de Arte Pública Tabaqueira e o Prémio EDP – Desenho. Em 2002, o Centro Cultural de Belém organiza uma grande exposição retrospectiva do seu trabalho. Expõe individualmente com regularidade desde 1981, de onde se destacam, das exposições mais recentes: Chiado 8 – Arte Contemporânea (2011), Lisboa; Galeria Mário Sequeira (2011), Braga; Projecto Contentores P28 (2010), Docas de Alcântara, Lisboa; Galeria Filomena Soares (2009), Lisboa; Galería SENDA (2009), Barcelona; Marília Razuk Galeria de Arte (2009), São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo – Museu de São Paulo de Arte Contemporânea (2009), São Paulo; Galería SCQ (2009), Santiago de Compostela; Pavilhão Centro de Portugal (2008), Coimbra; Galeria Helga de Alvear (2008), Madrid; La Caja Negra (2008), Madrid; Fundação Calouste Gulbenkian (2007 e 2006), Lisboa; MAM – Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro (2006), Rio de Janeiro; Museu de Arte da Pampulha (2006), Belo Horizonte; e Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães-MAMAM (2005), Recife, Brasil. A sua obra encontra-se presente em diversas colecções públicas e privadas.


«Temas e Variações – Parte escrita III (1968-2013)» | Júlio Pomar



Temas e Variações – Parte escrita III
(1968-2013)
Júlio Pomar

Apresentação e organização de Sara Antónia Matos e Pedro Faro

ISBN: 978-989-8566-44-7

Edição: Setembro de 2014

Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 16x22 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 320

[ Cadernos do atelier-Museu Júlio Pomar ]

A publicação Temas e Variações, Parte Escrita III encerra o projecto editorial do Atelier-Museu Júlio Pomar de reunir, em três volumes, todos os textos críticos publicados por Júlio Pomar, desde 1942 até à actualidade. Este projecto procurou, sobretudo, validar e fixar a importância destes textos como um dos capítulos mais importantes da chamada «literatura artística» do século XX, em Portugal. Por um lado, sistematiza esse património como relevante fonte para a história da arte e, por outro, problematiza a noção de «autoria», colocando hipóteses sobre as linguagens e os meios a que um autor recorre para afirmar a sua voz. […]

Temas e Variações explora o significado e os fundamentos que presidem à «obra» do autor, adquirindo um teor especulativo, incerto e experimental — desconstruindo, riscando e arriscando os limites de um saber «utilitário». A necessidade de experimentar, que se manifesta também ao nível da forma como o pensamento é exposto em palavras, frases e colunas de texto, pode ver-se, além de ler-se, em alguns textos publicados, neste terceiro volume, que assumem uma matriz filosófica. A obra escrita de Pomar alcança, deste modo, uma dimensão analítica e epistemológica, menos concreta ou realista mas, de certa maneira, mais profunda. 

[Sara Antónia Matos e Pedro Faro]

Júlio Pomar [Lisboa, 1926] vive e trabalha em Paris e Lisboa. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto. No início da sua carreira, foi um dos animadores do movimento neo-realista, desenvolvendo uma larga intervenção crítica em jornais e revistas. Tem-se dedicado especialmente à pintura, mas realizou igualmente trabalhos de desenho, gravura, escultura e «assemblage», ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo. Foram-lhe atribuídos vários prémios, nomeadamente o Prémio de Gravura (ex-aequo) na sua I Exposição de Artes Plásticas, em 1957, o 1.º Prémio de Pintura (ex-aequo) na II Exposição de Artes Plásticas, em 1961, o Prémio Montaigne em 1993, o Prémio AICA-SEC em 1995, o Prémio Celpa / Vieira da Silva, em 2000, e em 2003 o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. Além de diversos textos publicados em revistas e catálogos, sobre outros artistas e sobre a sua própria obra, Pomar é autor de livros de ensaios sobre pintura.