Uma novela perfeita, criada a partir de uma “anedota” byroniana e escrita num estilo refinado, simples e claro, em que tudo surge nas devidas proporções
Conta o tradutor Aníbal Fernandes na magnífica introdução que faz ao livro do escritor norte-americano Henry James (1843-1916), Os Manuscritos de Aspern (segundo muitos estudiosos, um dos seus melhores textos curtos), que a história que inspirou a trama ouviu-a James em Janeiro de 1887 numa das suas muitas viagens à Europa, em Florença, no Palazzo Barbaro, casa da escritora Vernon Lee, a propósito da grande quantidade de cartas de Lord Byron que uma tal condessa Gamba - visita da escritora - tinha na sua posse. Contou então o meio-irmão da escritora Vernon Lee que uma tal Miss Clairmont, que fora também amante de Byron, vivera em Florença até uma idade muito avançada, na companhia de uma sobrinha-neta 30 anos mais nova. Um dia, um capitão natural de Boston, Edward Silsbee - que sabia que as duas mulheres estavam na posse de cartas dos poetas românticos Percy B. Shelley e Lord Byron -, pôs em prática um estratagema para se apossar do espólio. Para isso, hospedou-se na casa das senhoras Clairmont esperando que a mais velha - cuja saúde estava já bastante debilitada - morresse para que ele deitasse à mão aos manuscritos. Quando a velha senhora morreu, o capitão Silsbee informou a sobrinha Clairmont dos seus propósitos. Ela respondeu-lhe que lhe entregaria todas as cartas se ele casasse com ela. Conta James nos seus The Notebooks que Silsbee “pôs-se a milhas” e não tornou a querer saber das cartas.
[...]
Esta deliciosa novela, quase em jeito de thriller recheado de elementos psicológicos, é uma espécie de “jogo do tesouro” dados os fervorosos estratagemas que o narrador aplica na busca incessante do objecto da sua devoção. Mas ao mesmo tempo - e com o final inesperado - é também uma divagação sobre a licitude (ou não) da devassa da vida privada das figuras públicas após a sua morte - o próprio James teve o cuidado de queimar, anos antes da sua morte, várias cartas que não queria que no futuro chegassem às mãos dos seus biógrafos.
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Também nesta narrativa curta James não deixou de fora um dos seus temas preferidos: o confronto cultural entre a América e a Europa. Os Manuscritos de Aspern é uma novela perfeita.
Conta o tradutor Aníbal Fernandes na magnífica introdução que faz ao livro do escritor norte-americano Henry James (1843-1916), Os Manuscritos de Aspern (segundo muitos estudiosos, um dos seus melhores textos curtos), que a história que inspirou a trama ouviu-a James em Janeiro de 1887 numa das suas muitas viagens à Europa, em Florença, no Palazzo Barbaro, casa da escritora Vernon Lee, a propósito da grande quantidade de cartas de Lord Byron que uma tal condessa Gamba - visita da escritora - tinha na sua posse. Contou então o meio-irmão da escritora Vernon Lee que uma tal Miss Clairmont, que fora também amante de Byron, vivera em Florença até uma idade muito avançada, na companhia de uma sobrinha-neta 30 anos mais nova. Um dia, um capitão natural de Boston, Edward Silsbee - que sabia que as duas mulheres estavam na posse de cartas dos poetas românticos Percy B. Shelley e Lord Byron -, pôs em prática um estratagema para se apossar do espólio. Para isso, hospedou-se na casa das senhoras Clairmont esperando que a mais velha - cuja saúde estava já bastante debilitada - morresse para que ele deitasse à mão aos manuscritos. Quando a velha senhora morreu, o capitão Silsbee informou a sobrinha Clairmont dos seus propósitos. Ela respondeu-lhe que lhe entregaria todas as cartas se ele casasse com ela. Conta James nos seus The Notebooks que Silsbee “pôs-se a milhas” e não tornou a querer saber das cartas.
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Esta deliciosa novela, quase em jeito de thriller recheado de elementos psicológicos, é uma espécie de “jogo do tesouro” dados os fervorosos estratagemas que o narrador aplica na busca incessante do objecto da sua devoção. Mas ao mesmo tempo - e com o final inesperado - é também uma divagação sobre a licitude (ou não) da devassa da vida privada das figuras públicas após a sua morte - o próprio James teve o cuidado de queimar, anos antes da sua morte, várias cartas que não queria que no futuro chegassem às mãos dos seus biógrafos.
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Também nesta narrativa curta James não deixou de fora um dos seus temas preferidos: o confronto cultural entre a América e a Europa. Os Manuscritos de Aspern é uma novela perfeita.
José Riço Direitinho, «Um Verão em Veneza», «Ípsilon» / Público, 17 de Agosto de 2012.
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