quarta-feira, 7 de agosto de 2013

«Bruges-a-Morta», de Georges Rodenbach


Bruges-a-Morta
Georges Rodenbach


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes


ISBN: 978-989-8566-30-0
Edição: Julho de 2013
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5x20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128


«Um dia, em 1475, o Mar do Norte bruscamente retirou-se; o Zwyn de repente secou, sem que fosse alguma vez possível desassoreá-lo ou voltar a restabelecer uma circulação de água; e Bruges, de ali em diante afastada dessa vasta mama do mar que lhe tinha alimentado os filhos, começou a ficar anémica, e desde há quatro séculos agoniza. Como a cidade é comovente nesta tísica com séculos que a faz escarrar, atingida por um golpe mortal, uma a uma as suas pedras — como pulmões — e sobretudo comovente numa manhã de Novembro outonal, como esta, sob um céu de palidez parecida com a sua…»

Sob o tecto desta nostalgia, já Georges Rodenbach (Bruges, 1855-1898) estava prestes a chegar à história que desde 1892 ficou para momento maior na sua literatura e o fez célebre quando apareceu, como folhetim, em números sucessivos de Le Figaro; sem adivinhar que dezassete anos depois (nove anos depois da sua morte), este mau destino de Bruges seria remediado com um novo canal que a deixaria ligada ao porto de Zeebruge. E se a cidade deixou de ser porto importante, apesar da sua nova ligação ao mar, fez-se animado centro turístico. A sua beleza triste, com velhos edifícios a mirarem-se na água e árvores inclinadas sobre os canais, agita-se com multidões que frequentam as esplanadas da Grand’Place e ali, mesmo ao lado, aguardam a sua vez para entrar em barcos que percorrem motorizadamente um cenário onde melhor ficariam remadores, irmãos dos que persistem em Veneza. (Note-se que a realidade da nova Bruges existe desde 1990 noutro livro com um título oposto; é de Dominique Rolin, explora esta diferença sobrepondo-a à imagem literária que nos resta de Rodenbach, e para tornar claro o impulso que o domina deu-lhe o título provocatório de Bruges-a-Viva.)
Mas «a Morta» é, na Bruges de Rodenbach, uma tristeza de pedra e água que ainda agora persiste, e a memória de uma mulher amada. Nos canais da sua história passa uma inextinguível Ofélia e os seus sinos dobram, transformando em soma preservada imagem de um corpo que teima em não desaparecer. 
 
A.F.

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