«Num dos seus notáveis cadernos, a propósito de O Aperto do Parafuso, Henry James usou a
imagem de uma esponja espremida. Apesar da sua trivialidade, ela é capaz de dar
o tom e o efeito desta novela, um dos pontos máximos do género em qualquer
tempo. Uma história de mistério delineada de forma impecável e exasperante,
como um parafuso que se vai apertando sobre um corpo. Esta é a primeira
tradução convincente do título. Aníbal Fernandes, em mais uma apresentação que
fica para a história (não se percebe porque não estão reunidos em livro os seus
prefácios), encerra o debate – «Calafrio
(…) deixa um título-causa transformado num título-efeito» (p.8).
A singularidade de James reside no império do seu estilo
e na capacidade de manobrar a intriga até o leitor mais não ser do que um peão
no xadrez da sua escrita. As suas narrativas são o inimigo declarado da
sinopse. Pouco nelas se passa, efectivamente, mas nessa brecha encaixa toda a
escala do humano. Em O Aperto do Parafuso,
é como se o autor tecesse uma tapeçaria com um só fio.
Embora escassos, os materiais da ficção, graças à
alquimia jamesiana, expandem-se, como a luz passada por um prisma. O prisma é
James; a luz, a sua escrita; o assombro é de quem lê – «Não o vermos é a mais
forte das provas.» (p.158) De outra forma, como fazer uma obra-prima do relato
em torno dos irmãozitos Miles e Flora, assombrados pelo espectro de dois
antigos empregados da casa? Como se engendraria esta tortura a que o leitor se submete
voluntariamente? Genial masoquismo.
Hugo Pinto Santos, Time Out Lisboa, 2-8 de Outubro de 2013.
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