Incandescência – Cézanne e a pintura
Tomás Maia, Sara Antónia Matos
ISBN: 978-989-8618-65-8
Edição: Maio de 2015
Preço: 9,43 euros | PVP: 10 euros
Formato: 16 ×22 cm [brochado, com badanas]
Número de páginas: 64
[ Co-edição: Atelier-Museu Júlio Pomar ]
Se o divino designa o que perpetuamente dá vida, tal implica em pintura uma mimese do Sol. É que o Sol — como Cézanne terá também lido no mesmo texto de Balzac — é «esse divino pintor do universo».
O divino irradia-se materialmente do Sol: «Tudo, seres e coisas, não passa de uma maior ou menor quantidade de calor solar armazenado, organizado, uma recordação de sol, um pouco de fósforo que arde nas meninges do mundo.»
O Sol existe morrendo (consumindo-se) a pintar (o universo).
Mas o próprio Sol — tal como a morte — requer um mediador, um representante (o Sol e a morte, como declarou La Rochefoucauld numa das suas Máximas, não podem ser vistos de face ou fixamente). É essa a descoberta a que chega Cézanne: o Sol não se deixa reproduzir, e é necessária outra coisa para representá-lo — uma outra coisa que dá pelo nome de cor.
Fazer a mimese do Sol significa então: na impossibilidade de o representar, pinta-se (um quadro) como o Sol pinta (o universo). O pintor — o pintor da pintura divina, aquele que faz a mimese do Sol — só pode existir morrendo a pintar. Não como quem se sacrifica diante de um astro, mas como quem devolve o dom que é o Sol.
[…]
Que haja luz (em vez de obscuridade total), que haja visível (e não só audível, táctil, etc.), eis o dom com o qual alguém — um pintor — nunca se conforma. Dom que excede tudo o que é dado (toda a forma visível) e que leva assim alguém — o mesmo pintor — a repetir esse dom sob uma forma eterna. A pintura eterniza o dom universal da luz. [ Tomás Maia ]
Sem comentários:
Enviar um comentário