quinta-feira, 17 de maio de 2018

Fuga Sem Fim I Joseph Roth

Fuga Sem Fim
Joseph Roth

Tradução do alemão e notas de Álvaro Gonçalves

ISBN: 978-989-8833-29-7 | EAN 9789898833297

Edição: Maio de 2018
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 160


Não tenho nenhuma terra natal, se excluir o facto de que existo em mim próprio e que me sinto em casa comigo mesmo.


Tive que percorrer muitas milhas. Entre o local onde nasci e as cidades, países, aldeias que atravessei nos últimos dez anos para poder permanecer neles e permaneço neles apenas para os abandonar de novo, fica a minha vida, mensurável mais de acordo com as medidas de espaço do que de tempo. As estradas percorridas representam os anos que percorri. O dia do meu nascimento e o meu nome, não estão registados em lado nenhum, em nenhum registo paroquial e em nenhuma conservatória de registo civil. Não tenho nenhuma terra natal, se excluir o facto de que existo em mim próprio e que me sinto em casa comigo mesmo. Onde me sinto mal é onde é a minha pátria. Só me sinto bem no estrangeiro. Se eu me abandono, perco-me. Daí ter o extremo cuidado de ficar sempre comigo mesmo.
Eu nasci numa minúscula aldeola em Wolhynien, no dia 2 de Setembro de 1894, sob o signo de Virgem, com o qual o meu nome Joseph tem uma qualquer vaga relação. A minha mãe era judia, tinha uma estrutura robusta, era uma mulher ligada à terra e era de origem eslava, cantava frequentemente canções ucranianas, pois era muito infeliz; na nossa terra, são os pobres que cantam, não os que são felizes como acontece nos países ocidentais. Por isso, as canções orientais são mais bonitas e quem tem coração e as ouve fica à beira das lágrimas. Ela não tinha nenhum dinheiro e nenhum marido. Pois o meu pai, que, um belo dia, a levou para o ocidente, muito provavelmente apenas para me procriar, deixou-a sozinha em Kattowitz e desapareceu para sempre. Deve ter sido um homem muito estranho, um austríaco vigarista, esbanjava muito, bebia, provavelmente, e morreu enlouquecido quando eu tinha dezasseis anos. A sua especialidade era a melancolia, que herdei dele. Nunca o vi.
[…] 
Nas páginas que se seguem, conto a história do meu amigo, camarada e correligionário Franz Tunda.
Recorro, em parte, aos seus apontamentos, em parte, aos seus relatos.
Não inventei nada, não compus nada. Já não se trata de «ficcionar» a narração. O mais importante é o que foi observado. 
[Joseph Roth]



Do mesmo autor: Judeus Errantes, Sistema Solar, 2013.

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