André Gide
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8833-48-8 | EAN 9789898833488
Edição: Junho de 2021
Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128
Palude é uma palavra que, nas línguas francesa e também portuguesa, designou
em tempos passados — e nunca com muita popularidade — aquilo a que hoje
chamamos vulgarmente «pântano».
André Gide estava no seu sexto livro; tinha vinte e seis anos de idade e escrevia a sua primeira sotia — seriam na sua
obra três — lembrando-se com esta palavra arcaica das peças medievais assim chamadas e que parodiavam de forma estouvada, ou mesmo enlouquecida, realidades familiares aos seus populares espectadores.
1895 foi também o ano em que ele saiu de uma determinante viagem à África do Norte, onde cedeu pela primeira vez
à sua verdade sexual; também o ano em que se casou com a sua prima Madeleine Rondeaux (um casamento «branco») e teve
o enorme transtorno sentimental provocado pela morte da sua mãe. São factos que não devem ser esquecidos se quisermos perceber o abalo interior que agudizou a sua percepção dos intelectuais parisienses, o seu cansaço perante o vazio que
tinha à sua volta, um mundo de estilizadas vaidades e com a futilidade «pantanosa» que o incitou às metáforas virgilianas de Paludes.
[…]
O Tityre de André Gide vive numa torre circundada por campos
pantanosos, mas para encarnar como metáfora actores que representam a intelectualizada e vácua monotonia dos salões parisienses
do final do século XIX; propõe-se como personagem central da história de um homem que não pode viajar, que vive num campo de
lamas e lodos (o Paris dos intelectuais) e nenhum esforço faz para
sair de lá. O autor identifica este Tityre consigo próprio (no livro,
o único Tityre consciente da sua tityrização) e com todos os que
giram à sua volta, literatos vazios e cheios de uma retórica fútil, os
frequentadores do salão de Angèle, a única figura feminina que surge com presença física no livro e não podemos deixar de associar a
Madeleine Rondeaux, a que já era então sua mulher na vida real,
sendo a isto levados por duas frases: — Dormir à casa da Angèle.
Digo à casa e não com ela, uma vez que nunca ultrapassámos pequenos e anódinos simulacros. E mais adiante: Não somos desses de onde
nascem, cara amiga, os filhos dos homens.
[Aníbal Fernandes]
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