quinta-feira, 30 de março de 2023

A Mandrágora

 

A Mandrágora
Jean Lorrain


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
Ilustrações de Marcel Pille

ISBN 978-989-568-081-8 | EAN 9789895680818

Edição: Março de 2023
Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 80 (cores)

Como em nenhuma outra obra sua, a obsessão do monstro onde o próprio Jean Lorrain se reconhecia. 


Entre as muitas memórias da sua convivência com Jean Lorrain, Rachilde escolheu uma que o mostra como «fanfarrão de vícios» embaraçado e à mercê da benevolência policial. Dois escritores franceses com destaque nessa época (ambos homossexuais — Marcel Proust e Jean Lorrain) disputavam murmúrios, eram personagens preferidas numa nebulosa de curiosidades que entretinha o mundo das letras. De Marcel Proust sussurravam-se coisas doentias que chegavam a uma insólita crueldade com ratos, excitante sexual muito pouco previsível numa tão correcta imagem de homem que beijava com elegância mãos de condessas e marquesas; e de Jean Lorrain, muito claro nas suas tendências sexuais e a expor-se com a maior das franquezas aos submundos da grande cidade, evitava-se em público o trato familiar, com a certeza de que ele contaminava reputações.
A sua obra literária é generosa em ambiguidades decadentes como as de Monsieur de Phocas, e tem escândalos que interessaram a Justiça, como o que envolveu La Maison Philibert. Num tom mais prudente e desviado até ao fantástico sem nada de gótico, também lhe encontramos contos com uma imaginação que preza a impunidade das máscaras e desvarios que lhe chegaram ao papel entontecidos por fortes cheiros do éter.
Mas neste conjunto merece especial destaque o conto A Mandrágora, que em Maio de 1899 surgiu enfatizado numa edição de luxo ilustrada por Marcel Pille e reflectiu, como nenhuma outra obra sua, a obsessão do monstro onde ele próprio se reconhecia. Tem uma primeira frase de choque: Quando ficou a saber-se que a rainha tinha dado à luz uma rã, houve consternação na corte.
[…]
A rainha deste conto, perturbada pela memória impura da sua filha-rã morta por determinação do rei, tem alucinações que a levam para junto das forcas, acompanhada por um galgo preto. E embora um dia lhe tenha chegado a cair na face uma «lágrima de cera muito mal-cheirosa», nunca encontrou a mandrágora que ela julgava poder transformar, com os seus conhecimentos de magia, na filha perdida — monstruosa mas sua filha, dizia-lhe um muito magoado amor de mãe.
[Aníbal Fernandes]

A Biografia de Vénus — Deusa do Amor

 

A Biografia de Vénus — Deusa do Amor
Francis de Miomandre


Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-568-080-1 | EAN 9789895680801

Edição: Março de 2023
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 160 (a cores)

Vénus, aqui autêntica e só perturbada pela lenda. O mito visitado pela seriedade de um biógrafo.

Em 1929 Miomandre publicou esta biografia de Vénus, um dos seus livros mais logrados e onde parece haver um desejo de ironia voltado para o que é vulgar chamar-se «verdade histórica». Olhando para Vénus como uma personagem autêntica e só perturbada pela lenda, Miomandre avisa-nos de que «passou a ser difícil discernir o verdadeiro daquilo que a imaginação lhe acrescentou». Com uma inesperada seriedade de biógrafo, tem hesitações nascidas da sua decisão de «só escrever a história, e não a lenda de Vénus»; e quando chega ao momento de fazer referência aos seus filhos, retrai-se porque se desconhecem muitas das suas aventuras e ele só quer falar «das que podem dar-se como garantidas». Também afirma que há poucos dados sobre a sua aventura com Mercúrio, mas que vai falar dela por ser de «inegável autenticidade». Para o biógrafo Miomandre, Vénus nascida da espuma das ondas, ou seja, com um lado terrestre, foi capaz de inquietar a pureza toda divina do Olimpo com a impura eficácia da sua sedução, mas acabou por ser vencida na sua imensa popularidade terrena quando frades de burel destruíram séculos mais tarde as suas imagens e fizeram suceder-lhe «uma doutrina nova, chegada do Oriente», que se propagava «com extraordinária rapidez no espírito das mulheres, dos pobres, dos escravos, dos humilhados, dos ofendidos, e vencia em poucos anos o sorridente e ingénuo paganismo com um papel civilizador que chegava ao fim.» A esta Vénus vencida e em plena época cristã, ainda surgiu o impossível amor de um tardio Tannhäuser. Mas hoje só lhe resta o seu planeta, «morada sideral, para lá do Olimpo destruído, de onde se vertem sobre nós as suas benfazejas ou maléficas influências, o planeta de esperança e beleza onde Ela elabora os nossos destinos de amor».

[Aníbal Fernandes]

Verdes Moradas — Ensaio sobre os Ritmos da Natureza

Verdes Moradas — Ensaio sobre os Ritmos da Natureza 

Inez Teixeira, Jorge Feijão, Maria Capelo, Duarte Belo

Textos de Nuno Faria e Sérgio Costa

ISBN 978-989-568-084-9 | EAN 9789895680849

Edição: Março de 2023
Preço: 20,75 euros | PVP: 22 euros
Formato: 17 × 23,5 cm (brochado)
Número de páginas: 128 (a cores)

Com a Fundação Carmona e Costa e o Museu da Guarda

Edição bilingue: português | inglês 

Nuno Faria: «Este conjunto de obras tem como denominador comum a impermanência. Perante estas superfícies — estes ecrãs — somos afectados, estimulados, mais do que como passivos espectadores, fisicamente, fisiologicamente, fenomenologicamente.»


Verdes Moradas, título pedido de empréstimo à tradução portuguesa de Green Mansions [Verdes Moradas, publicado pela Sistema Solar, em 2015, com tradução e apresentação de José Domingos Morais] — novela, publicada em 1904, da autoria de W.H. Hudson —, dá nome a uma exposição que reúne três artistas cujo percurso se tem regularmente cruzado com a programação da Fundação Carmona & Costa — Inez Teixeira, Jorge Feijão e Maria Capelo —, a que se junta um quarto elemento, o arquitecto e fotógrafo Duarte Belo.

O livro, que usamos como papel de cenário exemplar para assentar as poderosas visões projectadas pelos quatro artistas presentes, é um radioso e comovente canto de exaltação da natureza enquanto lugar, vivido e imaginado, próximo e distante, no qual se plasmam conflitos interiores, paixões, memórias e aspirações propriamente humanas.
Assim, reunindo obras que são atravessadas por uma particular sensibilidade e atenção ao estado do mundo, esta exposição colectiva constitui-se, também, como uma reflexão sobre a crise ecológica, de uma magnitude sem precedentes, que a humanidade vive presentemente e tem como pano de fundo a natureza e a sua tematização. Participa, inscreve-se, destaca a relação milenar que a arte tem com a natureza e as possibilidades de reparação que convoca e/ou engendra.
[Nuno Faria]
 
As Verdes Moradas é, sem dúvida, uma exposição que nos toca e sensibiliza para o actual estado do mundo, em plena crise ecológica. Os seus autores, Inez Teixeira, Jorge Feijão, Maria Capelo e Duarte Belo, conseguem tocar-nos e levar-nos para esse mundo natural que é a nossa génese e que importa defender e preservar.
[Sérgio Costa]
 
Este livro foi publicado por ocasião da exposição Verdes Moradas [ensaio sobre os ritmos da natureza], com curadoria de Nuno Faria, patente no Museu da Guarda de 3 de Novembro de 2022 a 9 de Abril de 2023, numa colaboração entre o Museu da Guarda e a Fundação Carmona e Costa.

Às Vezes Ponho-me a Olhar para Uma Pedra


Às Vezes Ponho-me a Olhar para Uma Pedra
Teresa Segurado Pavão, João Cutileiro

Textos de Filipa Oliveira e Ana Cristina Pais
Fotografias de Henrique Pavão

ISBN 978-989-568-087-0 | EAN 9789895680870

Edição: Março de 2023
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 17 × 22 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 88 (a cores)

Com a Fundação Carmona e Costa e o Museu Nacional de Arte Antiga


Filipa Oliveira: «Esta é uma exposição sobre fragmento, memória e escultura. Uma exposição sobre o cuidar, o preservar e o dar uma nova vida. Talvez mais do que uma simples exposição, é um projecto de afectos e de homenagens.»
 



De alguma maneira podemos ler toda a história da escultura, talvez mesmo toda a história da arte, a partir deste gesto: o de apanhar os destroços das gerações anteriores e voltar a erguê-los de outra forma, com outras perspectivas, em especial, com outras intenções e objectivos. Se o tempo é uma invenção humana, uma construção que nos ajuda a diferenciar o presente do passado, esta exposição vem mostrar que estes diferentes tempos comunicam e fluem entre si. Dobram-se, como defenderia Deleuze.
A exposição teve como início o desejo de Teresa Segurado Pavão prestar homenagem a João Cutileiro. Uma homenagem ao artista e ao amigo que tanto admirava. Teresa Segurado Pavão visitava frequentemente o atelier de Cutileiro, e da mesma forma como este se maravilhava com os restos das esculturas de Michelangelo, Segurado Pavão fascinava-se com os excedentes das obras de Cutileiro. […]
Para este livro decidimos juntar às imagens das obras as belíssimas fotografias de Henrique Pavão do atelier do João Cutileiro. Um espaço parado no tempo, coberto por um manto de pó de pedra. O espaço de trabalho transforma-se também ele num sítio arqueológico, um lugar da memória, mas também um campo para descoberta futura.
[Filipa Oliveira]
 
O trabalho de Teresa Pavão que aqui se apresenta parte da memória material da escultura de João Cutileiro, traduzida numa série de «sobras» de escultura que recebeu do artista, donde emanam as novas formas impostas à cerâmica e resultam obras de grande harmonia e delicadeza.
[Ana Cristina Pais]
 
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra» — Teresa Segurado Pavão e João Cutileiro, com curadoria de Filipa Oliveira, realizada no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, de 5 de Janeiro a 26 de Março de 2023.

O Som e a Música no Cinema Português Contemporâneo — Processos Criativos

 

O Som e a Música no Cinema Português Contemporâneo — Processos Criativos seguido de entrevistas com Branko Neskov, Carlos Alberto Lopes, Elsa Ferreira, Hugo Leitão, Joaquim Pinto, Miguel Martins, Olivier Blanc, Ricardo Sequeira, Sandro Aguilar, Vasco Pimentel

Helder Filipe Gonçalves

ISBN 978-989-8833-62-4 | EAN 9789898833624

Edição: Março de 2023
Preço: 24,52 euros | PVP: 26 euros
Formato: 16 × 22 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 384

Vasco Pimentel: «Ora, o meu comportamento na captação do som directo é diferente, pois já estou a pensar como um montador, como um misturador. Quer dizer, já estou a arquitectar continuidades, descontinuidades, ambiências para dar carácter a outras cenas… se calhar, nem é a cena que estamos a filmar.»




Encontrar um cineasta que tome decisões no domínio do som antes de outras não é usual. Conhecer um realizador de quem se diga que é responsável por noventa por cento das decisões acerca do som num seu filme também não será algo muito habitual, mas isto é confirmado numa entrevista com um director de som que trabalha com a realizadora argentina Lucrecia Martel. Numa palestra desta realizadora, a própria quase se desculpa por ir apresentar o seu modo de trabalho, muito fundamentado no som, perante uma plateia interessada em cinema, justificando a sua apresentação como algo eventualmente útil a alguém que partilhe minimamente de um gosto e atenção pelo som. Como ela própria afirma, muitas vezes acontece o som ser relegado para último lugar, na cadeia de produção de um filme, não havendo por vezes tempo para o tratar nas melhores condições. Através da nossa experiência na docência de unidades curriculares de som na Universidade da Beira Interior, conhecemos exemplos destes em Portugal, alguns deles em trabalhos académicos, desde logo nada auspiciosos quanto ao modo como alguns alunos virão a pensar o som nos seus filmes futuros.
Há casos de realizadores em Portugal em que […] o que se ouve nos respectivos filmes denota um sentido apurado e uma capacidade de conjugar som e imagem de forma interessante e criativa. Muitas vezes, estes resultados advêm de boas escolhas de profissionais competentes na área do som, técnica e criativamente. No entanto, algumas divisões de tarefas que encontramos em variadas fichas técnicas em filmes sugerem mesmo que continua a existir uma desconexão entre intervenientes no que diz respeito ao som […]
As dez entrevistas realizadas concluem a estrutura deste livro. Aspectos essenciais acerca do som para cinema, segundo perspectivas pessoais muito ricas, ficam, parece-nos, como um legado inspirador para as novas gerações. Estas, não tendo vivido tempos de maiores adversidades, podem, no entanto, recolher das experiências do passado importantes ensinamentos para a sua técnica e para a sua arte.
[Helder Filipe Gonçalves]

Cultura Reconsiderada

Cultura Reconsiderada
Urbano Sidoncha

Prefácio de Fernando Pereira Marques

ISBN 978-989-568-088-7 | EAN 9789895680887

Edição: Março de 2023
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 14, × 21 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 264

Com o apoio do PRAXIS Colecção «Fenomenologia e Cultura»


Fernando Pereira Marques: «Urbano Sidoncha dá-nos aqui um importante contributo para o que, socorrendo-me de Steiner, se poderá chamar uma “teoria da cultura” e até para uma “redefinição da cultura”. Que ele seja lido, que o trabalho nestas páginas plasmado prossiga e floresça, e que na Universidade da Beira Interior não se apague a chama crítica e academicamente prometedora há anos acesa e para a qual o autor tanto tem contribuído.»

 

Cultura Reconsiderada é um livro que nasce das perplexidades saídas de um esforço continuado de reinterpretação do que está em causa na discussão do conceito de «Cultura» e do universo teórico em que se movem atualmente os Estudos de Cultura. O propósito que o título denuncia, e que constituiu o motivo permanente deste trabalho, desdobra-se num duplo sentido: o de um novo olhar dirigido à Cultura e seus fenómenos, e o de um recrudescimento, por via desse escrutínio mais atento, da centralidade da própria Cultura.

 

 

Urbano Sidoncha é doutorado em Filosofia Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É docente da UBI, Universidade da Beira Interior, investigador integrado do PRAXIS — Centro de Filosofia, Política e Cultura — e coordenador do Grupo de Fenomenologia e Cultura desse Centro. Liderou a criação e foi o primeiro director dos cursos de primeiro ciclo (graduação) em Ciências da Cultura e do Mestrado em Estudos de Cultura, ambos da UBI. É presidente da InterCult, Associação Internacional de Pesquisadores das Culturas.