quinta-feira, 30 de março de 2023
A Mandrágora
A Mandrágora
A Biografia de Vénus — Deusa do Amor
A Biografia de Vénus — Deusa do Amor
Francis de Miomandre
Vénus, aqui autêntica
e só perturbada pela lenda. O mito visitado pela seriedade de um biógrafo.
Em 1929 Miomandre publicou esta biografia de Vénus, um dos seus livros mais logrados e onde parece haver um desejo de ironia voltado para o que é vulgar chamar-se «verdade histórica». Olhando para Vénus como uma personagem autêntica e só perturbada pela lenda, Miomandre avisa-nos de que «passou a ser difícil discernir o verdadeiro daquilo que a imaginação lhe acrescentou». Com uma inesperada seriedade de biógrafo, tem hesitações nascidas da sua decisão de «só escrever a história, e não a lenda de Vénus»; e quando chega ao momento de fazer referência aos seus filhos, retrai-se porque se desconhecem muitas das suas aventuras e ele só quer falar «das que podem dar-se como garantidas». Também afirma que há poucos dados sobre a sua aventura com Mercúrio, mas que vai falar dela por ser de «inegável autenticidade». Para o biógrafo Miomandre, Vénus nascida da espuma das ondas, ou seja, com um lado terrestre, foi capaz de inquietar a pureza toda divina do Olimpo com a impura eficácia da sua sedução, mas acabou por ser vencida na sua imensa popularidade terrena quando frades de burel destruíram séculos mais tarde as suas imagens e fizeram suceder-lhe «uma doutrina nova, chegada do Oriente», que se propagava «com extraordinária rapidez no espírito das mulheres, dos pobres, dos escravos, dos humilhados, dos ofendidos, e vencia em poucos anos o sorridente e ingénuo paganismo com um papel civilizador que chegava ao fim.» A esta Vénus vencida e em plena época cristã, ainda surgiu o impossível amor de um tardio Tannhäuser. Mas hoje só lhe resta o seu planeta, «morada sideral, para lá do Olimpo destruído, de onde se vertem sobre nós as suas benfazejas ou maléficas influências, o planeta de esperança e beleza onde Ela elabora os nossos destinos de amor».
[Aníbal Fernandes]
Verdes Moradas — Ensaio sobre os Ritmos da Natureza
Verdes Moradas — Ensaio sobre os Ritmos da Natureza
Inez Teixeira, Jorge Feijão, Maria Capelo, Duarte Belo
Nuno Faria:
«Este conjunto de obras tem como denominador comum a impermanência. Perante
estas superfícies — estes ecrãs — somos afectados, estimulados, mais do que
como passivos espectadores, fisicamente, fisiologicamente,
fenomenologicamente.»
Verdes Moradas,
título pedido de empréstimo à tradução portuguesa de Green Mansions [Verdes Moradas, publicado pela
Sistema Solar, em 2015, com tradução e apresentação de José Domingos Morais] —
novela, publicada em 1904, da autoria de W.H. Hudson —, dá nome a uma exposição
que reúne três artistas cujo percurso se tem regularmente cruzado com a
programação da Fundação Carmona & Costa — Inez Teixeira, Jorge Feijão e
Maria Capelo —, a que se junta um quarto elemento, o arquitecto e fotógrafo
Duarte Belo.
Às Vezes Ponho-me a Olhar para Uma Pedra
Às Vezes Ponho-me a
Olhar para Uma Pedra
Teresa Segurado Pavão, João Cutileiro
De alguma maneira podemos ler toda a história da escultura, talvez mesmo toda a história da arte, a partir deste gesto: o de apanhar os destroços das gerações anteriores e voltar a erguê-los de outra forma, com outras perspectivas, em especial, com outras intenções e objectivos. Se o tempo é uma invenção humana, uma construção que nos ajuda a diferenciar o presente do passado, esta exposição vem mostrar que estes diferentes tempos comunicam e fluem entre si. Dobram-se, como defenderia Deleuze.
A exposição teve como início o desejo de Teresa Segurado Pavão prestar homenagem a João Cutileiro. Uma homenagem ao artista e ao amigo que tanto admirava. Teresa Segurado Pavão visitava frequentemente o atelier de Cutileiro, e da mesma forma como este se maravilhava com os restos das esculturas de Michelangelo, Segurado Pavão fascinava-se com os excedentes das obras de Cutileiro. […]
Para este livro decidimos juntar às imagens das obras as belíssimas fotografias de Henrique Pavão do atelier do João Cutileiro. Um espaço parado no tempo, coberto por um manto de pó de pedra. O espaço de trabalho transforma-se também ele num sítio arqueológico, um lugar da memória, mas também um campo para descoberta futura.
O trabalho de Teresa Pavão que aqui se apresenta parte da memória material da escultura de João Cutileiro, traduzida numa série de «sobras» de escultura que recebeu do artista, donde emanam as novas formas impostas à cerâmica e resultam obras de grande harmonia e delicadeza.
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra» — Teresa Segurado Pavão e João Cutileiro, com curadoria de Filipa Oliveira, realizada no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, de 5 de Janeiro a 26 de Março de 2023.
O Som e a Música no Cinema Português Contemporâneo — Processos Criativos
O Som e a Música no Cinema Português Contemporâneo — Processos Criativos seguido de entrevistas com Branko Neskov, Carlos Alberto Lopes, Elsa Ferreira, Hugo Leitão, Joaquim Pinto, Miguel Martins, Olivier Blanc, Ricardo Sequeira, Sandro Aguilar, Vasco Pimentel
Helder Filipe Gonçalves
Vasco Pimentel: «Ora, o meu
comportamento na captação do som directo é diferente, pois já estou a pensar
como um montador, como um misturador. Quer dizer, já estou a arquitectar
continuidades, descontinuidades, ambiências para dar carácter a outras cenas…
se calhar, nem é a cena que estamos a filmar.»
Cultura Reconsiderada
Cultura Reconsiderada
Urbano Sidoncha
Cultura Reconsiderada é um livro que nasce das perplexidades saídas de um esforço continuado de reinterpretação do que está em causa na discussão do conceito de «Cultura» e do universo teórico em que se movem atualmente os Estudos de Cultura. O propósito que o título denuncia, e que constituiu o motivo permanente deste trabalho, desdobra-se num duplo sentido: o de um novo olhar dirigido à Cultura e seus fenómenos, e o de um recrudescimento, por via desse escrutínio mais atento, da centralidade da própria Cultura.
Urbano Sidoncha é doutorado em Filosofia Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É docente da UBI, Universidade da Beira Interior, investigador integrado do PRAXIS — Centro de Filosofia, Política e Cultura — e coordenador do Grupo de Fenomenologia e Cultura desse Centro. Liderou a criação e foi o primeiro director dos cursos de primeiro ciclo (graduação) em Ciências da Cultura e do Mestrado em Estudos de Cultura, ambos da UBI. É presidente da InterCult, Associação Internacional de Pesquisadores das Culturas.