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Era um homem "abominavelmente depravado", nas palavras de Sarah Bernhardt. Como jornalista provocou bastantes ódios, sobretudo entre a classe intelectual, e não escapou ao "código de honra" da época: duelos e tiros de pistola nas clareiras dos bosques dos arrabaldes de Paris. Maupassant e Verlaine quiseram defrontar-se com ele para limparem a honra com umas quantas balas - foram convencidos a tempo de que o que Lorrain escrevera não lhes manchava a reputação -, mas foi com "o jovem e encantador Marcel Proust" que chegou a vias de facto no bosque de Meudon, embora "os dois atiradores só tivessem alvejado o vazio acima das suas cabeças" conforme cita o tradutor Aníbal Fernandes na sua (como sempre) sábia e lúcida introdução à obra recentemente publicada.
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A imaginação delirante do Senhor de Bougrelon, com as sucessivas entradas e os inesperados abandonos da narração, e os retratos vívidos de autênticas visões de lupanar ou de café licencioso, erguem uma "realidade" em que o leitor vai aos poucos deixando de acreditar, mas com que continua a comover-se.»
José Riço Direitinho, «Retrato de um decadente», «Ípsilon» / Público [onde pode ser lido na íntegra], 16 de Novembro de 2012.
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