sábado, 18 de maio de 2013

Manuel Clemente



Manuel Clemente (Torres Vedras, 16-VII-1948), o novo Patriarca de Lisboa, aqui com Manoel de Oliveira, Manuel António Pina e Manuel Rosa numa sessão de lançamento de um dos seus livros editados pela Assírio & Alvim (Porto, Palácio da Bolsa, 14-XII-2010). 

Bispo do Porto desde 2007, é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, licenciado em Teologia e doutorado em Teologia Histórica pela Universidade Católica Portuguesa, onde , desde 1975, passou a leccionar História da Igreja. 

Na Pedra Angular (distribuição Documenta) estão disponíveis os livros É Este o Tempo — A experiência da missão e Um Só Propósito - Homilias e Escritos Pastorais. [fotos: Luís Guerra]

Entre várias distinções, destaca-se o Prémio Pessoa 2009. Recordemos alguns excertos de uma entrevista ao Expresso:

«Inquieto, disponível para o debate, D. Manuel Clemente, Prémio Pessoa 2009, contraria a imagem do Bispo fechado na redoma. Frequenta as livrarias, circula de metro pela cidade e cultiva o prazer de estar com os outros .
Cansado, com a voz a denunciar a iminência de um resfriado, D. Manuel Clemente recebe-nos numa tarde de domingo, no final de uma visita pastoral de três dias. Dali a algumas horas vai partir para Torres Vedras, sua terra natal. Pelo meio, ainda tem tempo para falar de Portugal como um país crítico, das questões de Deus e da Igreja e do impacto da crise social na sua diocese.

Pode ser feliz uma sociedade onde não há emprego? 
Não, não pode. Na nossa concepção cristã, o trabalho não é algo exterior à pessoa. 
Não é um simples meio ou expediente de sobrevivência. A realização de uma sociedade feliz é a realização de uma sociedade com trabalho. Não tenho dúvidas nenhumas de que a infelicidade que muita gente sente na sociedade portuguesa passa muito pelas dificuldades na obtenção de trabalho.

[…]

Há algum devir histórico nesta espécie de casamento sem divórcio entre Portugal, os portugueses e a crise? 
É uma pergunta bem posta, porque abre um filão. Portugal é um país crítico. Não tem nenhuma razão de auto-suficiência e, no entanto, é o país com fronteiras definidas mais antigo da Europa. Mas nunca teve possibilidade de se sustentar sozinho. 
As nossas crises cerealíferas na Idade Média são endémicas. Nunca teve possibilidades, até humanas, quando foi da expansão ultramarina, de garantir uma imensidão como aquela por onde se espraiou. Não tinha possibilidade, no século XVII, de garantir, só por si, a sua independência. Depois do ouro do Brasil, o país fica destroçado. Demorou 50 anos a recompor-se, quando grande parte da Europa já estava mais à frente. Mesmo no século XX tivemos situações de pobreza muito difíceis de ultrapassar em todos os campos. Portugal, como estudo de caso, é uma coisa apaixonante, porque é um país que não tinha nenhuma razão para subsistir e subsiste. Os portugueses subsistem apesar de Portugal.

[…]

Sendo uma pessoa que muito se questiona, debate-se com alguma pergunta para a qual gostaria de encontrar resposta? 
Sim. Gostaria de perceber a relação da religião, e concretamente do cristianismo, com dois sentimentos básicos e dificilmente conjugáveis, na Humanidade e na Igreja, que são a segurança e a liberdade. Vou chegando a algumas conclusões, mas sobretudo concluo que é muito difícil.» 

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