A Felicidade dos Tristes
Luc Dietrich
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN: 978-989-8566-88-1
Edição: Janeiro de 2015
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 224
Gostaria de me afundar como no mar.
Criar com a minha boca.
Que a minha mão saísse para fora das linhas…
Porque as melhores pessoas são tristes. A minha mãe é pálida, muito pálida, e mesmo quando se ri treme-lhe uma tristeza no riso como gotas de água num ramo ao sol.
Nunca vemos Jesus dar cotoveladas aos seus discípulos e torcerem-se a rir. Judas, esse, queria armar-se em esperto e afastava-se deles para se rir sozinho. Nunca se viu ninguém pensar numa coisa difícil, nos rebentos de uma árvore, no sol, como é que ele sobe e desce na água do céu, e desatar a rir-se. Aliás, só há felicidade nos tristes.
Os homens dizem: «Uma vida de cão.» Julgam que os animais são humilhados e infelizes. Mas eu tinha observado com atenção os animais e sabia que os homens se enganavam porque uma formiga nunca pára para suspirar, dizendo que a vida não vale a pena ser vivida, e não há um burro que diga: «Como me envergonho de ser burro.» E no que respeita às plantas, tanto orgulho têm por ser o que são, que nunca dizem nada a ninguém. Os animais só são infelizes quando magoam uma pata. Eu quando me magoo não me sinto infeliz. Mesmo quando era pequeno e caía, desatava a rir-me e gritava: «Dei um tombo!», ou chamava alguém para anunciar: «Tenho sangue a correr!»
Nós, nós somos infelizes por não andarmos nada contentes com o que somos, e também por não sabermos o que gostaríamos de ser. [Luc Dietrich, A Felicidade dos Tristes]
Luc Dietrich nasceu a 17 de Março de 1913 em Dijon e morreu a 12 de Agosto de 1944. A Felicidade dos Tristes, com que esteve à beira de ganhar o Prémio Goncourt em 1935, é a sua obra mais conhecida.
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