Como Se Chama o Dia Hoje?
Augusto Rainho (fotografias) José Luís Porfírio (textos)
Prefácio de Marta Morais
ISBN 978-989-8618-84-9 | EAN 9789898618849
Edição: Novembro de 2020
Preço: 18,87 euros | PVP: 20 euros
Formato: 21 × 21 cm (cartonado)
Número de páginas: 124
Com a Fundação Carmona e Costa
Todos os dias.
Quase todos os dias.
À sombra do fim.
A minha Mãe perguntava-me:
— Como se chama o dia hoje?
[Augusto Rainho]
Cada uma das 50 fotografias de Augusto Rainho é acompanhada por um curto texto de José Luís Porfírio que dela
deriva, tudo dedicado a Pedro Morais.
Embora os textos deste livro não designem, à maneira concretíssima do haiku tradicional, essa impermanência mais
visível que é o fluir das estações, pois não têm uma origem directa nesta tradição poética, nem a intenção de serem «à sua maneira», eles apontam para um opaco, que, aqui, é o da própria fotografia do Augusto. Será esta qualidade que curiosamente
permite a visão da impermanência. Nem sempre completamente cerrado, selado ou barrado, às vezes com profundidade,
este opaco das fotografias de Comosechamaodiahoje? é como a chegada a um beco sem saída, no qual se escarrapacham os
limites da vontade, da fuga ou da acção (linguagem). Ele é o
muro, a parede, o tecto, o fundo, a fronteira, um pedregulho,
uma fenda, um buraco, uma cavidade, o caos, o escuro, a sombra, o negrume, uma nuvem, uma névoa, neblina, nevoeiro,
bruma — essa «parte nenhuma», aquilo que permaneceu: o
opaco perante o qual só é possível a espera, a quietude, o silêncio. Chegados aqui, a este impenetrável, resta-nos desistir ou
delegar, e receber-ver o que não permanece, o devir. Quando
nada há a fazer, larga-se e deixa-se entrar como nunca o fulgor
da vida e da sua impermanência no movimento entre a frente
e o verso, o verso e o reverso, as várias faces… Quando se bate
no fundo, o fundo é a saída, o trampolim! para a visão do incidente transformador: a aberta de um céu nublado, a luz de
uma nuvem ou de um tecto, o voo de uma cegonha, o alado
de um anjo, a cruz, a boca, o grito, o vento, a torre, o cocuruto
da árvore, a cambalhota de um matraquilho, a serenidade da
vaca, o espelho e o vazio.
[Marta Morais]
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