terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Uma Luz sobre a Noite seguido de O Pão e a Alma


Uma Luz sobre a Noite seguido de O Pão e a Alma
Paulo Pires do Vale, Rui Serra, Tomás Maia

Apresentação de Ricardo Escarduça

ISBN 978-989-9006-07-2 | 9789899006072

Edição: Novembro de 2019
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 17 x 24 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 60 (a cores)

Com o Projecto Travessa da Ermida


A arte não transfigura a noite em dia; ela faz luz sobre a noite. O que já é muito — mesmo se, para muitos, pode parecer pouco. Miséria da arte. Mas miséria que alimenta a nossa fome negra.


Uma Luz Sobre a Noite, de Paulo Pires do Vale e Tomás Maia, publicado pela Documenta, é apresentado pelo Projecto Travessa da Ermida no contexto do encerramento da exposição «Fome» de Rui Serra. O livro é o corolário de um encontro a dois tempos entre os autores e o pintor, iniciado em Abril de 2017 no âmbito da sua exposição «Todas as Noites», no Museu de Arte Contemporânea de Elvas (colecção António Cachola). 
[Ricardo Escarduça, «Apresentação»]


— … se a Noite é «antiquíssima» — a Noite que nos faz falar —, não será ela então e sempre o antiquíssimo em nós? Quando fazemos uma obra, necessariamente trazida à luz, não estaremos assim a responder à Noite e, ao mesmo tempo, não a chamaremos? Ser chamado e chamar pela Noite, não será isso o que faz a obra dizendo ou ecoando Vem— «Vem, Noite antiquíssima e idêntica»? E, no entanto, essa obra não mostrará também que a Noite recua e se esquiva sempre, cada vez mais longínqua, mais antiga?

— Sim, antiquíssima porque originante — e os mitos da criação sublinham que antes da luz ou do dia, havia a noite: ela é o Anterior. Escuridão que antecede o começo. […]
[Paulo Pires do Vale e Tomás Maia, «Diálogo»]


De que fome se está a falar com este título — «Fome»? E quem pode falar da fome, e a que título? 
Há pelo menos duas fomes, a do animal físico e a do animal metafísico. O humano, se não vir saciada a primeira fome, não pode experienciar a insaciabilidade da segunda. Leio Pascoaes:
Viver é ter fome! A vida é fome: fome de alma e de pão! Fome negra!
Seja de alma ou de pão, a fome é negra. E tal é a primeira experiência desta exposição — que nos convida a entrar e a atravessar um negrume. Travessia da qual não sairemos incólumes: seremos expulsos para ver, a outra luz, a noite. Para rever a noite à luz da arte.
[Tomás Maia, «O Pão e a Alma»]

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