A Mulher 100 Cabeças
Max Ernst
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8902-60-3 | EAN 9789898902603
Edição: Janeiro de 2022
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 188
Robert Desnos: «Sujeito ao destino próprio de todo o poeta, Max Ernst arranca
assim um pedaço ao maravilhoso e restitui-o à veste despedaçada do real.»
O poeta é um lobo para a poesia. Combate-a, tira-lhe o valor e destrói-a à dentada e com garras longas. Alimenta-se dela.
Tal como na luta eterna, a do combate sem tréguas dos amantes, uma paixão forte como o ódio e a morte une e opõe ao
mesmo tempo o poeta e o seu superior ideal. Sem este gosto pelo crime e pelo sangue, não há neste domínio obra válida.
É este gosto do crime, este sabor a sangue, que caracterizam a obra de Max Ernst, e em particular A Mulher 100 Cabeças;
que é, de algum modo, a soma das suas buscas.
Para o poeta não há alucinações. Há o real. E é ao espectáculo de uma realidade mais extensa do que a vulgarmente conhecida, que o inventor destas colagens nos convida.
É um novo domínio adquirido à memória pela imaginação, uma colónia conquistada à liberdade do sonho, em proveito
do imperialismo do «Já Visto».
Porque vai ser-nos hoje mostrado um panorama suficientemente grande de todo um desconhecido de pesadelos e visões, para nos ser possível
identificar de ora em diante as outras vistas que poderão ser-nos submetidas
e nos autorizam a dizer: «isto faz parte do país de A Mulher 100 Cabeças,
onde Max Ernst foi o primeiro a penetrar; está situado a uma enorme distância do ponto de chegada dos titãs, à sombra da escada que viu a fuga
do Eterno, não longe da estranha gruta onde ratos insólitos se divertem,
no território de apanágio dos tremores de terra e das flexíveis subidas de
balões, a meio caminho do despertar e do crepúsculo, no país dos sonhos,
das luxúrias, dos tenebrosos horrores e das auroras artificiais.»
Ao longo de toda esta narrativa de viagem, deste diário de exploração,
surge a imagem indecisa que nos habita os cérebros no momento preciso
onde deixamos, durante um tempo muito curto, de ser homens, e pela graça
erótica dos sentidos penetramos num universo de delírio, gemidos e beijos.
Trata-se, a bem dizer, do conhecimento adquirido de um novo
olimpo. (E bem podemos passar a empregar esta palavra, porque está
despojada de todo o significado religioso.)
Os deuses privados de prerrogativas injustas e arbitrárias não são, diga-se
de passagem, seres muito humanos (mas nós sê-lo-emos mais?)etemos uma
forma de entender-nos perfeitamente com eles e lutar.
[Robert Desnos]
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