Kyra Kyralina
Panait Istrati
Roman Rolland: «É um contador de histórias do Oriente que encanta e se comove com as suas próprias narrativas; e de um tal forma se prende a elas, que uma vez começada a história ninguém sabe, nem ele próprio sabe, se vai durar uma hora ou mil e uma noites.»
O mais significativo resultado de tudo isto deu-se em 1924 — o ano em que André Breton publicava Les Pas perdus, Raymond Radiguet surgia com o póstumo Le Bal du comte d’Orgel, Jean Cocteau com Le Grand écart e Jean Giraudoux com Juliette au pays des hommes — quando um desconhecido com estranho nome a soar muito a romeno, mas a mostrar que escrevia em francês, ofereceu ao público uma sedutora história de orientalismos que se chamava Kyra Kyralina. Dois anos antes, este Istrati já tinha quatro obras terminadas — Oncle Anghel, Kir Nicolas, Sotiz e Mikhail — mas o seu «mestre» preferiu-o na estreia literária com esta outra, mais recente e perturbante — que acrescentava ao nome de uma mulher o seu diminutivo — a que surgiu em 1923 na revista Europe e um ano depois em livro e prefaciada por Romain Rolland:
«Nos primeiros dias de Janeiro de 1921, foi-me entregue uma carta que vinha do Hospital de Nice. Tinha sido encontrada no corpo de um desesperado que acabava de dar um golpe na garganta. Havia poucas esperanças de que ele sobrevivesse ao ferimento. Li-a e fui invadido pelo tumulto do génio. Um vento que queimava na planície. Era a confissão de um novo Gorki dos países balcânicos. Conseguiram salvá-lo. Eu quis conhecê-lo. Encetámos uma correspondência. Ficámos amigos.»
[…]
A surpresa de Kyra Kyralina animou um editor a fazer o contrato que deu a conhecer poucos meses depois Oncle Anghel e Présentation des Haïdoucs. E em 1927 a Nouvelles Littéraires já se interessava por ele como entrevistado.
[…]
Morreu em 16 de Abril de 1935. Tem uma lápide no cemitério de Bellu, em Bucareste, aonde foi parar sem serviços religiosos. A sua fama política incomodava a ortodoxia romena. Tinha escrito Em Direcção a Outra Chama? Sim, mas era ainda assim «um comunista».
[Aníbal Fernandes]
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