Pedras e Batatas / O Ruído dos Sonhos
Miguel Ângelo Rocha, com Isabel Madureira Andrade
e Russell Floersch
Na exacta irregularidade da forma que, recortada em papel branco, ocupa quase um terço da margem inferior do desenho/colagem, uma seta põe em contacto um título — Stones and Potatoes — e os registos sobrepostos em que, da leitura, julgamos reconhecer uma pedra e uma batata. Neste sentido, vinda das palavras, a seta aponta para as imagens sugerindo aos olhos a direcção que as concretiza como figuras prováveis da estabilidade semântica conferida por um título.
Mas se ignorarmos essa direcção e começarmos por nos deter na improbabilidade das figuras, apenas duvidando das palavras — já não título mas legenda — nos podemos aproximar da observação do seu movimento, considerado por Miguel Ângelo Rocha um programa de desobediência. E se, à partida, o movimento resulta tanto da obra a fazer-se como do seu continuado devir, a desobediência é a condição que nela inscreve as múltiplas divergências que comprometem a imobilidade das palavras, das imagens e dos objectos, mantendo intacto o rigor da sua presença.
[Maria João Gamito]
Sem adoptar o plano de uma exposição colectiva, em O Ruído dos Sonhos, Miguel Ângelo Rocha, Isabel Madureira Andrade e Russell Floersch encontram-se, como se um mistério gravítico, algum ímpeto magnético que habite e agite o seu interior e, contudo, não dominam nem de que tomam posse, os atraia, e, enfim, revele o invariante que eclode do particular. […] O Ruído dos Sonhos é uma manifestação de Formas, contêm ideias, porém alheias à metafísica. São coisas, matérias e formas imediatas, sem idealismo ou intangibilidade.
[Ricardo Escarduça]
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