domingo, 6 de janeiro de 2013

«Queria um livro que voasse» [Rodrigo Amado]


«Uma exposição a solo (Un Certain Malaise, na Fundação EDP) e um livro homónimo com Gonçalo M. Tavares: Rodrigo Amado não é apenas músico.»
 
«É músico e fotógrafo. Acaba de ser considerado pelo crítico norte-americano Mark Corroto como um dos melhores autores de 2012, pelo seu disco Burning Live. Faz fotografia como toca música: ao sabor do improviso, andando ao acaso nas cidades onde a música o leva, captando a imagem do momento sem reflectir sobre o que vê. A selecção, o pensamento sobre aquilo que a câmara captou, vêm depois.
Falamos de Rodrigo Amado, que acaba de assinar um livro conjuntamente com Gonçalo M. Tavares: Un certain malaise, editado pela Documenta, acompanha uma exposição a decorrer na Sala do Cinzeiro da Fundação EDP até 10 de Fevereiro.
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À procura de um conceito que agregasse as fotografias que procurava, Rodrigo Amado lembrou-se de Os Passos em Volta, de Herberto Helder, e das peregrinações que as diferentes personagens realizam nessa obra. Aliás, tanto a exposição como o livro Un Certain Malaise começam com uma citação desse poeta: "Escrevo o poema - linha após linha, em redor do pesadelo do desejo, um movimento da treva, e o brilho sombrio da minha vida parece ganhar uma unidade onde tudo se confirma: o tempo e as coisas." Mas não só: Amado interessa-se também "pela própria pessoa que o Herberto é: uma pessoa que se auto-desadaptou da realidade, porque quer ser assim". "Há coisas na personalidade do Herberto que têm a ver comigo", insiste.
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Quando, durante a exposição da exposição, surgiu a oportunidade de fazer o livro, teve também a certeza de que não queria que o texto fosse escrito por um crítico: "Queria que fosse uma coisa mais criativa, que abrisse o sentido das fotografias. Não queria uma coisa formal, queria um livro que voasse. " Lembrou-se então de ter ouvido falar de umas aulas que Gonçalo M. Tavares tinha dado sobre interpretação da imagem, na Faculdade de Motricidade Humana, onde pedia aos alunos que ficcionassem sobre o que viam. "Mandei-lhe um email; estava com medo que não respondesse, mas respondeu, aceitou e fez o texto. Foi incrível. Só o encontrei uma vez antes de o projecto estar terminado!"
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"Não há corpos, mas há vestígios", diz Rodrigo Amado a propósito destas suas ruínas de uma Mitteleuropa em permanente desaparecimento. "E apesar de não haver corpos, há sempre uma forma que nos permite projectá-los."»

Luísa Soares de Oliveira, «Um livro que voasse», «Ípsilon»/Público, 4-I-2013, p. 20 (onde pode ser lido na íntegra).

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