segunda-feira, 3 de junho de 2019

Nos Passos de Etty Hillesum I Filipe Condado, José Tolentino Mendonça


Nos Passos de Etty Hillesum
Filipe Condado, José Tolentino Mendonça

Fotografias e selecção de textos de Filipe Condado
Traduções do neerlandês de Maria Leonor Raven-Gomes (Diário), Ana Leonor e 
Patrícia Couto (Cartas)

ISBN 978-989-8902-79-5 | EAN 9789898902795
Edição: Maio de 2019
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado)
Número de páginas: 168 (a cores)

Com o apoio da GIEFARTE



José Tolentino Mendonça: «Filipe Condado é o primeiro autor a concretizar aquilo que está mais perto de ser um projecto de fotobiografia dela [Etty Hillesum].»


[…] fui desafiado pelo José Tolentino Mendonça a participar numa peregrinação à Holanda — Nos Passos de Etty Hillesum —, organizada pela Capela do Rato em Lisboa. Propósito: não apenas conhecer a sua vida e os seus lugares, mas sobretudo entrar na sua espiritualidade e deixar-se transformar por ela.
Além de integrar o grupo como peregrino, tinha a missão de produzir um registo fotográfico que pudesse, mais tarde, com uma escolha de textos do seu Diário, vir a ser materializado num livro ou numa exposição. 
[…]
Em Amesterdão hospedei-me perto da casa da Etty, pois queria fazer daí o meu ponto de partida.
No primeiro dia, noite adentro, percorri inúmeras vezes o caminho entre a sua casa e a casa de Julius Spier («o parteiro da sua alma»). Esperava com isso encontrar inspiração, mas nada acontecia. Ao frio e debaixo de chuva, senti-me como um mendigo perdido pelas ruas de Amesterdão. Numa das voltas, sentei-me naquelas escadas do n.º 27 da Courbetstraat, onde Etty também se terá sentado a absorver os progressos que o seu coração ia fazendo. Mas nem aí me saía nada. Senti que era tudo demais para mim.
Voltei ao caminho e, a dada altura, percebi que a chuva intensa me conduzia o olhar para o chão, impedindo-me de ver o que se passava à minha volta.
Levantei a cabeça como quem deixa de olhar para dentro e comecei a fixar-me no interior das casas. O escuro da rua e o enquadramento das próprias janelas criavam a ilusão de estar no cinema a ver filmes de vidas reais: amigos à volta de uma mesa; casais aconchegados no sofá; crianças de pantufas aos saltos na cama. Cenas familiares de um quotidiano feliz e tranquilo.
Quando cheguei de novo a casa da Etty, também olhei para dentro, mas estava tudo apagado.
Então, senti que tinha diante de mim o seu legado. 
[…]
Ela, como ninguém, ensinou-me a importância de exercitar a gratidão.
Ela, como ninguém, mostrou-me que é o facto de esperarmos um destino comum que nos faz cúmplices e irmãos na aventura do caminho.
[Filipe Condado]

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