O Colóquio dos Cães incluído em O Casamento Enganoso
Miguel de Cervantes
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8833-49-5 | EAN 9789898833495
Edição: Julho de 2020
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128
Cervantes: «Sou o primeiro a fazer novelas em língua castelhana, porque as muitas novelas que nela andam impressas são todas traduzidas de línguas estrangeiras, e estas são minhas, não imitadas nem furtadas; o meu engenho engendrou-as e pariu-as a minha pena, e vão crescendo nos braços da imprensa.»
Se Miguel de Cervantes no teatro mostrava um talento suplantado por Lope de Vega, se em versos nunca era mau sem ser muito bom, surgiu como fulgurante inovador da ficção em prosa, considerada no seu tempo arte menor perante as formas poética e teatral. O seu D. Quixote conquistou no mundo literário um primeiro e bem explícito exemplo do que hoje conhecemos pela designação de romance; e as suas ficções curtas — só antecedidas no género pelas que tinham construído o Decameron de Bocaccio — também se afirmavam em castelhano como novidade absoluta.
[…] Estas ficções curtas, escritas em épocas diferentes da sua vida, foram revistas e sujeitas à forma definitiva que assumiram para surgir reunidas nas suas Novelas Exemplares publicadas em 1613, três anos antes da sua morte.
São doze, se incluirmos nelas o exemplo discrepante de O Colóquio dos Cães, metido dentro de outro texto, O Casamento Enganoso, este conciliável com o que reconhecemos como novela. O incómodo estrutural desta discrepância já excluiu por várias vezes o Colóquio do conjunto destas novelas, mesmo que tenha sido preciso amputar com ele a parte final de O Casamento Enganoso.
Cervantes, por certo inspirado num diálogo do grego Luciano de Samósata com animais dotados de racionalidade, dá a dois cães algumas horas de fala e superior entendimento, para oferecer aos seus leitores um espectáculo de males muito difundidos na sociedade do seu tempo e perturbadores do comportamento moral que uma inocência de cão julgaria inseparáveis da raça humana. O prodígio mental concedido ao cão Berganza permite que ele nos dê conta, de forma irónica e por vezes pícara, das experiências que teve com todos os seus donos, ouvido atentamente pelo cão Cipión, que ao ser abrangido pelo mesmo prodígio decide retribuir-lhe com outro relato. Cervantes teria pensado em duplicar este diálogo de cães, sem nunca chegar a fazê-lo, promessa não cumprida que incitou um tal Ginés Carrillo Cerón, escritor de Granada, a publicar em 1635 Los Perros de Mahudes, executando o que Cervantes prometeu mas nunca realizou.
[Aníbal Fernandes]
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