Pedro Saraiva > gabinetes
Maria João Gamito
ISBN 978-989-9006-37-9 | EAN 9789899006379
Edição: Junho de 2020
Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros
Formato: 17 x 23 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 376
Com a Fundação Carmona e Costa e o
CIEBA – Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes
> gabinetes é, portanto, o encerramento provisório de uma causa por concluir. Voo ou queda — e não importa o quê porque de ambos só assistimos ao arrebatamento de tudo o que, na duração que lhe é consentida, resiste ao poder infalível da gravidade —, o desígnio é o da oposição, mas de uma oposição pretendida no que de mais fundamental nos consente no mundo e nele nos situa entre os seres e as coisas que se nos opõem, por ser essa a condição do que só pode existir fora de nós.
> gabinetes é o título da exposição que encerra o projecto homónimo iniciado por Pedro Saraiva em 2008 e que, ao longo de dez anos, pôs em contacto Cristina Rosa Agostinho, dita a ‘Linfa’, (1912-1973), Manoel Celestino Alves, ‘o Dr. Cambedo’, (1912-1990), Alberto Maria de Oliveira Bárcea (1908-1978), António Rodrigues Carrera (1900-1948), António Maria Codina (1896-1954), João Gregório (1884-1964), Manuel dos Prazeres Dias Linares (1898-1968), Francisco José Martins, mais conhecido por ‘Panero’, (1895-1955), Musad Maïga (1952-2017) e Pedro Saraiva (1952). Eles são o álibi das obras e os nomes que, através de fragmentárias biografias, consubstanciam os espólios, visíveis em cada exposição sob a designação do gabinete que os identifica.
> gabinetes constitui o ensaio geral das exposições que paradoxalmente tiveram lugar antes dele e cujos despojos se acumulam no avesso das paredes do gabinete > saraiva, núcleo irradiante da exposição e lugar íntimo — lugar dentro de lugar — exposto como a vida em casa, acessível e discreto porque foi nessa discrição, e na penumbra do tempo lento que a envolve, que aconteceu a indagação da concordância entre os autores e os lugares, os lugares e as obras, as obras e os autores, os autores e os autores, Pedro Saraiva entre eles.
O que se resgata nessa concordância é a desinteressada curiosidade pelos espaços onde a memória que se fixa nas palavras e nas imagens remete para as coisas e para os processos que activam a ficção do quotidiano. E o que ela precipita, na surpreendente escassez de meios de que dispôs, é o entendimento do gabinete e do atelier — e da exposição em que se materializam — como reserva mental, localidade sem localização fixa, sistema e depósito do que permanece dos encontros que se inventam e se revelam no sumário do saber circular do mundo, encenado na visão total própria dos panoramas, ela mesma ficcionada na espiral em abismo dos loops por fechar que, na vertigem das fugas barrocas, rodopiam a caminho da sua eternidade.
[Maria João Gamito]
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