A Torção dos Sentidos — Pandemia
e remediação digital
João Pedro Cachopo
ISBN 978-989-9006-61-4 | EAN 9789899006614
Edição: Novembro de 2020
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 112
O que revela a pandemia sobre o mundo em que vivemos? De que modo
está a transformar as nossas vidas? Como podemos e devemos posicionar-nos
em termos éticos, políticos e artísticos perante estas transformações?
Paulatinamente, sem que disso nos apercebamos, a pandemia e as medidas tomadas para contê-la estão a transformar
as nossas vidas. Não me refiro às belas mascarilhas. Nem às restrições à mobilidade. Nem sequer às angústias com as
vagas de contágio. Ou refiro-me a tudo isto, tomando-o pelo que é: um conjunto de epifenómenos. Pois o acontecimento — sobre o qual poderíamos dizer, recordando uma expressão de Nietzsche, que nos deixa atónitos, a contar «as doze
badaladas vibrantes daquela nossa vivência, da nossa vida, do nosso ser» — tem outra fundura: é um abalo dos alicerces
que sustentam a imaginação do próximo e do distante que revolve o sentido de tudo o que sabemos, podemos e desejamos. É este revolvimento que designo por «torção dos sentidos». O acontecimento, por outras palavras, consiste no impacto crescente que o cruzamento entre isolamento profiláctico e uso exacerbado de tecnologias de remediação exerce
sobre os sentidos que dão sentido à nossa existência no mundo.
São cinco os sentidos abordados neste ensaio: o amor, a viagem, o estudo, a comunidade e a arte. Dir-se-ia uma lista
sem nexo, quase apetecendo compará-la com a taxinomia de animais, recolhida por Jorge Luis Borges numa «certa enciclopédia chinesa», que Foucault recorda à entrada de As Palavras e as Coisas. O que justifica a sua reunião? Como é óbvio,
não se trata de sugerir que só estes sentidos conferem sentido à existência humana. O que justifica esta constelação, que
não é nem pretende ser exaustiva, é o facto de todos eles dependerem, em
virtude não só do que significam para nós mas também de como significam para nós, do reconhecimento do próximo e do distante e se configurarem como exercícios de aproximação e distanciamento.
[João Pedro Cachopo]
João Pedro Cachopo é musicólogo e filósofo. Lecciona na Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde
integra o Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. É o autor de
Verdade e Enigma: Ensaio sobre o Pensamento Estético de Adorno (Vendaval,
2013), que recebeu o Prémio Primeira Obra do PEN Clube Português
em 2014, e co-editou Rancière and Music (Edinburgh University Press,
2020), Estética e Política entre as Artes (Edições 70, 2017) e Pensamento
Crítico Contemporâneo (Edições 70, 2014).
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