Pedro Barateiro
ISBN 978-989-9006-68-3 | EAN 9789899006683
Edição: Abril de 2021
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 21 × 29,7 cm (brochado)
Número de páginas: 112 (a cores)
Com a Fundação Carmona e Costa e Mousse Publishing
Edição bilingue: português-inglês
Os desenhos são como uma ferida aberta, uma autópsia.
Este livro foi publicado por ocasião da exposição É só uma ferida — Just a wound, de Pedro Barateiro, com curadoria
de João Mourão e Luís Silva, realizada na Fundação Carmona e Costa, entre 17 de Abril e 17 de Junho de 2021.
Querido vizinho / amante / turista,
Fiz estes desenhos em silêncio enquanto a cidade estava mais ruidosa do que nunca. Tenho olhado para o meu telefone
em silêncio enquanto todos gritam lá dentro. Bem, às vezes os desenhos eram feitos com algumas pessoas na sala, às vezes
falava enquanto os fazia. O telefone limitou-se a testemunhar tudo, espreitando, ouvindo e respirando, gravando todas as
acções. Não penso muito enquanto faço estes desenhos. Não penso muito enquanto tiro estas fotografias. […] Os desenhos
são como uma ferida aberta, uma autópsia. Eles reflectem, tal como o espelho do telefone.
Os desenhos neste livro foram feitos no meu estúdio na Rua da Madalena 117-A, na Baixa de Lisboa. Mudei-me em
Novembro de 2014. Fica numa das partes mais antigas da cidade. No estúdio existem ruínas, artefactos, provavelmente cadáveres também. O terramoto de 1755 remodelou esta zona, da mesma forma que o capital de risco
sob o feitiço do turismo o fez nos últimos anos. […]
Entre ruínas, ratos e humanos, abri um espaço para projectos chamado Spirit Shop, em duas salas do estúdio. Nós lidamos com espírito.
Não é fácil convidar outros, outros espíritos, para o nosso espaço pessoal.
Mas sempre gostei de conversar, trocar ideias. Tenho muita sorte em ter
este espaço numa parte da cidade que se transformou de maneiras tão
diferentes. As coisas estão a mudar. Eu estou a mudar o tempo todo. Por
isso tive de fazer algo acontecer ali, além de projectar a minha própria
subjectividade.
Estás convidado a passar quando quiseres. Talvez esteja lá. Entra e
pinta os meus olhos de verde Veronese, a cor que usei nestes desenhos. Se
eu não estiver, deixa uma mensagem por baixo da porta a dizer que leste
isto. Não sou um empresário, sou um amador, um mágico, um palhaço,
um monstro, um empreendedor das minhas próprias acções, tal como
tu. Estarei à espera atrás da cortina.
Atenciosamente,
— Pedro
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