A Dificuldade de Ser
Jean Cocteau
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8833-69-3 | EAN 9789898833693
Edição: Março de 2022
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 208
Jean Cocteau: «No fim de contas tudo tem solução,
salvo a dificuldade de ser, que não tem solução nenhuma.»
É preciso, repito-o, compreender que a arte não existe enquanto arte, enquanto coisa separada, livre, desembaraçada do
criador, e só existe se prolongar um grito, um riso ou um lamento. É o que leva certas telas de museus a fazerem-me sinais e
viverem com angústia, enquanto outras estão mortas e só mostram os cadáveres embalsamados do Egipto.
[Jean Cocteau]
Em 1947 A Dificuldade de Ser tinha surgido como seu auto-retrato íntimo, espalhado por trinta e um textos de títulos
à moralista clássico e a lembrarem-se de uma frase de Fontenelle no leito de morte: «Sinto uma dificuldade de ser.»
André Fraigneau (num dia de diálogos): Por que escreveu A Dificuldade de Ser?
Cocteau: O impudor é o meu heroísmo; lavo a roupa suja
em público. Além disso, eu podia trabalhar ali o estilo que me
agrada: Montaigne, Stendhal, o Código de Napoleão, o Hugo
das Choses vues e Balzac que escreve muito bem, desculpe que
lho diga.
André Fraigneau: Para si, Balzac escreve bem?
Cocteau: Ah, sim! Ele diz o que quer dizer. O estilo é isso.
O mau estilo é Flaubert, o das pessoas que fazem poses. Devemos
procurar ser exactos como os algarismos e, custe o que custar, dizer
o que queremos dizer; acertar no alvo sem as poses do atirador
presunçoso.
Flaubert é o atirador presunçoso.
Há no seu túmulo este aviso: Continuo convosco. E quarenta e oito anos antes tinha escrito no poema «Discurso do
Grande Sono»:
Uso uma tinta que é o sangue azul de um cisne,
E sempre que é preciso ele morre para estar mais vivo.
[Aníbal Fernandes]