Devagar, a Poesia
Rosa Maria Martelo
ISBN 978-989-8833-81-5 | EAN 9789898833815
Edição: Março de 2022
Preço: 15,09 euros | PVP: 16 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 224
Colecção «Linhas de Fuga»
Como qualquer outra arte, a poesia produz uma interrupção no curso do tempo,
e essa intempestividade é experimentada de forma libertária tanto por quem a
escreve quanto por quem a lê.
Este livro procura apreender a experiência temporal expansiva gerada pelo discurso poético enquanto forma de resistência, e acompanha alguns processos de inquirição do tempo em que vivemos, dos ritmos com que vivemos. Essa inquirição
envolve uma atenção exacerbada ao vocabulário, aos modos de dizer. E passa, de maneira não necessariamente explícita,
pela inquirição metadiscursiva e pela experimentação do discurso. Somos as palavras que dizemos, mas também somos a
recusa de muitas outras, que não iremos proferir nunca. Palavras que instituem papéis sociais injustos, regulações e normas
discutíveis, palavras que tantas vezes espartilham a imaginação e a possibilidade de outros mundos. Como se não houvesse
alternativa.
[…]
Passámos a viver isolados, a marcar encontros em ambientes
digitais que nos parecem tremendamente insípidos, mesmo se em
grande parte lhes devemos o pouco contacto que nos foi possível
manter nas fases mais críticas. A vida parece suspensa, como se, entre o passado e o futuro, habitássemos um hiato, um intervalo que
ninguém sabe ao certo quando e como vai terminar. Neste mundo
ferido de estranha irrealidade, o discurso da poesia mantém-se tremendamente real, denso. Percebemos que a suspensão gerada pelo
tempo da poesia nada tem a ver com estas formas de parálise porque
releva de outro tipo de suspensão, feita de possibilidade e expectativa criadora. E de memória, também. Pela sua natureza libertária,
a poesia não pactua com o esquecimento dos erros e das sujeições
do passado. É deles que nos preserva quando nos faculta uma outra
experiência do tempo, mais introspectiva e menos maquínica, ou
quando ouve e experimenta o que alguns, antes de nós, sonharam
como possível. Quando valoriza e exemplifica a dúvida, a possibilidade e a expectativa, a poesia preserva-nos do pior, ainda que não
lhe caiba mostrar-nos um caminho a seguir.
[Rosa Maria Martelo]
Sem comentários:
Enviar um comentário