sexta-feira, 27 de novembro de 2020
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
«é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano»
EXERCÍCIO ESPIRITUAL
É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora
Mário Cesariny, 9/8/1923 – 26/11/2006 I Manuel António Pina, 18/11/1943 – 19/10/2012
terça-feira, 24 de novembro de 2020
Os meus Oscar Wilde
Os meus Oscar Wilde
André Gide
Tradução (com «pré, inter e pós-fácios») de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8833-54-9 | EAN 9789898833549
Edição: Outubro de 2020
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 152
«Toda a verdade deixa de sê-lo, desde que haja mais do que
uma pessoa a acreditar nela.»
Uma das companhias preferidas de Oscar Wilde era lorde Alfred Douglas (que viria a ser Bosie na linguagem do seu
afecto), rapaz de vinte e um anos, estudante no Magdalen College de Oxford com uma qualidade poética que os elogios
de Wilde sobrevalorizavam, terceiro filho de um marquês grosseiro e brutamontes, de seu nome Queensberry. Wilde
conheceu esse jovem na sua própria casa de Tite Street, apresentado por Lionel Johnson, um amigo que o trazia, encantado
com uma recente leitura de Dorian Gray.
«Depois de trocadas as habituais cortesias», veio Alfred Douglas a escrever, «Wilde mostrou-se muito amável e falou
imenso. Antes de eu me retirar convidou-me para almoçar ou jantar com ele no seu clube — convite que aceitei.»
Esta amizade intensificou-se. Wildee Bosie começaram por fazer duas viagens juntos (uma a Florença, outra a Brighton)
e partilharam depois um apartamento comum no Hotel Savoy de
Londres; mas, se acreditarmos nas palavras de Bosie, foram precisos
seis meses de intensas intimidades e leitos separados por curta vizinhança para ele não resistir às suas propostas sexuais.
Em 1895, pouco depois do imenso êxito da peça An Ideal Husband,
Wildee Bosie decidiram ver de perto a beleza morena e compreensiva,
nesses tempos fácil de encontrar entre os jovens árabes de Argel.
Ora, André Gide também gostava da Argélia, colónia do seu país
com um forte exotismo visual e sensorial, próxima na sua distância,
bastante em conta para as folgas da sua bolsa. Por acidente, juntaram-se os três na Argélia. Mas já tinha havido outros encontros.
Gide vai lembrar-se aqui da sua vistosa presença em Paris, dos seus
ditos, dos seus paradoxos, de um teatro de salão onde Oscar Wilde
fazia incansavelmente a representação da sua própria personagem.
Lembrar-se-á do Oscar Wilde na Argélia, do Oscar Wilde numa fria aldeia da França, abrigado sob o pseudónimo Sébastien Melmoth, derrotado e ferido depois de dois anos de cárcere na Inglaterra. E, para além
dos textos de Gide, ler-se-á também uma selecção dos mais significativos momentos dos seus processos.
[Aníbal Fernandes]
As Aventuras de Uma Negrinha à Procura de Deus
As Aventuras de Uma Negrinha
à Procura de Deus
George Bernard Shaw
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8833-55-6 | EAN 9789898833556
Edição: Outubro de 2020
Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 112
O amor não basta… A negrinha descobre que é mais sensato seguir
o
conselho de Voltaire… E não obter a explicação total do universo.
Em 1925, George Bernard Shaw ganhou o Prémio Nobel da Literatura, o que ainda mais relevo conferiu à sua obra
reformista, corajosamente defensora da revolução soviética numa Inglaterra democrática e com forte solidez monárquica,
incansável argumentadora dos malefícios da ordem capitalista.
A sua sátira, que já tinha escolhido por duas vezes a perversão das religiões cristãs — em 1897 com a peça The Devil’s
Disciple, em 1909 com a peça The Shewing-up of Blanco Posnet — em 1932 acrescentou-se na mesma onda com um regresso
à novela — chamemos-lhe assim — As Aventuras de uma Negrinha à Procura de Deus (com o texto revisto em 1946), uma
forma literária híbrida e, ao que parece, constantemente arrependida de ser uma prosa ficcionada e não ter um palco
onde pudesse mostrar a sua despida jovem negra à procura de um Deus na selva da União Sul Africana; comandada neste
inquérito por uma inspiração que muito deve ao Candide de Voltaire (e até sucede — nesta filiação que não quer de
forma alguma esconder-se — que o principal protagonista conclui nos dois textos que para ele melhor será limitar-se
a «cultivar o seu jardim».)
O Prémio Nobel da Literatura, o grande prestígio britânico, dava agora pretexto a uma ampliada indignação dos religiosamente feridos perante este tom agnóstico que espalhava o seu zumbido sobre as versões de
Deus coleccionadas nas páginas da Bíblia e do Corão, sobre o ateísmo de
intelectuais que as consideravam ultrapassadas por inquestionáveis certezas da Ciência. E a incomodidade desta negrinha ainda era maior por se
atrever a um casamento inter-racial num cenário que indiscutivelmente
sugere o da União Sul Africana (feroz no seu apartheid) — provocação
aos olhares democráticos e só teoricamente anti-racistas dos Ingleses.
[…]
Esta novela voltaireana, escrita com oitenta e dois anos de idade, é o
último e já desgarrado grande êxito de George Bernard Shaw, nessa época
mais preocupado em organizar os definitivos dezasseis volumes da sua
obra escrita, em surgir fotograficamente nos jornais sob os traços de uma
velhice por todos admirada na sua lucidez, e a todos comunicada que era
um milagre vegetariano.
[Aníbal Fernandes]
Doze Fronteiras — A raia luso-espanhola percorrida em toda a sua extensão
Doze Fronteiras — A raia luso-espanhola
percorrida em toda a sua extensão
Joaquim M. Palma
Fotografias e mapas do autor
ISBN 978-989-9006-46-1 | EAN 9789899006461
Edição: Novembro de 2020
Preço: 16,98 euros | PVP: 18 euros
Formato: 15,5 × 21,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 320 (fotografias a preto e branco)
Ecoando na esteira de todos os passos do
viajante
fronteiriço, um verso do poeta José Tolentino Mendonça:
«Não ames viagens que reduzam a estranheza».
Realidades humanas e paisagísticas emudecedoras existentes nos confins dos dois países ibéricos, culturas ancestrais
remotas engolidas pelos buracos negros da desolação e abandono numa galáxia rural já nos umbrais do não-retorno,
beleza intemporal frágil, marcas predatórias ferozes — eis algumas das faces de uma geografia precária e em fuga
encontrada durante uma sentida viagem ao longo da fronteira entre Portugal e Espanha.
Ecoando na esteira de todos os passos do viajante fronteiriço, um verso do poeta José Tolentino Mendonça: «Não
ames viagens que reduzam a estranheza».
E estranheza houve. Ou não fosse a linha de fronteira ela própria já uma coisa estranha.
O livro que o leitor tem neste momento entre mãos não foi concebido para uso turístico. Não tem mapas com a indicação de pontos de interesse buscados pelas massas, nem de onde ficar ou comer, nem de contactos locais, nem é adornado com fotografias de postal ilustrado. Também não é nenhum estudo
académico de natureza sociológica, etnográfica ou outra; por isso, no final, não
está lá nenhuma secção de notas nem a clássica e habitualmente extensa lista bibliográfica. É, sim, a reprodução de um simples caderno de viagem redigido sem
pretensões de convencer quem quer que seja e cujos conteúdos surgiram da interacção do olhar com o coração e da predisposição de um ser humano para ir à procura do genuíno, onde o belo (e o feio) têm sempre algo a dizer. Os registos, por
separado e por junto, nada exigem e nada prometem; são a folha caída de uma árvore que não está perto e que o vento trouxe inesperadamente — uns dão por ela,
pegam-lhe, olham-na com curiosidade, e vão à procura da árvore, outros não.
Joaquim M. Palma (Vila Viçosa, 1952) foi professor do ensino primário
durante trinta e dois anos. Publicou duas obras sobre educação ambiental. Faz viagens a sítios onde os turistas não chegam e escreve sobre a beleza e o abandono que
atingem pessoas e territórios remotos. Tem alguma poesia publicada em editoras
independentes. Nos últimos dez anos, publicou os textos fundacionais do taoismo.
Presentemente, está a traduzir para português a poesia haiku japonesa. Vive no
campo, perto da cidade de Évora.
Antes do Início e Depois do Fim: Júlio Pomar e Hugo Canoilas
Antes do Início e Depois do Fim:
Júlio Pomar e Hugo Canoilas
Júlio Pomar, Hugo Canoilas
Textos de Sara Antónia Matos, Chus Martínez,
Hugo Canoilas
Design de Ilhas Estúdio
ISBN 978-989-9006-33-1 | EAN 9789899006331
Edição: Junho de 2020
Preço: 20,76 euros | PVP: 22 euros
Formato: 17 × 21 cm (brochado)
Número de páginas: 204 (a cores) ´
Com o Atelier-Museu Júlio Pomar
As obras destes dois pintores configuram um campo híbrido, um território
que leva a repensar a natureza das coisas, dos objectos, dos fenómenos da
natureza, da arte, das suas matérias, exercícios e metodologias.
Combinando arte, investigação e documentação, o trabalho de Júlio Pomar é enformado por um património crítico
que lhe permite abordar a natureza descontraidamente, sem pretensões de apresentar um conhecimento moldado pelos
pressupostos da ciência. Natureza, olhar científico e olhar artístico conjugam-se num discurso que ultrapassa as determinações disciplinares e garante um resultado final revelável em diferentes camadas de informação.
Em diálogo com a obra de Júlio Pomar, de Hugo Canoilas mostra-se um extenso corpo de trabalho que o artista tem desenvolvido nos últimos anos em torno de uma figuração por vezes pré-histórica ou pré-apocalíptica, e por vezes pós- -apocalíptica, numa espectacular tentativa crítica de pensar sobre a sociedade, sobre a relação com a arte e com a natureza através da arte.
Em diálogo com a obra de Júlio Pomar, de Hugo Canoilas mostra-se um extenso corpo de trabalho que o artista tem desenvolvido nos últimos anos em torno de uma figuração por vezes pré-histórica ou pré-apocalíptica, e por vezes pós- -apocalíptica, numa espectacular tentativa crítica de pensar sobre a sociedade, sobre a relação com a arte e com a natureza através da arte.
O que implica a criação? E a percepção? Qual é a verdade da natureza e quais são as origens do fazer artístico?
No diálogo O Declínio da Mentira, Oscar Wilde sublinhava que «quanto mais estudamos a Arte, menos nos interessamos pela Natureza». […]
As obras destes dois pintores configuram um campo híbrido, um território que leva a repensar a natureza das coisas,
dos objectos, dos fenómenos da natureza, da arte, das suas matérias, exercícios e metodologias. A arte em geral faz equacionar os modos de ver e percepcionar a realidade, implicando o observador numa participação construtiva. A relação
entre arte e natureza, entre forma viva e forma artística, revela-se então num espaço de
inteligibilidade capaz de esclarecer, heuristicamente, a própria forma do pensamento.
Foi neste âmbito lato que a exposição ultrapassou a temática explícita nas obras —
animais selvagens e domésticos, existentes e
extintos — para permitir um outro domínio
de reflexões mais abrangentes, particularmente associado às questões da sustentabilidade, da tecnologia, das possibilidades da vida
na Terra e, não menos importante, do tempo.
[Sara Antónia Matos]
O Corpo, a Sexualidade e o Erótico na Obra de Júlio Pomar
O Corpo, a Sexualidade e o Erótico
na Obra de Júlio Pomar
Júlio Pomar, Salomé Lamas
Textos de Roger Munier, Sara Antónia Matos e Pedro
Faro, Ilhas Estúdio, Isabel Ramos, Miguel Martins
Design de Ilhas Estúdio
ISBN 978-989-9006-49-2 | EAN 9789899006492
Edição: Outubro de 2020
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 17 × 21 cm (brochado)
Número de páginas: 112 (a cores)
Com o Atelier-Museu Júlio Pomar
Em seus momentos de desespero, ele afirma que o desenho não existe e que
não é possível obter com traços senão figuras geométricas; [...] o desenho dá o
esqueleto, a cor é a vida, mas a vida sem o esqueleto é uma coisa mais incompleta
que o esqueleto sem a vida.
(Honoré de Balzac, Le Chef-d’oeuvre inconnu)
O corpo, a sexualidade e o erótico na obra de Júlio Pomar (2019) é uma instalação concebida por Salomé Lamas, que a
artista e cineasta realizou a convite do Atelier-Museu, para mostrar na sequência da exposição «Júlio Pomar: Formas que
se tornam outras», sobre a dimensão erótica no percurso deste artista. A peça estabelece correspondências livres entre
os escritos do pintor e o seu trabalho pictórico, concentrando-se principalmente nas explorações e preocupações de
Júlio Pomar em torno do corpo, da sexualidade e do erótico. […]
Numa instalação feita com projectores de slides e som, a cineasta usa imagens de arquivo, por vezes mostrando fragmentos de obras, outras vezes a sua totalidade. Estas imagens são retrabalhadas, ligeiramente alteradas, sublinhando algum elemento (um traço, uma mancha) ou reforçando aquilo que pretende ser comunicado (processos, matérias,
metodologias, referências), questionando aquilo que é tradicionalmente considerado o conteúdo de uma obra. O que é
o conteúdo de uma pintura? De um desenho? De uma imagem? O que está figurativamente representado, ou também
a sua dimensão matérica e formal? Na realização da obra, Salomé Lamas, partindo da consulta de livros publicados sobre o artista, de vários ficheiros digitais e outras informações, na impossibilidade mas ambição de tudo ver, problematiza também a ideia de «arquivo». Ao fazê-lo, questiona o modo como a História da Arte, com os seus critérios científicos,
e por vezes alguma moralidade, arruma, categoriza e
fixa modos de ver. Nesta obra, pondo em jogo uma dimensão autoral, a sua, a cineasta reorganiza e edita fragmentos de um património cultural comum, fazendo
lembrar Godard no Livro da Imagem:
«Ainda te lembras de como antes exercitávamos o pensamento? Costumávamos partir de um sonho. Perguntávamo-nos como era possível que, na obscuridade total,
em nós surgissem cores de tal intensidade. Diziam-se
grandes coisas, coisas importantes, espantosas, profundas
e justas, num tom de voz doce e baixo. Imagem e palavra.»
[Sara Antónia Matos / Pedro Faro]
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Esferas da Insurreição — Notas para uma vida não chulada
Esferas da Insurreição — Notas para uma vida
não chulada
Suely Rolnik
Prólogo de Paulo B. Preciado
Design de Horácio Frutuoso
ISBN 978-989-9006-51-5 | EAN 9789899006515
Edição: Outubro de 2020
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 17 × 24 cm (brochado)
Número de páginas: 162 (a cores)
Com o Teatro Praga (colecção «Sequência»)
Paul B. Preciado: «Estes ensaios de Suely Rolnik chegam-
-nos em plena névoa tóxica que os nossos modos coletivos
de vida produzem sobre o planeta.
Vivemos um momento
contrarrevolucionário.»
Estes textos são como um oráculo que nos fala do nosso próprio futuro mutilado. Vêm recordar que o que estamos a
viver não é um processo natural, mas uma fase a mais de uma guerra que não cessou: a mesma guerra que levou à capitalização das áreas de preservação de terras indígenas, ao confinamento e ao extermínio de todos os corpos cujos modos de conhecimento ou afeção desafiavam a ordem disciplinar, à destruição dos saberes populares em benefício da capitalização
científica, à caça às bruxas, à captura de corpos humanos para serem convertidos em máquinas vivas da plantação colonial;
a mesma guerra na qual lutaram os revolucionários do Haiti, as cidadãs da França, os proletários da Comuna, aquela guerra
que fez surgir a praia sob os paralelepípedos das ruas de Paris em 1968, a guerra dos soropositivos, das profissionais do
sexo e das trans no final do século XX, a guerra do exílio e da migração…
Suely Rolnik reuniu aqui três textos elaborados durante os últimos anos
que poderiam funcionar como um guia de resistência micropolítica em
tempos de contrarrevolução. Tive a sorte de escutar e ler muitas versões destes textos, como quem assiste à germinação de um ser vivo. O pensamento
de Suely, como a sua própria prática analítica, tem a qualidade de estar
sempre em movimento. O que os leitores têm agora nas suas mãos é uma
fotografia da tarefa crítica de Suely tirada num momento preciso. Trata-se
de um trabalho aberto, de um arquivo em beta, em constante modificação.
O livro, extremamente rico e cuja leitura levará a múltiplas intervenções
críticas e clínicas, poderia ser lido tanto como um diagnóstico micropolítico da atual mutação neoconservadora e nacionalista do regime financeiro neoliberal quanto como uma hipótese acerca da derrota da esquerda,
no contexto não só latino-americano, mas também global. Mas esse réquiem por uma esquerda macropolítica é acompanhado em Suely pelo
desenho de uma nova esquerda radical: Esferas da Insurreição é uma cartografia das práticas micropolíticas de desestabilização das formas dominantes
desubjetivação, um diagrama da esquerda por vir.
[Paul B. Preciado]
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