ISBN 978-989-568-023-8 | EAN 9789895680238
Edição: Agosto de 2022
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 152
No princípio era o cinema. Numa sala escura, uma máquina de
projecção começa a trabalhar e faz-se luz. Uma nova realidade da qual
eu, cada um de nós, pode ter uma experiência pessoal, singular, única.
Segundo a hipótese que pretendemos formular, o cinema — e em grande
medida as imagens, práticas e mitos que Hollywood desencadeou e ainda hoje
alimenta — constitui um modelo definidor da especificidade cultural do
século XX, através da conjugação entre a singularidade de uma experiência
pessoal, que suscita, e a dimensão genérica ou universal, que possui.
[…]
O início do século XX ficou marcado pelo brilho intenso das estrelas
de Hollywood, cuja capacidade de atracção — assente numa permanente
tensão entre proximidade e distância, único e comum — determinou o
modo como pensamos a identidade.
Contudo, as próprias condições que haviam possibilitado o star-system
acabariam por ditar a sua transformação e metamorfose, com um tendencial
desaparecimento do modelo clássico tradicional. Os retratos de celebridades,
as pinturas de objectos quotidianos ou os filmes de Andy Warhol dão conta
de um princípio deequivalência generalizada, associado à cultura de massas,
o qual implicou uma indiferenciação entre o excepcional e o banal.
Estava aberto o caminho para uma nova forma de vedetariado (o vedetariado de massas onde qualquer um pode ser uma estrela) e para uma outra
tipologia da subjectividade (nem específica nem genérica, mas resultante de
um processo de design). Em simultâneo, o lugar da antiga estrela de cinema
foi sendo ocupado pelo futebolista-star cuja capacidade de atracção planetária
vai muito para além das suas capacidades performativas em sentido estrito.
E no entanto, apesar de todas estas transformações — ou, sobretudo, através delas —, continuamos a precisar do brilho das estrelas — e possivelmente
continuamos a aspirar a ser uma estrela — porque essa é uma das matérias de
que é feito o nosso imaginário e é através deste que moldamos a nossa identidade e as nossas relações com as condições reais de existência.
[Alexandre Melo]
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