quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Má Sorte Que Ela Fosse Puta


Má Sorte Que Ela Fosse Puta 
John Ford 

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-8833-70-9 | EAN 9789898833709 

Edição: Outubro de 2021 
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas) 
Número de páginas: 144

Uma bela e sombria tragédia de John Ford — mundo de valores transtornados, com a insolente reivindicação de um incesto indiferente aos códigos sociais e a uma moralidade anulada pela crise espiritual que atingia o seu auge nesse princípio do século XVII britânico. 



O dramaturgo John Ford socorreu-se da autoria partilhada. Em 1624 associou-se a Thomas Dekker e William Rowley para escrever The Witch of Edmonton; nesse mesmo ano, e só com Thomas Dekker, também escreveu The Sun’s Darling; e entre as suas seis peças perdidas houve mais duas partilhadas com Dekker, e uma com William Rowley e John Webster. 
Má Sorte que Ela Fosse Puta e The Lover’s Melancholy, ambas de 1626, parecem ter sido as suas primeiras peças de autoria solitária; a revelarem-no com uma diferença violadora das regras estabelecidas por Shakespeare e os seus contemporâneos; a despojar, a evitar metáforas e a dar preferência à fala directa; a substituir a serenidade isabelina pelas agressividades da sátira e do cinismo. John Ford não deu à sua posteridade esse prazer da citação, essa colecção de frases e expressões que as peças de Shakespeare emprestam com abundância às exibições da cultura; sonhou e escreveu textos para um teatro que saltou sobre as formas que cumpriam a tradição, com personagens que evitavam a ênfasee a requintada elaboração metafórica para reproduzir o reconhecível discurso dos homens do seu tempo. 
Má Sorte… tem no seu centro Annabella, que Antonin Artaud considerou «a imagem do perigo absoluto». 
[…] 
As peças de John Ford foram olhadas no seu tempo como objectos estranhos ao tom teatral reconhecido e acarinhado pelo público. Chocavam-no as heroínas que reivindicavam com insolência a sua liberdade social e sexual (mais tarde valorizada pelos movimentos feministas); chocavam-no as suas paixões requintadamente mórbidas (as que vieram a fazê-lo muito apreciado pelos decadentistas do século XIX); Algernon Charles Swinburne louvou-lhe «a harmónica pureza da língua»; Samuel Taylor Coleridge a sua linguagem «clara como as estrelas de uma noite gelada». Ford foi um amoralista pagão, penalizado perante o seu público por fazer subir aos palcos uma linguagem despida da ênfase metafórica tão querida dos isabelinos. 
Má sorte que ele fosse… tão moderno. 
[Aníbal Fernandes]

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