Má Sorte Que Ela Fosse Puta
John Ford
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8833-70-9 | EAN 9789898833709
Edição: Outubro de 2021
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 144
Uma bela e sombria tragédia de John Ford — mundo de valores transtornados, com a
insolente reivindicação de um incesto indiferente aos códigos sociais e a uma moralidade
anulada pela crise espiritual que atingia o seu auge nesse princípio do século XVII britânico.
O dramaturgo John Ford socorreu-se da autoria partilhada. Em 1624 associou-se a Thomas Dekker e William Rowley
para escrever The Witch of Edmonton; nesse mesmo ano, e só com Thomas Dekker, também escreveu The Sun’s Darling;
e entre as suas seis peças perdidas houve mais duas partilhadas com Dekker, e uma com William Rowley e John Webster.
Má Sorte que Ela Fosse Puta e The Lover’s Melancholy, ambas de 1626, parecem ter sido as suas primeiras peças de
autoria solitária; a revelarem-no com uma diferença violadora das regras estabelecidas por Shakespeare e os seus contemporâneos; a despojar, a evitar metáforas e a dar preferência à fala directa; a substituir a serenidade isabelina pelas agressividades
da sátira e do cinismo. John Ford não deu à sua posteridade esse prazer da citação, essa colecção de frases e expressões que as
peças de Shakespeare emprestam com abundância às exibições da cultura; sonhou e escreveu textos para um teatro que saltou sobre as formas que cumpriam a tradição, com personagens que
evitavam a ênfasee a requintada elaboração metafórica para reproduzir
o reconhecível discurso dos homens do seu tempo.
Má Sorte… tem no seu centro Annabella, que Antonin Artaud
considerou «a imagem do perigo absoluto».
[…]
As peças de John Ford foram olhadas no seu tempo como objectos
estranhos ao tom teatral reconhecido e acarinhado pelo público. Chocavam-no as heroínas que reivindicavam com insolência a sua liberdade social e sexual (mais tarde valorizada pelos movimentos feministas);
chocavam-no as suas paixões requintadamente mórbidas (as que vieram
a fazê-lo muito apreciado pelos decadentistas do século XIX); Algernon
Charles Swinburne louvou-lhe «a harmónica pureza da língua»; Samuel
Taylor Coleridge a sua linguagem «clara como as estrelas de uma noite
gelada». Ford foi um amoralista pagão, penalizado perante o seu público
por fazer subir aos palcos uma linguagem despida da ênfase metafórica
tão querida dos isabelinos.
Má sorte que ele fosse… tão moderno.
[Aníbal Fernandes]
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