quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Durante o Fim


Durante o Fim 
Rui Chafes 

Textos de Manuel Castro Caldas, Maria Nobre Franco, Rui Chafes, Aurora Garcia 
Fotografias de Alcino Gonçalves 

ISBN 978-989-8833-67-9 | EAN 9789898833679 

Edição: Outubro de 2021 
Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros 
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado) 
Número de páginas: 192 

Edição bilingue: português-inglês

Maria Nobre Franco: Durante o Fim é uma viagem interior feita de inquietações e ousadias. A travessia de um espaço mental acossado pelo mistério, pela perturbação e por uma estranha magia que envolve a condição humana, o destino. Não é isso determinante em Rui Chafes?» 



Este livro foi publicado pela primeira vez (Assírio & Alvim, Outubro 2000) por ocasião da exposição Durante o Fim, de Rui Chafes, com curadoria de Maria Nobre Franco, de 15 de Outubro de 2000 a 15 de Janeiro de 2001, em três espaços de Sintra: Palácio Nacional da Pena, Parque Histórico da Pena / Parque Natural de Sintra-Cascais e Sintra Museu de Arte Moderna. Esta edição (Documenta, Outubro 2021) foi publicada como homenagem a Maria Nobre Franco (Messejana, 1938 – Cascais, 2015), durante a exposição No Reino das Nuvens: os Artistas e a Invenção de Sintra, realizada entre Maio e Outubro de 2021, no Museu de Artes de Sintra (MU.SA). 

E já então eu sabia que vivemos porque outros vivem, só por isso. Porque o que me mostram passa a ser meu: é essa a crua generosidade desta vida desamparada. Um minúsculo olho gigantesco que tudo vê e no qual tudo se reflecte: quartos, portas, retratos pendurados na parede, janelas. Tudo reflectido na esfera de vidro desse olho que um dia me ofereceste, embrulhado em papel claro. Por sermos como pedras lançadas no ar que, eventualmente, um dia se encontrarão, sempre a tua voz me foi uma indizível dádiva. Contigo, por ti, por existires, o Mundo tornou-se maior, enorme. 
E quando morrermos, se morrermos, Deus não saberá o que fazer. Muito mais do que isto não temos. Mas é tanto. «Não, não chores, tu não», disseste, «tens os olhos claros e quem tem os olhos claros não pode chorar nunca». Todos acreditam que através dos olhos claros tudo se vê de forma mais clara. E era sobretudo quando não havia sol e a névoa cobria a floresta da montanha, que subias os penedos para chegar à estátua do Guerreiro, que também teria os olhos claros. É curioso que lhe chamem a Estátua do Gigante, ou do Parsifal, ou do Arquitecto, do Construtor. Aliás, que outra coisa se pode fazer neste mundo a não ser construir? Dizem-me. Construir como quem tenta dar um sentido à sua efémera passagem. Tão evidente, não é? 
[Rui Chafes]

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