Durante o Fim
Rui Chafes
Textos de Manuel Castro Caldas, Maria Nobre Franco,
Rui Chafes, Aurora Garcia
Fotografias de Alcino Gonçalves
ISBN 978-989-8833-67-9 | EAN 9789898833679
Edição: Outubro de 2021
Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado)
Número de páginas: 192
Edição bilingue: português-inglês
Maria Nobre Franco: Durante o Fim é uma viagem interior feita de
inquietações e ousadias. A travessia de um espaço mental acossado pelo
mistério, pela perturbação e por uma estranha magia que envolve a
condição humana, o destino. Não é isso determinante em Rui Chafes?»
Este livro foi publicado pela primeira vez (Assírio & Alvim, Outubro 2000) por ocasião da exposição Durante o Fim, de Rui
Chafes, com curadoria de Maria Nobre Franco, de 15 de Outubro de 2000 a 15 de Janeiro de 2001, em três espaços de Sintra:
Palácio Nacional da Pena, Parque Histórico da Pena / Parque Natural de Sintra-Cascais e Sintra Museu de Arte Moderna.
Esta edição (Documenta, Outubro 2021) foi publicada como homenagem a Maria Nobre Franco (Messejana, 1938 – Cascais,
2015), durante a exposição No Reino das Nuvens: os Artistas e a Invenção de Sintra, realizada entre Maio e Outubro de
2021, no Museu de Artes de Sintra (MU.SA).
E já então eu sabia que vivemos porque outros vivem, só por isso. Porque o que me mostram passa a ser meu: é essa a
crua generosidade desta vida desamparada. Um minúsculo olho gigantesco que tudo vê e no qual tudo se reflecte: quartos,
portas, retratos pendurados na parede, janelas. Tudo reflectido na esfera de vidro desse olho que um dia me ofereceste, embrulhado em papel claro. Por sermos como pedras lançadas no ar que, eventualmente, um dia se encontrarão, sempre a tua
voz me foi uma indizível dádiva. Contigo, por ti, por existires, o Mundo tornou-se maior, enorme.
E quando morrermos, se morrermos, Deus não
saberá o que fazer. Muito mais do que isto não temos.
Mas é tanto. «Não, não chores, tu não», disseste, «tens
os olhos claros e quem tem os olhos claros não pode
chorar nunca». Todos acreditam que através dos olhos
claros tudo se vê de forma mais clara. E era sobretudo
quando não havia sol e a névoa cobria a floresta da
montanha, que subias os penedos para chegar à estátua do Guerreiro, que também teria os olhos claros. É
curioso que lhe chamem a Estátua do Gigante, ou do
Parsifal, ou do Arquitecto, do Construtor. Aliás, que
outra coisa se pode fazer neste mundo a não ser construir? Dizem-me. Construir como quem tenta dar um
sentido à sua efémera passagem. Tão evidente, não é?
[Rui Chafes]
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