terça-feira, 6 de novembro de 2018

A Morte Difícil I René Crevel


A Morte Difícil
René Crevel

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN 978-989-8833-35-8 | EAN 9789898833358

Edição: Outubro de 2018
Preço: 13,21 euros | PVP: 14 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 192




Na nossa família suicidamo-nos muito.

Nove anos antes deste acto incompreensível [o suicídio] — se o não aceitarmos como momento de um muito complexo desespero — René Crevel escreveu o seu terceiro romance e chamou-lhe A Morte Difícil; a morte que viria, anos mais tarde, a responder na vida real à mais nocturna face da sua condição de homem. E fê-lo com o seu surrealismo de vocação refreado até às exigências de uma grande clareza autobiográfica.
Crevel retrata-se aqui como um homossexual assombrado pela ameaça genética do pai louco e pelo comportamento de uma mãe cruel e frívola; dividido por verdadeiros desejos físicos e outros que uma ambígua relação feminina muito imperfeitamente disfarça; um jogo de bem calculada progressão no tom — o que fervilha num primeiro capítulo com humorísticas ironias e se esvai aos poucos pelas sombras de um estado físico e psicológico que se destina, em noite fria e num banco público, a acompanhar o desespero do seu fim.
Crevel receava, porém, que as exigências deste programa se cumprissem com excessiva exposição de realidades muito evidentes para os que mais de perto o rodeavam, e prejudicassem, incomodassem ou até envergonhassem os que eram modelos das suas personagens.
Que Madame Dumont-Dufour surgisse como inegável e talvez piorada versão da sua mãe burguesa, não era para Crevel um problema; [...] mas havia o caso de Arthur Bruggle, que era impossível não ser colado ao seu amante americano Eugene McCown (a quem chamavam Coconotte ou Eugénie), saído de Kansas City e que desembarcara na França em 1923 com vontade de se usar e desbaratar para vencer nos meios intelectuais e mundanos de Paris. McCown era pintor e pianista de jazz; pintor aceite por importantes galerias de Paris, jazzman com muito êxito nas sonoridades hip-hop que enfeitaram as noites do café Le Boeuf-sur-le-Toit. […]
Crevel acabou por mostrar o texto de A Morte Difícil a McCown; e, perante a desagradável reacção que ele provocou no retratado, decidiu-se a acrescentar-lhe o curto capítulo final, suavizador […].
[Aníbal Fernandes]

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