Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-568-027-6 | EAN 9789895680276
Edição: Maio de 2022
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 136
Charles Dantzig: «Ah! Se Beckett tivesse escrito algumas
palavras sobre Os Domingos de Jean Dézert, que porção de
teses e colóquios a seu respeito nós veríamos!»
Dir-se-á que um deus cruel comandou as balase as granadas da Primeira Grande Guerra Mundial (a de 1914,estendida
até 18) e via com desagrado os que então se iniciavam, a mostrar talentos na literatura daquela França metida numa guerra
contra os seus vizinhos alemães. Foi eficaz. Jovens escritores, com uma idade abaixo da que poderia mostrá-los no seu mais
alto ponto criativo, morreram. E se há nomes, entre os escolhidos por um qualquer Marte vingativo, que hoje menos nos
dizem — Ernest Psichari, Charles Péguy, Émile Clermont, Sylvain Royé, René Dalize, Louis dela Salle, Jean-Marc Bernard,
Robert d’Humières, Paul Drouot, Pierre Fons, Émile Desfax, Gérard
Mallet — terminaram outros a sua curta vida, deixando-nos uma obra
que perdurou. […] Mas esta guerra, maléfica para os da literatura, também se encarregou de outra morte, aqui a que mais nos interessa, a de
um jovem de vinte e oito anos de idade que se queria com invulgar nome
— Jean de la Ville de Mirmont — e foi poeta de versos e ficcionista de
textos curtos em prosa, todos os que foram reunidos neste volume.
[…]
Tenho em mim grandes e insatisfeitas partidas — disse Jean dela Ville
de Mirmont num verso de L’Horizon chimérique. O seu Jean Dézert partiu
para o mundo, insatisfeito, numa edição que muito baixo gritava, posta a
circular com discrição em 1914, nas vésperas da partida sem regresso do
seu autor-soldado quese dirigia, inocente, para a explosão de uma granada
alemã. Hoje, no cemitério protestante de Bordéus há um túmulo que
ignora o escritor e apenas se lembra, num muito danificado epitáfio, do
soldado: «Jean de la Ville de Mirmont, sargento do 57.º regimento de
infantaria, nascido em Bordéus em 2 de Dezembro de 1886, morto pela
França em 28 de Novembro de 1914 em Verneuil.»Túmulo abandonado,
ao que se diz num cemitério particular onde os poderes públicos de
Bordéus não podem intervir; e por isso num avançado estado de degradação;e com o sepultado já a preparar-se, talvez, para o destino comunitário
e anónimo da vala comum.
[Aníbal Fernandes]
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