Cagliostro
Vicente Huidobro
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
ISBN 978-989-8833-59-4 | EAN 9789898833594
Edição: Agosto de 2021
Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128
A leitura desta novela faz-nos compreender que houve uma adaptação do texto
cinematográfico à literatura. A sua acção é «visual» mas literária; e é improvável
que um guião pensado para o cinema mudo tivesse diálogos de página inteira,
que exigiriam sucessivos intertítulos com extensas interrupções da imagem e
que dariam um inevitável desequilíbrio do ritmo cinematográfico.
O primeiro texto de Cagliostro (escrito em francês) submetia-se à forma guionista dos argumentos para cinema, e Huidobro
chegou a contratar para o seu projecto um realizador romeno […] Houve, segundo se sabe, filmagens; e também se sabe
que este Cagliostro chegou em 1923 à fase de montagem, mas que Huidobro muito pouco lhe encontrou do caligarismo
formal, sonhado para a obra onde o seu nome aparecia como argumentista e produtor; e que o desentendimento entre
Huidobro e Mizu foi insanável. O filme nunca foi estreado e desconhece-se hoje o destino, provavelmente de chamas,
que Huidobro determinou ao seu frágil e combustível celulóide.
Ao guião de Cagliostro coube, no entanto, um singular prolongamento que se estendeu até uma glória e um posterior mau acaso. […] O
mau acaso veio a acontecer nesse mesmo ano porque O Cantor de Jazz,
um filme da Warner Brothers, inaugurava o cinema sonoro e punha de
repente na prateleira muitos projectos e actores só pensados para se mostrarem na tela sem voz, para se imporem na representação com essa
expressividade corporal intensa, característica do cinema mudo.
O imprestável guião, porque hostil à novidade sonora e visual do
cinema, foi convertido numa novela escrita em castelhano e publicada
em 1934 como «novela visual». A sua edição em inglês (Cagliostro, Mirror of a Mage) foi antecedida por esta explicação do autor: No que respeita à forma deste livro, só quero dizer que podemos chamar-lhe uma
novela visual, feita com uma técnica influenciada pelo cinema. Creio que
o actual público, já com hábito adquirido do cinema, conseguirá interessar-se por uma novela com palavras que o autor escolheu pelo seu carácter
visual e cenas idealizadas para serem compreendidas pelos olhos. […] A
construção das personagens deve ser agora mais sintética, mais compacta do
que era. A acção não pode ser lenta. Os acontecimentos devem movimentar-se com maior rapidez. Se assim não for, o público aborrece-se.
[Aníbal Fernandes]
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