quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Herbário Júlio Dinis — Filices

Herbário Júlio Dinis — Filices 
Júlio Dinis

Textos de Nuno Faria e José Tolentino Mendonça 

ISBN 978-989-9006-95-9 | EAN 9789899006959 

Edição: Agosto de 2021 
Preço: 33,02 euros | PVP: 35 euros 
Formato: 21,3 × 34 cm (encadernado) 
Número de páginas: 96 (a cores) 

Com o Museu da Cidade (Câmara Municipal do Porto)

José Tolentino Mendonça: «Esta Colecção dos Fetos, Equisetos e Lycopodios da Flora Madeirense é, naturalmente, um herbário, mas também é mais do que isso. 
Deve ser lido, para todos os efeitos, como um testamento.» 



Um abismo. O herbário é o memento mori de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, de Júlio Dinis. Espantar-nos-á sempre a emergência de objectos artísticos como este, na exacta medida em que sendo raros, escondidos, votados à escuridão, destinados a permanecerem ocultos, são-nos um dia revelados — fatalmente fora de tempo, já sem a mediação do seu autor — como uma aparição que consubstancia gestos secretos mas palpáveis. 
Fantasmagoria, objecto que releva quase da magia na forma como desafia as leis naturais e a passagem do tempo, feito pelas próprias mãos do escritor, do artista — sim, porque se trata de uma obra de artista e não de botânico —, as pranchas do Herbário de Júlio Dinis são o toque, o tacto que nos faltava na recepção da obra literária, aquilo que um livro não nos pode dar. Nesse sentido, e imaginando nós que se destinavam a desaparecer, constituem um milagre. 
[Nuno Faria] 

Lembro-me de que, por um período, Lourdes Castro repetia com frequência estes versos do poeta japonês Kobayashi Issa: «Nous marchons en ce monde / sur le toit de l’enfer / en regardant les fleurs». Olhar é uma especialidade de Lourdes Castro. E olhar as diferentes espécies botânicas tornou-se para ela uma espécie de escolha de vida, um pacto ético e espiritual de grande impacto, uma forma de caminhar, pensar e cartografar o mundo. Nas notas pessoais que acompanham o seu projecto intitulado Grand herbier d’ombres, além de descrever o modo como, num Verão do século XX, na Ilha da Madeira, decidiu fixarem papel heliográfico a variedade vegetal acessível à sua volta, explica-se assim: «sobretudo gosto de plantas, sempre vivi com elas, cuidei delas e vi-as crescer». Esta nota aparece datada de 1973. Numa outra que se lhe segue, datada de 2002, acrescenta ainda: «constantemente aprendo com elas». […] 
A resiliência para continuar, mesmo do telhado do inferno, a olhar as flores é uma extraordinária lição que Júlio Dinis deixa ao futuro. No epistolário madeirense desses que são os últimos anos da sua vida (o escritor viria a morrer, no Porto, em Setembro de 1871) refere-se com insistência à importância do reencontro com a natureza. 
[José Tolentino Mendonça]

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