ISBN 978-989-9006-99-7 | EAN 9789899006997
Edição: Agosto de 2021
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm (brochado)
Número de páginas: 176
Colecção Linhas de Fuga 17
A Ideia de comunismo é, conforme a metáfora de Marx, um espectro,
mas não no sentido de uma ilusão: antes um espectro vivo, duplo ou
fantasma revolucionário da intolerável realidade existente, por ela
segregado como o seu negativo sempre virtualmente presente.
Talvez um dia se quebrem as barreiras globais do medo e o sentimento de impotência e o comum descubra a vulnerabilidade da realidade sistémica que nos domina e dos poderes que asseguram essa realidade e afastam os homens do seu próprio
poder. Aguardamos esse dia com alegre pessimismo, mil vezes preferível ao optimismo triste dos esquerdistas que já só esperam um reformismo democrático ilimitado do sistema dominante.
Porquê escrever afinal sobre Marx, porquê permanecer marxista, quando o marxismo, ensombrado por conotações
históricas monstruosas, crepusculizou como filosofia e como ideologia? Porquê insistir na grandeza e, mais ainda, na actualidade de Marx? Desde a República de Platão que a filosofia como teoria política sempre foi inseparável de um projecto
revolucionário: em cada época a proposta de uma possibilidade política incompossível com a realidade da época, de uma
comunidade por vir impossível de acordo com o campo de possibilidades dessa realidade. Marx não criou o comunismo,
que o antecedeu de séculos, mas foi quem fez essa
Ideia descer do céu das utopias à vida histórica dos
homens e transformar-se no grande projecto revolucionário do mundo moderno, mostrando que o
capitalismo tinha trazido consigo as condições materiais (económicas e sociais) para essa transformação. E foi ele quem mostrou também porque é que
esse «espectro que ronda» há-de sempre vir, voltar,
regressar com esse nome ou outro, continuar a
rondar o real e o possível que o conjuram. E com
efeito, nestes tempos pré-apocalípticos como os
designa Žižek, torna-se cada vez mais evidente
que, «contra a ausência do homem no homem»
como diz o poeta, o comunismo é a única hipótese
do homem.
[Sousa Dias]
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